quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Cansativo e sem identidade, ‘143’ é um dos álbuns mais decepcionantes de Katy Perry

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Houve um tempo em que Katy Perry era sinônimo do mais puro sucesso. Se pensarmos em eras como ‘One of the Boys’, ‘Teenage Dream’ e ‘Prism’, Perry possuía um tato inigualável para construir músicas pop que viralizaram mundo afora e a reiteravam como uma das grandes estrelas da música contemporânea – ora, não é surpresa que ela tenha sido a única artista além de Michael Jackson a ter conquistado o Spotlight Award. Em ‘Witness’, Katy resolveu se arriscar e começou a desfrutar de um inexplicável boicote – ainda mais considerando que o álbum é sólido o suficiente para encantar os ouvintes -, mantendo-se em um limbo criativo que estendeu-se para o bizarro Smile.

Agora, Perry retorna ao cenário fonográfico quatro anos depois de sua última investida com o antecipado 143. O título, fazendo referência à frase “I love you” e ao “número angelical” da artista, foi promovido com um total de três singles, a infusão EDM de “Woman’s World”, a pulsão house noventista de “Lifetimes” e o inexplicável trap-R&B de “I’m His, He’s Mine”, colaborando com a rapper Doechii. E, com o lançamento do compilado de originais, é notável que Perry permanece desesperada para se manter relevante no escopo show business através de breves 33 minutos que explodem em um vórtice de construções genéricas e imediatamente esquecíveis.



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Com as duas primeiras faixas promocionais, Katy revelou estar par a par com sua conhecida estética despojada e, apesar das críticas negativas, entregou exatamente o que esperávamos de uma performer como ela: incursões pautadas em uma arquitetura mainstream, movidas por batidas bem demarcadas e comprometidas com uma identidade indesculpável e escapista – tal qual ela já nos mostrara com álbuns mais antigos. E, com infortúnio frustrante, a cantora e compositora já havia nos apresentado o melhor antes mesmo do lançamento do álbum, resolvendo se unir com um time grandioso de produtores para uma jornada formulaica e sem qualquer originalidade, atirando para todos os lados a fim de recuperar as glórias de um tempo que não mais voltará.

Para além dos singles supracitados, Katy colaborou com nomes com 21 Savage, Kim Petras e JID em prol de manter-se atenta aos nomes que dominam o cenário atual da música. De um lado, “Gimme Gimme” nos apresenta a um trap-pop deslocado da ideia do álbum, emergindo como uma track solta e pensada de última hora; “Gorgeous” busca elementos do PC Music e do pop industrial que eternizaram a carreira de Petras, puxando elementos de ‘Slut Pop’ em uma ininteligível mixórdia de pouco mais de três minutos cujo ápice é destinado à artista convidada do que à principal; e “Artificial”, apesar do promissor início, é infundido com uma atmosfera electro-deep que, de maneira estranha, tenta emular as progressões de ‘Teenage Dream’ e culmina em um fracasso retumbante que, de novo, deixa o melhor para JID.

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Apesar dos múltiplos e constantes deslizes, é notável como o disco possui pontuais ápices que nos chamam a atenção: “Crush”, a quinta faixa do álbum, é uma imersiva construção de electro-pop e dance-pop que traz o melhor da carreira de Perry aos holofotes, apostando fichas em uma dançante e sensual construção sonora (cortesia do trabalho em conjunto de Dr. Luke, Ryan Ogren e Kalani Thompson) que entrega exatamente o que queremos em um atemporal refrão e versos prontos para as pistas de dança; “Nirvana”, por sua vez, deixa espaço para que a artista se divirta com entregas vocais sólidas, pegando páginas emprestadas do trabalho de Arnthor Birgisson e Rami Yacoub (nomes por trás da ótima “Double Trouble”) e rendendo-se a uma conjunção enervante e sinestésica do electro-deep e do techno para discorrer sobre um amor tão forte que é capaz de levá-la a um estado espiritual de plenitude completa.

É notável como os melhores momentos do disco ganham os ouvintes quando não se levam a sério: apesar da fraca recepção dos singles, como mencionado nos parágrafos acima, não há qualquer elemento dentro dessas canções que mostre que Perry deseje “reinventar a roda” ou apresentar um elemento novo à música pop – e sim trazer passado e presente em um mesmo lugar. Algo similar acontece nos supracitados ápices do álbum – mas, quando Katy resolve dar um passo maior do que a perna, tudo desanda e culmina em uma desastrosa tentativa conceitual que não combina com sua estética performática e nem mesmo com os nomes envolvidos na construção do disco (ainda mais levando em consideração que Dr. Luke e Max Martin, por exemplo, sempre estiveram atados a produções puramente mercadológicas).

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143 carregava consigo todos os ingredientes certos para se sagrar um dos melhores álbuns de Katy Perry – mas, desde as polêmicas envolvendo a gestação da obra, passando por duvidosas escolhas artísticas e estacionando em um compilado nada coeso de impulsividades cruas, o resultado é, sem mais delongas, frustrante e decepcionante.

