sexta-feira , 8 novembro , 2024

Crítica | Cansativo e sem identidade, ‘143’ é um dos álbuns mais decepcionantes de Katy Perry

Houve um tempo em que Katy Perry era sinônimo do mais puro sucesso. Se pensarmos em eras como ‘One of the Boys’, ‘Teenage Dream’ e ‘Prism’, Perry possuía um tato inigualável para construir músicas pop que viralizaram mundo afora e a reiteravam como uma das grandes estrelas da música contemporânea – ora, não é surpresa que ela tenha sido a única artista além de Michael Jackson a ter conquistado o Spotlight Award. Em ‘Witness’, Katy resolveu se arriscar e começou a desfrutar de um inexplicável boicote – ainda mais considerando que o álbum é sólido o suficiente para encantar os ouvintes -, mantendo-se em um limbo criativo que estendeu-se para o bizarro Smile.

Agora, Perry retorna ao cenário fonográfico quatro anos depois de sua última investida com o antecipado 143. O título, fazendo referência à frase “I love you” e ao “número angelical” da artista, foi promovido com um total de três singles, a infusão EDM de “Woman’s World”, a pulsão house noventista de “Lifetimes” e o inexplicável trap-R&B de “I’m His, He’s Mine”, colaborando com a rapper Doechii. E, com o lançamento do compilado de originais, é notável que Perry permanece desesperada para se manter relevante no escopo show business através de breves 33 minutos que explodem em um vórtice de construções genéricas e imediatamente esquecíveis.

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Com as duas primeiras faixas promocionais, Katy revelou estar par a par com sua conhecida estética despojada e, apesar das críticas negativas, entregou exatamente o que esperávamos de uma performer como ela: incursões pautadas em uma arquitetura mainstream, movidas por batidas bem demarcadas e comprometidas com uma identidade indesculpável e escapista – tal qual ela já nos mostrara com álbuns mais antigos. E, com infortúnio frustrante, a cantora e compositora já havia nos apresentado o melhor antes mesmo do lançamento do álbum, resolvendo se unir com um time grandioso de produtores para uma jornada formulaica e sem qualquer originalidade, atirando para todos os lados a fim de recuperar as glórias de um tempo que não mais voltará.

Para além dos singles supracitados, Katy colaborou com nomes com 21 Savage, Kim Petras e JID em prol de manter-se atenta aos nomes que dominam o cenário atual da música. De um lado, “Gimme Gimme” nos apresenta a um trap-pop deslocado da ideia do álbum, emergindo como uma track solta e pensada de última hora; “Gorgeous” busca elementos do PC Music e do pop industrial que eternizaram a carreira de Petras, puxando elementos de ‘Slut Pop’ em uma ininteligível mixórdia de pouco mais de três minutos cujo ápice é destinado à artista convidada do que à principal; e “Artificial”, apesar do promissor início, é infundido com uma atmosfera electro-deep que, de maneira estranha, tenta emular as progressões de ‘Teenage Dream’ e culmina em um fracasso retumbante que, de novo, deixa o melhor para JID.



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Apesar dos múltiplos e constantes deslizes, é notável como o disco possui pontuais ápices que nos chamam a atenção: “Crush”, a quinta faixa do álbum, é uma imersiva construção de electro-pop e dance-pop que traz o melhor da carreira de Perry aos holofotes, apostando fichas em uma dançante e sensual construção sonora (cortesia do trabalho em conjunto de Dr. Luke, Ryan Ogren e Kalani Thompson) que entrega exatamente o que queremos em um atemporal refrão e versos prontos para as pistas de dança; “Nirvana”, por sua vez, deixa espaço para que a artista se divirta com entregas vocais sólidas, pegando páginas emprestadas do trabalho de Arnthor Birgisson e Rami Yacoub (nomes por trás da ótima “Double Trouble”) e rendendo-se a uma conjunção enervante e sinestésica do electro-deep e do techno para discorrer sobre um amor tão forte que é capaz de levá-la a um estado espiritual de plenitude completa.

É notável como os melhores momentos do disco ganham os ouvintes quando não se levam a sério: apesar da fraca recepção dos singles, como mencionado nos parágrafos acima, não há qualquer elemento dentro dessas canções que mostre que Perry deseje “reinventar a roda” ou apresentar um elemento novo à música pop – e sim trazer passado e presente em um mesmo lugar. Algo similar acontece nos supracitados ápices do álbum – mas, quando Katy resolve dar um passo maior do que a perna, tudo desanda e culmina em uma desastrosa tentativa conceitual que não combina com sua estética performática e nem mesmo com os nomes envolvidos na construção do disco (ainda mais levando em consideração que Dr. Luke e Max Martin, por exemplo, sempre estiveram atados a produções puramente mercadológicas).

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143 carregava consigo todos os ingredientes certos para se sagrar um dos melhores álbuns de Katy Perry – mas, desde as polêmicas envolvendo a gestação da obra, passando por duvidosas escolhas artísticas e estacionando em um compilado nada coeso de impulsividades cruas, o resultado é, sem mais delongas, frustrante e decepcionante.

