domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Caçadora de Gigantes – Adaptação de HQ emociona com fantasia x realidade

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Dizem que a infância é o período em que somos mais leves e felizes pelo fato de não termos tanta noção assim da realidade – ou, ao menos, ser mais fácil camuflar os problemas com toda a magia existente nela. Em Caçadora de Gigantes – adaptação da HQ escrita por Joe Kelly, que chegou por aqui direto em vídeo -, essa é justamente a principal premissa: para escapar dos problemas que enfrenta na escola e na família, a protagonista Barbara Thorson (vivida pela ótima Madison Wolfe) prefere criar um mundo onde seu maior desafio é duelar com titãs e gigantes em vez de enfrentar os dilemas de seu mundo real.

Dirigido por Anders Walter e comparado por muitos com o elogiado Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2016) – onde o protagonista consegue escapar de sua dura realidade através de um sonho rotineiro com uma árvore gigante que compartilha histórias -, I Kill Giants (no título original) também recorre a simbolismos para trabalhar com a fuga do real. Assim, ainda que comece parecendo apenas mais um filme de fantasia juvenil, ele cresce ao longo de seus 106 minutos de duração por trazer questões muito mais profundas do que parecia querer propor inicialmente. Tendo como apoio o jogo Dungeons & Dragons – onde Barbara Thorson se esconde – , o longa aparece como um bom exemplar de coming of age por tratar sobre as transformações, medos e dúvidas presentes nessa fase da vida, fazendo uso de símbolos inteligentes e sensíveis.



Com uma protagonista que foge de padrões e não segue o que é considerado “normal” pela maioria – a ponto de usar até uma tiara de orelhas de coelho para todo o canto -, o filme também consegue abordar a questão do bullying. No entanto, este mesmo jeito destemido que Barbara tem para enfrentar os dragões de seu mundo de fantasia também se sobressai entre os muros do colégio – e a menina, forte e segura de si, apesar de todos os seus problemas pessoais, não abaixa a cabeça para ninguém. Como aliada, ela tem sua única amiga Sophia (Sydney Wade) e Sra. Mollé, a terapeuta da escola (vivida por ninguém menos que Zoe Saldana). Esta última, inclusive, se destaca por tentar ajudar a nossa heroína com seus conflitos sem desmerecer ou duvidar de seu mundo de fantasias, funcionando assim como o principal elo para que ela tente enfrentar seus problemas reais em vez de se esconder apenas na ideia de que sua função no mundo é matar gigantes.

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Vale dizer que a diferenciação dos monstros feita pela personagem de Madison Wolfe também funciona como uma metáfora para o que realmente está por vir no âmbito real. Segundo ela, os gigantes roubam tudo o que a pessoa possui, enquanto os titãs, ainda mais perigosos, fazem com que o sol nem consiga brilhar mais – o que se encaixa perfeitamente como uma comparação do que ela tinha a perder (que não falo aqui para evitar spoilers) e a tristeza profunda que viria como consequência e até poderia fazer com que ela desistisse de lutar (como aparece em um dos momentos mais tocantes do longa, já perto da reta final). Transferindo para a realidade, onde os tais gigantes e titãs podem ser muito mais assustadores, I Kill Giants propõe uma bonita reflexão sobre adversidades que podem resultar até mesmo em depressões profundas (onde o “sol não brilha”).

Em meio a tantas discussões sobre feminismo no cenário atual, outro mérito do filme é o fato de contar com personagens fortes, cada uma a seu modo, na história. Além de Barbara, da melhor amiga e da já elogiada psicóloga vivida por Zoe Saldana, vale destacar a força da irmã da protagonista – Karen, interpretada por Imogen Poots. Ocupando o lugar que seria da mãe, a jovem se esforça para cuidar da casa, dos irmãos mais novos e para não esmorecer enquanto também precisa lidar com seus fantasmas pessoais. Com questões de representatividade cada vez mais urgentes, a HQ e sua adaptação ganham pontos por trazerem isto à tona em uma produção voltada para o público infanto-juvenil. Nunca é cedo demais para inspirar mulheres, e Caçadora de Gigantes exerce muito bem este papel aqui.

Mas, mesmo com tantos lados positivos, a previsibilidade de alguns plots e o ritmo um pouco lento durante o desenvolvimento da trama podem incomodar quem espera uma fantasia mais inovadora e com aventuras incessantes do início ao fim. No entanto, ainda que esteja longe da perfeição, o longa que tem os mesmos produtores do fenômeno Harry Potter ganha força por nos apresentar o que tinha tudo para ser apenas uma história clichê com uma dose extra de sensibilidade, uma fotografia que nos transporta para o mundo de fantasia e uma protagonista para inspirar. No fim das contas, também ultrapassando a barreira de ficção e realidade, nos sentimos fortes e – quem sabe? – até mais renovados para enfrentar os gigantes da vida real.

