sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | ‘Brexit’ – A Manipulação dos Eleitores para fazer A Inglaterra Sair do Euro

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Talvez alguns de vocês não se lembrem direito, mas há três anos, no dia 23 de junho de 2016, o Reino Unido fez um plebiscito com sua população para consultar se eles eram favoráveis ou contra a saída da nação da União Europeia. Em uma disputa acirradíssima, a população decidiu que o melhor seria que o Reino Unido não fizesse mais parte do bloco econômico europeu. E, menos de três anos depois, fizeram um filme sobre isso.

Dominic Cummings (Benedict Cumberbatch, sim, o Dr. Estranho) é um articulador e especialista em marketing eleitoral, convocado para ajudar na campanha a favor da saída do Reino Unido da União Europeia. Ele é um sujeito mesquinho, arrogante, sem escrúpulos, que nos dá raiva desde a primeira cena. Mérito de Benedict, que além de estar quase careca, entrega ao público um protagonista bastante odioso.



O roteiro de James Graham é ágil e mordaz, porém, traz diálogos longuíssimos com muitas palavras, uma verdadeira verborragia que tonteia a quem assiste. É o tipo de filme que não dá para não prestar atenção, pois são tantos nomes, números e dados que, se piscar, você já perdeu alguma informação importante. Se por um lado isso demonstra a intensa pesquisa do roteirista, por outro proporciona personagens nem um pouco carismáticos e uma trama densa e arrastada.

A pouco mais de dois meses do plebiscito, a campanha encabeçada por Dominic adota o nome “Vote Para Sair” (Vote for Leave) e o slogan “Tenha o Controle De Volta(Take Back Control). Controle de quê? Do dinheiro, das leis e das fronteiras britânicas. A campanha sugere que o Reino Unido estaria enviando cerca de £350 milhões de libras por semana à UE e que a possibilidade da Turquia entrar no bloco econômico seria, portanto, uma ameaça. Sem entrar na delicada pauta da imigração, este grupo pretende convencer os eleitores indecisos a entenderem que tudo que eles perderam nos últimos anos – qualidade de vida, empregos, os filhos que tiveram que ir morar em outras cidades, etc – seria culpa da nação estar sustentando a zona de livre comércio.

Para atingir seus objetivos, Dom decide contratar uma empresa de análise de dados para gerar algoritmos que possibilitassem aproximar a campanha dos eleitores indecisos. Como? Através da internet. Combinando informações de predileções de modo que os posts e anúncios dramáticos na internet atingisse os perfis em dúvida, expondo aos eleitores as motivações distorcidas de uma realidade obscurecida pelo medo. Porque, afinal, as redes sociais acham melhor as pessoas do que as ligações telefônicas e panfletagem nas ruas.

Parece familiar? Sim, foi exatamente como as últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos foram vencida por quem está no poder hoje, e também foi como um determinado candidato venceu recentemente em um país sul-americano. Para a campanha a favor da permanência na UE, seus erros foram não terem se apossado da emissora de televisão local e não terem conquistado o apoio do exército. Realmente, parece que esse filme já foi visto…

Ao atingir o público diretamente em suas redes, a campanha apela para o coração das pessoas – o medo, o desejo, os sonhos –, instigando o terror de modo que, em pouco tempo, as pessoas utilizem esse medo como ferramenta. Aos poucos, o medo se torna ódio e o ódio vira violência. Como o filme bem aponta, é um gotejamento lento de medo e ódio, e essa influência começou muito antes, alimentando a cultura tóxica na qual ninguém confia em ninguém. Assim, chegamos aonde estamos hoje.

A população britânica votou a favor da saída da União Europeia, porém, três anos depois, a Primeira Ministra Theresa May ainda não conseguiu um acordo para oficializar a retirada do Reino Unido.

Aos interessados, a empresa de dados contratada na campanha é a Aggregate IQ, que trabalhou junto com a Cambridge Analytica. E como financiador, o mesmo Robert Mercer, doador da campanha presidencial norte-americana de 2016. Nada é por acaso.

