O câncer é uma das doenças que mais acometem as pessoas, e uma das incuráveis. Ainda que a ciência e o tratamento avancem em muitos aspectos, há modalidades dessa doença que ainda não encontrou a cura. Independentemente de onde ele afete, o câncer, para além da doença, traz, ainda, desafios maiores às mulheres, principalmente àquelas que são chefe de família e/ou cuidam de outros familiares. Neste recorte, para além de lutar e tentar vencer a doença, as mulheres ainda precisam conversar mais abertamente sobre a importância do autocuidado, da prevenção e do tratamento desde o primeiro momento, e, como uma importante ferramenta para acrescentar nesse movimento, o longa ‘Câncer Com Ascendente em Virgem’ teve sua primeira exibição mundial no Festival do Rio 2024, seguida de duas exibições na 48a Mostra de Cinema de São Paulo.
Clara (Suzana Pires, de ‘O Anel de Eva’) é uma mãe solo que adora fazer aula de dança e tem uma vida superativa em seu canal, onde dá dicas de reforço de matemática, até que, um dia, é diagnosticada com câncer de mama. Num primeiro momento ela fica assustada, claro, e com medo de contar para sua filha, Alice (Nathália Costa), e para sua mãe, Leda (Marieta Severo, de ‘A Grande Família: O Filme’). Porém, com o passar dos dias, ela encontra no tratamento uma boa amiga, Dircinha (Fabiana Karla, de ‘De Repente, Miss’), que mostra para ela que pior do que a doença é ter que lidar com tudo sozinha, assim, aos poucos, Clara vai entendendo a importância de se ter uma rede de apoio para lhe dar forças para atravessar o tratamento e vencer o câncer.
Inspirado no blog que a produtora Clélia Bessa criou quando foi ela mesma diagnosticada com câncer de mama, o longa surpreende em muitos os sentidos – e todos positivamente. Com uma roupagem que dá a entender que se trata de uma comédia sessão da tarde (devido aos planos não tão fechados, ao ambiente solar, às cores fortes da produção de arte), ‘Câncer Com Ascendente em Virgem’ consegue abordar o tema pesado de uma doença barra-pesada, mas o faz com leveza, trazendo, assim, uma leitura diferenciada do que muitas produções optam por retratar.
O roteiro da própria Suzana Pires com Martha Mendonça e Pedro Reinato opta por em vez de focar na doença, focar na vida, em como conviver com ela e ter forças no dia a dia. Não é sobre diminuir a importância do câncer, é sobre escolher viver e escolher ter dias melhores apesar do câncer. Essa pequena mudança de atitude faz com que o roteiro seja uma centelha de chama que vai crescendo e crescendo até que, quando o espectador menos espera, a carga emocional transborda e a gente se pega chorando litros e mais litros.
Com atuações fenomenais da corajosa Suzana Pires, que encabeçou o projeto de corpo e alma, de Fabiana Karla (maravilhosa num papel dramático pouco usual em sua carreira) e da sempre ótima Marieta Severo (o alívio de todas as cenas, natural e hilária tal qual uma avó ou uma mãe), a direção de Rosane Svartman comprova que um ciclo de apoio feminino possibilita que todas as mulheres brilhem juntas, coletivamente, criando uma sintonia entre elenco, produção e equipe que é rara de se ver no cinema.
Lindo, sensível e emocionante, ‘Câncer Com Ascendente em Virgem’ mistura drama e comédia e dialoga com as mulheres para que se olhem e se cuidem mais. O filme de que precisávamos para diminuir a mortandade feminil por falta de cuidados precoces. Com primeiras sessões no outubro rosa, ‘Câncer Com Ascendente em Virgem’ estreia nos cinemas em março de 2025, no mês das mulheres. Imperdível!