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Dizem que a infância é o período em que somos mais leves e felizes pelo fato de não termos tanta noção assim da realidade – ou, ao menos, ser mais fácil camuflar os problemas com toda a magia existente nela. Em Caçadora de Gigantes – adaptação da HQ escrita por Joe Kelly, que chegou por aqui direto em vídeo -, essa é justamente a principal premissa: para escapar dos problemas que enfrenta na escola e na família, a protagonista Barbara Thorson (vivida pela ótima Madison Wolfe) prefere criar um mundo onde seu maior desafio é duelar com titãs e gigantes em vez de enfrentar os dilemas de seu mundo real.

Dirigido por Anders Walter e comparado por muitos com o elogiado Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2016) – onde o protagonista consegue escapar de sua dura realidade através de um sonho rotineiro com uma árvore gigante que compartilha histórias -, I Kill Giants (no título original) também recorre a simbolismos para trabalhar com a fuga do real. Assim, ainda que comece parecendo apenas mais um filme de fantasia juvenil, ele cresce ao longo de seus 106 minutos de duração por trazer questões muito mais profundas do que parecia querer propor inicialmente. Tendo como apoio o jogo Dungeons & Dragons – onde Barbara Thorson se esconde – , o longa aparece como um bom exemplar de coming of age por tratar sobre as transformações, medos e dúvidas presentes nessa fase da vida, fazendo uso de símbolos inteligentes e sensíveis.

Com uma protagonista que foge de padrões e não segue o que é considerado “normal” pela maioria – a ponto de usar até uma tiara de orelhas de coelho para todo o canto -, o filme também consegue abordar a questão do bullying. No entanto, este mesmo jeito destemido que Barbara tem para enfrentar os dragões de seu mundo de fantasia também se sobressai entre os muros do colégio – e a menina, forte e segura de si, apesar de todos os seus problemas pessoais, não abaixa a cabeça para ninguém. Como aliada, ela tem sua única amiga Sophia (Sydney Wade) e Sra. Mollé, a terapeuta da escola (vivida por ninguém menos que Zoe Saldana). Esta última, inclusive, se destaca por tentar ajudar a nossa heroína com seus conflitos sem desmerecer ou duvidar de seu mundo de fantasias, funcionando assim como o principal elo para que ela tente enfrentar seus problemas reais em vez de se esconder apenas na ideia de que sua função no mundo é matar gigantes.

Vale dizer que a diferenciação dos monstros feita pela personagem de Madison Wolfe também funciona como uma metáfora para o que realmente está por vir no âmbito real. Segundo ela, os gigantes roubam tudo o que a pessoa possui, enquanto os titãs, ainda mais perigosos, fazem com que o sol nem consiga brilhar mais – o que se encaixa perfeitamente como uma comparação do que ela tinha a perder (que não falo aqui para evitar spoilers) e a tristeza profunda que viria como consequência e até poderia fazer com que ela desistisse de lutar (como aparece em um dos momentos mais tocantes do longa, já perto da reta final). Transferindo para a realidade, onde os tais gigantes e titãs podem ser muito mais assustadores, I Kill Giants propõe uma bonita reflexão sobre adversidades que podem resultar até mesmo em depressões profundas (onde o “sol não brilha”).

Em meio a tantas discussões sobre feminismo no cenário atual, outro mérito do filme é o fato de contar com personagens fortes, cada uma a seu modo, na história. Além de Barbara, da melhor amiga e da já elogiada psicóloga vivida por Zoe Saldana, vale destacar a força da irmã da protagonista – Karen, interpretada por Imogen Poots. Ocupando o lugar que seria da mãe, a jovem se esforça para cuidar da casa, dos irmãos mais novos e para não esmorecer enquanto também precisa lidar com seus fantasmas pessoais. Com questões de representatividade cada vez mais urgentes, a HQ e sua adaptação ganham pontos por trazerem isto à tona em uma produção voltada para o público infanto-juvenil. Nunca é cedo demais para inspirar mulheres, e Caçadora de Gigantes exerce muito bem este papel aqui.

Mas, mesmo com tantos lados positivos, a previsibilidade de alguns plots e o ritmo um pouco lento durante o desenvolvimento da trama podem incomodar quem espera uma fantasia mais inovadora e com aventuras incessantes do início ao fim. No entanto, ainda que esteja longe da perfeição, o longa que tem os mesmos produtores do fenômeno Harry Potter ganha força por nos apresentar o que tinha tudo para ser apenas uma história clichê com uma dose extra de sensibilidade, uma fotografia que nos transporta para o mundo de fantasia e uma protagonista para inspirar. No fim das contas, também ultrapassando a barreira de ficção e realidade, nos sentimos fortes e – quem sabe? – até mais renovados para enfrentar os gigantes da vida real.

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