Nota por faixa:

1. Woman’s World – 3,5/5
2. Gimme Gimme (feat. 21 Savage) – 1/5
3. Gorgeous (feat. Kim Petras) – 0,5/5
4. I’m His, He’s Mine (feat. Doechii) – 1/5
5. Crush – 5/5
6. Lifetimes – 4/5
7. All the Love – 3,5/5
8. Nirvana – 4/5
9. Artificial (feat. JID) – 1/5
10. Truth – 1,5/5
11. Wonder – 0,5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Agora, Perry retorna ao cenário fonográfico quatro anos depois de sua última investida com o antecipado 143. O título, fazendo referência à frase “I love you” e ao “número angelical” da artista, foi promovido com um total de três singles, a infusão EDM de “Woman’s World”, a pulsão house noventista de “Lifetimes” e o inexplicável trap-R&B de “I’m His, He’s Mine”, colaborando com a rapper Doechii. E, com o lançamento do compilado de originais, é notável que Perry permanece desesperada para se manter relevante no escopo show business através de breves 33 minutos que explodem em um vórtice de construções genéricas e imediatamente esquecíveis.

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Com as duas primeiras faixas promocionais, Katy revelou estar par a par com sua conhecida estética despojada e, apesar das críticas negativas, entregou exatamente o que esperávamos de uma performer como ela: incursões pautadas em uma arquitetura mainstream, movidas por batidas bem demarcadas e comprometidas com uma identidade indesculpável e escapista – tal qual ela já nos mostrara com álbuns mais antigos. E, com infortúnio frustrante, a cantora e compositora já havia nos apresentado o melhor antes mesmo do lançamento do álbum, resolvendo se unir com um time grandioso de produtores para uma jornada formulaica e sem qualquer originalidade, atirando para todos os lados a fim de recuperar as glórias de um tempo que não mais voltará.

Para além dos singles supracitados, Katy colaborou com nomes com 21 Savage, Kim Petras e JID em prol de manter-se atenta aos nomes que dominam o cenário atual da música. De um lado, “Gimme Gimme” nos apresenta a um trap-pop deslocado da ideia do álbum, emergindo como uma track solta e pensada de última hora; “Gorgeous” busca elementos do PC Music e do pop industrial que eternizaram a carreira de Petras, puxando elementos de ‘Slut Pop’ em uma ininteligível mixórdia de pouco mais de três minutos cujo ápice é destinado à artista convidada do que à principal; e “Artificial”, apesar do promissor início, é infundido com uma atmosfera electro-deep que, de maneira estranha, tenta emular as progressões de ‘Teenage Dream’ e culmina em um fracasso retumbante que, de novo, deixa o melhor para JID.

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Apesar dos múltiplos e constantes deslizes, é notável como o disco possui pontuais ápices que nos chamam a atenção: “Crush”, a quinta faixa do álbum, é uma imersiva construção de electro-pop e dance-pop que traz o melhor da carreira de Perry aos holofotes, apostando fichas em uma dançante e sensual construção sonora (cortesia do trabalho em conjunto de Dr. Luke, Ryan Ogren e Kalani Thompson) que entrega exatamente o que queremos em um atemporal refrão e versos prontos para as pistas de dança; “Nirvana”, por sua vez, deixa espaço para que a artista se divirta com entregas vocais sólidas, pegando páginas emprestadas do trabalho de Arnthor Birgisson e Rami Yacoub (nomes por trás da ótima “Double Trouble”) e rendendo-se a uma conjunção enervante e sinestésica do electro-deep e do techno para discorrer sobre um amor tão forte que é capaz de levá-la a um estado espiritual de plenitude completa.

É notável como os melhores momentos do disco ganham os ouvintes quando não se levam a sério: apesar da fraca recepção dos singles, como mencionado nos parágrafos acima, não há qualquer elemento dentro dessas canções que mostre que Perry deseje “reinventar a roda” ou apresentar um elemento novo à música pop – e sim trazer passado e presente em um mesmo lugar. Algo similar acontece nos supracitados ápices do álbum – mas, quando Katy resolve dar um passo maior do que a perna, tudo desanda e culmina em uma desastrosa tentativa conceitual que não combina com sua estética performática e nem mesmo com os nomes envolvidos na construção do disco (ainda mais levando em consideração que Dr. Luke e Max Martin, por exemplo, sempre estiveram atados a produções puramente mercadológicas).

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143 carregava consigo todos os ingredientes certos para se sagrar um dos melhores álbuns de Katy Perry – mas, desde as polêmicas envolvendo a gestação da obra, passando por duvidosas escolhas artísticas e estacionando em um compilado nada coeso de impulsividades cruas, o resultado é, sem mais delongas, frustrante e decepcionante.

Nota por faixa:

1. Woman’s World – 3,5/5
2. Gimme Gimme (feat. 21 Savage) – 1/5
3. Gorgeous (feat. Kim Petras) – 0,5/5
4. I’m His, He’s Mine (feat. Doechii) – 1/5
5. Crush – 5/5
6. Lifetimes – 4/5
7. All the Love – 3,5/5
8. Nirvana – 4/5
9. Artificial (feat. JID) – 1/5
10. Truth – 1,5/5
11. Wonder – 0,5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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