Nota por faixa:

1. Woman’s World – 3,5/5
2. Gimme Gimme (feat. 21 Savage) – 1/5
3. Gorgeous (feat. Kim Petras) – 0,5/5
4. I’m His, He’s Mine (feat. Doechii) – 1/5
5. Crush – 5/5
6. Lifetimes – 4/5
7. All the Love – 3,5/5
8. Nirvana – 4/5
9. Artificial (feat. JID) – 1/5
10. Truth – 1,5/5
11. Wonder – 0,5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Agora, Perry retorna ao cenário fonográfico quatro anos depois de sua última investida com o antecipado 143. O título, fazendo referência à frase “I love you” e ao “número angelical” da artista, foi promovido com um total de três singles, a infusão EDM de “Woman’s World”, a pulsão house noventista de “Lifetimes” e o inexplicável trap-R&B de “I’m His, He’s Mine”, colaborando com a rapper Doechii. E, com o lançamento do compilado de originais, é notável que Perry permanece desesperada para se manter relevante no escopo show business através de breves 33 minutos que explodem em um vórtice de construções genéricas e imediatamente esquecíveis.

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Com as duas primeiras faixas promocionais, Katy revelou estar par a par com sua conhecida estética despojada e, apesar das críticas negativas, entregou exatamente o que esperávamos de uma performer como ela: incursões pautadas em uma arquitetura mainstream, movidas por batidas bem demarcadas e comprometidas com uma identidade indesculpável e escapista – tal qual ela já nos mostrara com álbuns mais antigos. E, com infortúnio frustrante, a cantora e compositora já havia nos apresentado o melhor antes mesmo do lançamento do álbum, resolvendo se unir com um time grandioso de produtores para uma jornada formulaica e sem qualquer originalidade, atirando para todos os lados a fim de recuperar as glórias de um tempo que não mais voltará.

Para além dos singles supracitados, Katy colaborou com nomes com 21 Savage, Kim Petras e JID em prol de manter-se atenta aos nomes que dominam o cenário atual da música. De um lado, “Gimme Gimme” nos apresenta a um trap-pop deslocado da ideia do álbum, emergindo como uma track solta e pensada de última hora; “Gorgeous” busca elementos do PC Music e do pop industrial que eternizaram a carreira de Petras, puxando elementos de ‘Slut Pop’ em uma ininteligível mixórdia de pouco mais de três minutos cujo ápice é destinado à artista convidada do que à principal; e “Artificial”, apesar do promissor início, é infundido com uma atmosfera electro-deep que, de maneira estranha, tenta emular as progressões de ‘Teenage Dream’ e culmina em um fracasso retumbante que, de novo, deixa o melhor para JID.

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Apesar dos múltiplos e constantes deslizes, é notável como o disco possui pontuais ápices que nos chamam a atenção: “Crush”, a quinta faixa do álbum, é uma imersiva construção de electro-pop e dance-pop que traz o melhor da carreira de Perry aos holofotes, apostando fichas em uma dançante e sensual construção sonora (cortesia do trabalho em conjunto de Dr. Luke, Ryan Ogren e Kalani Thompson) que entrega exatamente o que queremos em um atemporal refrão e versos prontos para as pistas de dança; “Nirvana”, por sua vez, deixa espaço para que a artista se divirta com entregas vocais sólidas, pegando páginas emprestadas do trabalho de Arnthor Birgisson e Rami Yacoub (nomes por trás da ótima “Double Trouble”) e rendendo-se a uma conjunção enervante e sinestésica do electro-deep e do techno para discorrer sobre um amor tão forte que é capaz de levá-la a um estado espiritual de plenitude completa.

É notável como os melhores momentos do disco ganham os ouvintes quando não se levam a sério: apesar da fraca recepção dos singles, como mencionado nos parágrafos acima, não há qualquer elemento dentro dessas canções que mostre que Perry deseje “reinventar a roda” ou apresentar um elemento novo à música pop – e sim trazer passado e presente em um mesmo lugar. Algo similar acontece nos supracitados ápices do álbum – mas, quando Katy resolve dar um passo maior do que a perna, tudo desanda e culmina em uma desastrosa tentativa conceitual que não combina com sua estética performática e nem mesmo com os nomes envolvidos na construção do disco (ainda mais levando em consideração que Dr. Luke e Max Martin, por exemplo, sempre estiveram atados a produções puramente mercadológicas).

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143 carregava consigo todos os ingredientes certos para se sagrar um dos melhores álbuns de Katy Perry – mas, desde as polêmicas envolvendo a gestação da obra, passando por duvidosas escolhas artísticas e estacionando em um compilado nada coeso de impulsividades cruas, o resultado é, sem mais delongas, frustrante e decepcionante.

Nota por faixa:

1. Woman’s World – 3,5/5
2. Gimme Gimme (feat. 21 Savage) – 1/5
3. Gorgeous (feat. Kim Petras) – 0,5/5
4. I’m His, He’s Mine (feat. Doechii) – 1/5
5. Crush – 5/5
6. Lifetimes – 4/5
7. All the Love – 3,5/5
8. Nirvana – 4/5
9. Artificial (feat. JID) – 1/5
10. Truth – 1,5/5
11. Wonder – 0,5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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