Cameron Diaz e Jamie Foxx são dois dos astros mais populares do cinema contemporâneo, tendo encarnado diversos personagens que marcaram época e caíram no gosto popular. Porém, nos últimos anos, ambos os atores passaram por inúmeros problemas pessoais e de saúde, afastando-os do cenário do entretenimento: Foxx sofreu um infarto que o levou a ficar hospitalizado por meses, enquanto Diaz afastou-se do show business por uma década para focar em si própria. Agora, unindo forças com a Netflix, a dupla retorna em ótima forma para a divertida e despretensiosa comédia de ação ‘De Volta à Ação’, que chegou hoje, 17 de janeiro, à plataforma de streaming.
A trama acompanha Emily (Diaz) e Matt (Foxx), dois espiões da CIA que se veem caçados por mercenários poderosos e membros da máfia russa que querem colocar a mão em uma arma cibernética poderosa que eles roubaram. Após um acidente de avião, eles encontram uma brecha para se livrarem da perseguição ao fingirem que morreram, abandonar a perigosa vida como agentes secretos e poderem se dedicar ao cotidiano suburbano conforme constroem uma família. Quinze anos depois, Emily e Matt se casam e têm dois filhos, mantendo-se em paz e longe dos inimigos; porém, as coisas não permanecem tranquilas por muito tempo: um antigo amigo, Chuck (Kyle Chandler), consegue encontrá-los e diz que eles correm perigo por ainda possuírem a arma em questão.
Como bem podemos imaginar, Emily e Matt correm contra o tempo e levam consigo os filhos Alice (McKenna Roberts) e Leo (Rylan Jackson) em uma viagem que cruza os oceanos e culmina em Londres, onde a mãe da nossa protagonista, Ginny (Glenn Close), também uma ex-espiã, passa os dias em sua incrível mansão ao lado do atrapalhado Nigel (Jamie Demetriou) sem ter qualquer ciência de que o dispositivo está escondido nas fortificadas paredes de sua casa – e, até que eles entreguem-no para as certas pessoas, todos correm risco de vida, incluindo de agentes duplos que pretendem vendê-lo no mercado clandestino e garantir as chances de múltiplos ataques terroristas que colocarão o mundo no mais puro caos.
Conhecido por seu trabalho em ‘Baywatch’ e ‘Quero Matar Meu Chefe’, Seth Gordon fica a encargo do projeto – e, visto que ele tem uma predileção considerável por elementos de comédia, é exatamente isso que ele entrega com ‘De Volta à Ação’. O dúbio título, que faz menção tanto aos personagens principais da trama quanto ao retorno de Diaz e Foxx ao cenário audiovisual, já nos dá uma palhinha do que esperar; é claro que, considerando o escopo do longa-metragem, não há qualquer desejo de trazer originalidade a um gênero que já foi remodelado inúmeras vezes nas telonas e nas telinhas (como o ótimo ‘A Espião que Sabia de Menos’, por exemplo), e sim deixar que dois carismáticos atores se divirtam o máximo que puderem com seus papéis.
Assim, o aspecto de maior sucesso do longa não é a formulaica narrativa ou os inúmeros convencionalismos de gênero que se desenrolam ao longo de quase duas horas, mas sim a imbatível química dos protagonistas que navegam pelas atribulações de um remoto passado que insiste em voltar para acertar as contas e pelo conturbado relacionamento com dois filhos adolescentes que desconhecem suas verdadeiras identidades. E, enquanto Diaz e Foxx despontam com performances bastante sólidas, mesmo para um projeto despojado e descompromissado, o restante do elenco faz um trabalho bem-vindo, com destaque a Close e a Demetriou, que trazem mais alguns elementos cômicos a essa estruturação bastante familiar.
De fato, nossos olhares se direcionam imediatamente ao comprometimento dos atores e das atrizes – e não há muito mais para se ver por aqui. Cada um dos outros elementos é tirado de inúmeras obras similares e melhores, convergindo para uma amálgama de peças que se encaixam com obviedade previsível, como se cada movimento pudesse ser descoberto pelos espectadores. Para além da incontestabilidade de um roteiro recheado de clichês, assinado por Gordon e Brendan O’Brien, temos a sobriedade da nada inspirada fotografia de Ken Seng, os costumeiros arranjos musicais de Christopher Lennertz para a trilha sonora e a frenética montagem de Peter S. Elliot que reiteram essa confortável colcha de retalhos que peca pela falta de ambição, mas tem ciência de seus limites.
‘De Volta à Ação’ soa igual a qualquer outro filme do gênero lançado pela Netflix nas últimas duas décadas – entretanto, aqui, isso não é um problema. Ao abraçar os clichês a fim de construir o mais puro dos entretenimentos ao se desvincular da necessidade de trazer algo novo ou impactante, há espaço de sobra para que seus astros façam o que sabem de melhor em uma envolvente jornada de espionagem para se ver num dia de folga.