sexta-feira , 15 novembro , 2024

Crítica | Brasil S/A

 Evolução ou involução?

O cinema de Marcelo Pedroso sempre foi experimental, mesmo o documentário Pacific (2009) possui estranheza no formato, mas este Brasil S/A transcende o significado e aparece como o longa mais difícil de sua carreira. Trazendo tópicos que já debateu em títulos anteriores (o curta Em Trânsito (2013) pode ser o embrião), como homem versus máquina e a urbanização inumana, Pedroso realiza uma obra belíssima do ponto vista estético visual (cada plano poderia ser facilmente emoldurado) e narrativo. E, mesmo que algumas abordagens possam soar tolas se vistas isoladamente, quando juntas conferem uma forte mensagem consciente.

Isento de diálogos, desde o primeiro plano o filme se preocupa em falar através de imagens e até o fim utiliza o artificio do chamado Efeito Kuleshov. Logo de cara começamos a notar inúmeras alegorias, como a do tratamento despojado dado aos trabalhadores e a máxima segurança com os tratores.

009078_jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxx



Daí em diante o diretor segue esse esquema e vai empreendendo, um a um, os temas que julga nocivos para sociedade moderna. O caso das infindáveis construções civis, que excluem qualquer verde, a compra exacerbada de automóveis, gerando engarrafamentos quilométricos e o problema da era digital, que vem nos tornando mais alheios à vida real.

Em alguns momentos durante a exibição, vemos a bandeira brasileira (com o “Ordem e Progresso” excluído do meio) tremular sobre as edificações e empalidecer todos que estão em sua sombra. Mais uma óbvia metáfora que se completa ao final do longa, quando o estandarte toca o sol, mas as pessoas não conseguem enxergar, tanto que agora precisam de um binóculo. Aliás, tudo aqui são símbolos e, como a fita possui uma linguagem peculiar, certamente irá causar a rejeição de alguns espectadores. No entanto, só pela ousadia de Pedroso realizar algo tão incomum em solo brasileiro, o troço já merece destaque.

Texto originalmente publicado na cobertura do VII Janela Internacional de Cinema do Recife.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Isento de diálogos, desde o primeiro plano o filme se preocupa em falar através de imagens e até o fim utiliza o artificio do chamado Efeito Kuleshov. Logo de cara começamos a notar inúmeras alegorias, como a do tratamento despojado dado aos trabalhadores e a máxima segurança com os tratores.

009078_jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxx

Daí em diante o diretor segue esse esquema e vai empreendendo, um a um, os temas que julga nocivos para sociedade moderna. O caso das infindáveis construções civis, que excluem qualquer verde, a compra exacerbada de automóveis, gerando engarrafamentos quilométricos e o problema da era digital, que vem nos tornando mais alheios à vida real.

Em alguns momentos durante a exibição, vemos a bandeira brasileira (com o “Ordem e Progresso” excluído do meio) tremular sobre as edificações e empalidecer todos que estão em sua sombra. Mais uma óbvia metáfora que se completa ao final do longa, quando o estandarte toca o sol, mas as pessoas não conseguem enxergar, tanto que agora precisam de um binóculo. Aliás, tudo aqui são símbolos e, como a fita possui uma linguagem peculiar, certamente irá causar a rejeição de alguns espectadores. No entanto, só pela ousadia de Pedroso realizar algo tão incomum em solo brasileiro, o troço já merece destaque.

Texto originalmente publicado na cobertura do VII Janela Internacional de Cinema do Recife.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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