Há um ditado que diz que família é aquela que escolhemos, não aquela na qual nascemos. E, ao longo das nossas vidas, nós vamos encontrando pessoas com as quais algumas nos tornamos amigos, com outras, nos distanciamos. O tempo das relações é algo incontrolável, e por mais que muitas vezes nos doa, nem sempre todas as pessoas que conhecemos serão para sempre. É a jornada que torna tudo tão belo. Assim, as relações interpessoais são o tema do belíssimo drama ‘Broker: Uma Nova Chance’, que entre cartaz essa semana no circuito nacional.
Numa noite fria e chuvosa uma jovem mulher (Ji-eun Lee) decide abandonar um bebê na porta de um lar de acolhimento. Ela não sabia, mas seus movimentos estavam sendo observados por um par de policiais (Bae Donna, de ‘Sense 8’, e Lee Joo-young) que investigavam o local devido a uma suspeita de que funcionários do estabelecimento (Song Kang-ho, de ‘Parasita‘, e Gang Dong-won) estariam, na verdade, traficando e vendendo bebês. Quando a jovem mãe decide retornar ao local, arrependida de seus gestos, e buscar o seu bebê novamente, a vida de todos esses personagens começa a se entrelaçar de maneira inesperada.
O que mais impressiona ao final de ‘Broker: Uma Nova Chance’ é analisarmos que, na prática, o filme tem uma história muito simples, e ainda por cima consegue fazer uma crítica social sem que esse ponto seja o seu principal tema. Partindo da atitude da jovem mãe, o roteiro aborda a questão do tráfico humano de bebês – uma realidade muito comum em países asiáticos e também latino-americanos, mas pouco falada e menos ainda abordada na sétima arte. Um pouco das consequências desse ato já foi visto em ‘Lion: Uma Jornada Para Casa’, mas em ‘Broker: Uma Nova Chance’ não vemos tanto o depois, e sim o durante: sem levantar julgamentos, o roteiro de Kore-eda Hirokazu vai introduzindo os personagens, todos cheios de falhas, mas sem julgá-los por suas atitudes. É um filme sobre pessoas humanas, que, apesar de fazerem coisas erradas, não são más pessoas, e todas acreditam estarem fazendo o bem, ainda que os meios para tal sejam tortos e questionáveis. Tudo isso construído, incrivelmente, em uma atmosfera leve.
É aí que entra a beleza do filme do diretor japonês Kore-eda Hirokazu, também roteirista do longa, pois não é o enredo que vai julgar as ações dos personagens mas sim o espectador: quem vê o filme pode tanto achar que essas pessoas são desprezíveis e cínicas quanto olhá-las de maneira menos acusatória, deixando se embalar pelas justificativas apresentadas pelos próprios protagonistas.
Para realização dessa história o filme se configura como um road movie enquanto esses personagens de índoles aleatórias atravessam a Coreia do Sul em um carro capenga em busca de um novo comprador para o bebê. ‘Broker: Uma Nova Chance’ é um filme sensível e emocionante – que dava para ser feito em um pouquinho menos de duas horas, é verdade – mas essa também parece ser uma característica do atual cinema sul-coreano. Envolvente, é um filme para ver, refletir e se emocionar.