Apesar do ritmo massacrante e das longas falas, ‘Brexit’ é um bom filme para aqueles que se interessam por política, e retrata um dos episódios mais importantes da década, que ainda não se concluiu. Disponível na HBO.

 

 

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Dominic Cummings (Benedict Cumberbatch, sim, o Dr. Estranho) é um articulador e especialista em marketing eleitoral, convocado para ajudar na campanha a favor da saída do Reino Unido da União Europeia. Ele é um sujeito mesquinho, arrogante, sem escrúpulos, que nos dá raiva desde a primeira cena. Mérito de Benedict, que além de estar quase careca, entrega ao público um protagonista bastante odioso.

O roteiro de James Graham é ágil e mordaz, porém, traz diálogos longuíssimos com muitas palavras, uma verdadeira verborragia que tonteia a quem assiste. É o tipo de filme que não dá para não prestar atenção, pois são tantos nomes, números e dados que, se piscar, você já perdeu alguma informação importante. Se por um lado isso demonstra a intensa pesquisa do roteirista, por outro proporciona personagens nem um pouco carismáticos e uma trama densa e arrastada.

A pouco mais de dois meses do plebiscito, a campanha encabeçada por Dominic adota o nome “Vote Para Sair” (Vote for Leave) e o slogan “Tenha o Controle De Volta(Take Back Control). Controle de quê? Do dinheiro, das leis e das fronteiras britânicas. A campanha sugere que o Reino Unido estaria enviando cerca de £350 milhões de libras por semana à UE e que a possibilidade da Turquia entrar no bloco econômico seria, portanto, uma ameaça. Sem entrar na delicada pauta da imigração, este grupo pretende convencer os eleitores indecisos a entenderem que tudo que eles perderam nos últimos anos – qualidade de vida, empregos, os filhos que tiveram que ir morar em outras cidades, etc – seria culpa da nação estar sustentando a zona de livre comércio.

Para atingir seus objetivos, Dom decide contratar uma empresa de análise de dados para gerar algoritmos que possibilitassem aproximar a campanha dos eleitores indecisos. Como? Através da internet. Combinando informações de predileções de modo que os posts e anúncios dramáticos na internet atingisse os perfis em dúvida, expondo aos eleitores as motivações distorcidas de uma realidade obscurecida pelo medo. Porque, afinal, as redes sociais acham melhor as pessoas do que as ligações telefônicas e panfletagem nas ruas.

Parece familiar? Sim, foi exatamente como as últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos foram vencida por quem está no poder hoje, e também foi como um determinado candidato venceu recentemente em um país sul-americano. Para a campanha a favor da permanência na UE, seus erros foram não terem se apossado da emissora de televisão local e não terem conquistado o apoio do exército. Realmente, parece que esse filme já foi visto…

Ao atingir o público diretamente em suas redes, a campanha apela para o coração das pessoas – o medo, o desejo, os sonhos –, instigando o terror de modo que, em pouco tempo, as pessoas utilizem esse medo como ferramenta. Aos poucos, o medo se torna ódio e o ódio vira violência. Como o filme bem aponta, é um gotejamento lento de medo e ódio, e essa influência começou muito antes, alimentando a cultura tóxica na qual ninguém confia em ninguém. Assim, chegamos aonde estamos hoje.

A população britânica votou a favor da saída da União Europeia, porém, três anos depois, a Primeira Ministra Theresa May ainda não conseguiu um acordo para oficializar a retirada do Reino Unido.

Aos interessados, a empresa de dados contratada na campanha é a Aggregate IQ, que trabalhou junto com a Cambridge Analytica. E como financiador, o mesmo Robert Mercer, doador da campanha presidencial norte-americana de 2016. Nada é por acaso.

Apesar do ritmo massacrante e das longas falas, ‘Brexit’ é um bom filme para aqueles que se interessam por política, e retrata um dos episódios mais importantes da década, que ainda não se concluiu. Disponível na HBO.

 

 

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