Filme visto no Festival do Rio 2022.
O cinema francês tem um quê de especial. Muitos dos filmes que chegam para nós, espectadores brasileiros, trazem histórias algumas vezes sem sentido para a nossa cultura, ou cuja construção não aparenta seguir a lógica comum da narrativa cinematográfica à qual estamos acostumados. É o estilo daquele país, cujos filmes de comédia, por exemplo, costumam possuir um estilo de humor bem típico, que muitas vezes não fazem rir ou causam estranheza por aqui. Essa é a beleza da diversidade narrativa, de se ter um cinema que exiba todo tipo de filme, a todos os tipos de espectadores, e a importância de ter esses valores guiando a seleção dos longas exibidos no Festival do Rio este ano, no qual o drama francês ‘Briga Entre Irmãos’ fez sua estreia em nosso território e já anuncia para em breve sua estreia na plataforma da MUBI.
Joseph (Max Baissette de Malglaive) e Marie-Louise Vuillard (Nicolette Picheral) são um casal de idosos que, voltando pela estrada de carro, percebem um carro parado no acostamento com uma jovem ferida. Tentando ajudá-la, os dois acabam também sofrendo um acidente, e isso faz com que seus filhos tenham que se reunir no hospital para cuidar deles. O problema é que Alice (Marion Cotillard) é uma famosa atriz de teatro que acaba de estrear uma peça na cidade, mas, na vida real, ela tem uma briga antiga com o irmão mais velho, Louis (Melvil Poupaud), escritor de livros que, dentre outras coisas, usa o nome de Alice em sua personagem. Os dois não se falam desde que ainda eram jovens, e não se encontram pessoalmente desde então. Porém, o acidente de carro dos pais forçará a convivência entre eles, o que não necessariamente pode ser uma boa ideia.
Em uma hora e cinquenta de duração, ‘Briga Entre Irmãos’ foi aplaudido de pé por longos cinco minutos após sua exibição no Festival de Cannes. Entretanto, a sensação que se tem é que o longa de Arnaud Desplechin faz um recorte sobre um período da vida dessa família sem exatamente contar muita coisa do que veio antes e muito menos sinaliza sobre o depois. Essa estrutura, comum no cinema francês, deixa um sabor meio chuchu na boca do espectador, pois o roteiro, também escrito por Arnaud, alterna seu foco entre a irmã Alice e o irmão Louis, centrando a maioria das cenas nela. O longa se desenvolve a partir da percepção de cada um sobre a tal briga, e o consequente rancor, mas não exatamente conta, ou sequer desenvolve, o motivo da tal briga. No final, o motivo do afastamento entre ambos é tão trivial, que frustra.
É bem verdade que Marion Cotillard está muito bem no papel, muito porque reproduz uma atriz que precisa segurar suas emoções para manter as apresentações da peça enquanto sua vida particular desmorona. ‘Briga Entre Irmãos’ é uma Marion dando banho de atuação. É só uma pena que a história do longa não ajude a elevar sua personagem, nem conduza o espectador a saborear o enredo.