terça-feira , 3 dezembro , 2024

Crítica | Capitu e o Capítulo – Mariana Ximenes Oblíqua e Dissimulada em Adaptação de Machado de Assis

Um dos maiores escritores do Brasil – e, na opinião de muitos, O melhor – é o autor Machado de Assis. Não são poucas as adaptações de suas obras literárias, dentre as quais uma das que mais recebe versões é o romanceDom Casmurro’. Fonte inesgotável de leitura, o romance chega a partir desta semana às salas de cinema brasileiras em mais um novo olhar, através do filme ‘Capitu e o Capítulo’.



Em ‘Capitu e o Capítulo’ acompanhamos um recorte da vida dos clássicos personagens. Olhares, atitudes, vicissitude e passionalidade; novas e antigas percepções. Trama que permeia a inquietude trazida pelo sentimento mais primitivo que o ser humano pode experimentar, criando e sorvendo o fantasma oriundo do ciúme, desdobrando-se em intrigas capitulares criadas por Bentinho (Vladimir Brichta) em devaneios que o tomam sobremaneira por conta de seu amor doentio por sua Capitu (Mariana Ximenes). Já envolvida com seu grande amor, Capitu tenta entender os desdobramentos de sua relação quando da entrada de dois novos personagens na vida do casal.

Definitivamente o que mais chama atenção em ‘Capitu e o Capítulo’ é a belíssima fotografia do longa. O diretor de fotografia Lucas Barbi constrói uma narrativa poética e subliminar a partir do posicionamento de câmera e das lentes que proporcionam uma visão única desses personagens complexos. Soma-se a isso uma igualmente bela direção de arte e figurino, que ajudam a compor o set ao mesmo tempo com ares do século XIX sobrepondo-se e em conflito com as modernidades das falas e atitudes dos personagens.

Júlio Bressane imprime uma leitura bastante particular e experimental sobre a já bastante explorada obra de Machado de Assis. Sob a sua batuta, Bentinho se configura como um fantoche de fios embolados na história de sua própria vida, assustado diante de uma Capitu cuja presença e espírito preenchem a sala (e o cinema) com toda a sua vitalidade e vigor. Assim, Bressane retorna ao universo machadiano após quase 40 anos de ter adaptado ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ em 1985; ou seja, um diretor em perpétua inquietação sobre a obra machadiana.

O roteiro de Bressane com Rosa Dias traz cenas emblemáticas que experimentam com as técnicas cinematográficas, demonstrando todo o seu potencial. Em cerca de uma hora de filme uma das cenas mais bonitas é quando os quatro personagens dançam sem nenhuma música de fundo; ao mesmo tempo em que o espectador ouve o roçar do tecido do figurino e o bater dos pés no chão do set, também é convidado a imaginar a tal trilha sonora, de modo a compor o ambiente em que estão inseridos esses personagens.

Capitu e o Capítulo’ é uma experimentação de quem sabe e domina as técnicas cinematográficas. Extremamente bonito, foi um acerto trazer Mariana Ximenes ao papel da cigana de olhos oblíquos e dissimulados; com sua voz grave e profunda e sua postura sempre ereta, Mariana confere à personagem feminina fluidez e rigor em constante dilema dentro dessa que é uma das personagens mais famosas da literatura brasileira.

Com produção executiva de Cacá Diegues, ‘Capitu e o Capítulo’ é um filme importantíssimo para quem estuda cinema, uma aula de como fazer algo novo sobre uma história já muito conhecida.

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Um dos maiores escritores do Brasil – e, na opinião de muitos, O melhor – é o autor Machado de Assis. Não são poucas as adaptações de suas obras literárias, dentre as quais uma das que mais recebe versões é o romanceDom Casmurro’. Fonte inesgotável de leitura, o romance chega a partir desta semana às salas de cinema brasileiras em mais um novo olhar, através do filme ‘Capitu e o Capítulo’.

Em ‘Capitu e o Capítulo’ acompanhamos um recorte da vida dos clássicos personagens. Olhares, atitudes, vicissitude e passionalidade; novas e antigas percepções. Trama que permeia a inquietude trazida pelo sentimento mais primitivo que o ser humano pode experimentar, criando e sorvendo o fantasma oriundo do ciúme, desdobrando-se em intrigas capitulares criadas por Bentinho (Vladimir Brichta) em devaneios que o tomam sobremaneira por conta de seu amor doentio por sua Capitu (Mariana Ximenes). Já envolvida com seu grande amor, Capitu tenta entender os desdobramentos de sua relação quando da entrada de dois novos personagens na vida do casal.

Definitivamente o que mais chama atenção em ‘Capitu e o Capítulo’ é a belíssima fotografia do longa. O diretor de fotografia Lucas Barbi constrói uma narrativa poética e subliminar a partir do posicionamento de câmera e das lentes que proporcionam uma visão única desses personagens complexos. Soma-se a isso uma igualmente bela direção de arte e figurino, que ajudam a compor o set ao mesmo tempo com ares do século XIX sobrepondo-se e em conflito com as modernidades das falas e atitudes dos personagens.

Júlio Bressane imprime uma leitura bastante particular e experimental sobre a já bastante explorada obra de Machado de Assis. Sob a sua batuta, Bentinho se configura como um fantoche de fios embolados na história de sua própria vida, assustado diante de uma Capitu cuja presença e espírito preenchem a sala (e o cinema) com toda a sua vitalidade e vigor. Assim, Bressane retorna ao universo machadiano após quase 40 anos de ter adaptado ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ em 1985; ou seja, um diretor em perpétua inquietação sobre a obra machadiana.

O roteiro de Bressane com Rosa Dias traz cenas emblemáticas que experimentam com as técnicas cinematográficas, demonstrando todo o seu potencial. Em cerca de uma hora de filme uma das cenas mais bonitas é quando os quatro personagens dançam sem nenhuma música de fundo; ao mesmo tempo em que o espectador ouve o roçar do tecido do figurino e o bater dos pés no chão do set, também é convidado a imaginar a tal trilha sonora, de modo a compor o ambiente em que estão inseridos esses personagens.

Capitu e o Capítulo’ é uma experimentação de quem sabe e domina as técnicas cinematográficas. Extremamente bonito, foi um acerto trazer Mariana Ximenes ao papel da cigana de olhos oblíquos e dissimulados; com sua voz grave e profunda e sua postura sempre ereta, Mariana confere à personagem feminina fluidez e rigor em constante dilema dentro dessa que é uma das personagens mais famosas da literatura brasileira.

Com produção executiva de Cacá Diegues, ‘Capitu e o Capítulo’ é um filme importantíssimo para quem estuda cinema, uma aula de como fazer algo novo sobre uma história já muito conhecida.

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