Ano: 2019
Temporada: 02
Episódios: 14
Minutagem: 33 (média por episódio)
Considerando que a série se chama ‘Carcereiros’, uma das coisas que ficou em falta na primeira temporada foi um maior aprofundamento justamente na vida desses carcereiros. Quer dizer, ainda que a ficção fosse intercalada por relatos de funcionários da vida real (algo que permaneceu nessa 2ª temporada), ficou faltando mostrar mais a vida pessoal desses personagens que dão título à série. E é justamente nisso em que foca o segundo ano dessa história.
Devido ao seu comportamento comprometido nos últimos capítulos da temporada anterior, Adriano (Rodrigo Lombardi) agora vai trabalhar em um novo presídio, e tem que se ambientar. Já não é mais o chefe responsável, e isso abala um pouco a sua forma de agir. Por outro lado, ao longo dos quatorze episódios o espectador vai conhecendo mais dos dramas que vão envolvendo sua família: a namorada Érica (Letícia Sabatella, ótima em todas as cenas mais dramáticas), que está encarcerada em um presídio feminino; o pai Valdir (Othon Bastos) e a madrasta Solange (Samantha Schmütz, comprovando seu valor para além da comédia), que se envolvem em negócios escusos; sua filha Lívia (Giovanna Rispoli), que tem um namorado viciado em crack e vai treinar jiu-jitsu com um ex-presidiário; e sua ex-esposa Janaina (Mariana Nunes, novamente se destacando), por quem o amor é maior do que todas as barreiras que aparecem na vida.
Com um longo tempo de exibição, a sensação que dá é que a história dessa vez focou demais na vida particular do personagem principal e as histórias paralelas dos presidiários ficaram de lado – que eram justamente o atrativo da série. E, considerando que há outros personagens na mesma função de agente penitenciário, interpretados por grandes atores – Tony Tornado, Ernani Moraes, Milton Gonçalves, para citar alguns – por que não jogar um pouco de luz neles também? Eles participam da trama, mas a bem da verdade é que o espectador pouco sabe sobre eles, com exceção das participações especiais de Monica Iozzi, no 3º episódio, interpretando uma agente cuja função é filtrar as correspondências enviadas para e do presídio; e Julia Lemmertz, que no capítulo 11 interpreta uma psicóloga que atende tanto aos presidiários quanto a Adriano.
O diferencial nesta temporada foi mostrar o funcionamento de um presídio feminino, onde Érika está presa, mas apenas em alguns episódios. Através da ficção, ficamos sabendo da tristeza que é para essas milhares de mulheres que em sua maioria são abandonadas pelos seus companheiros já no início do cumprimento da pena – em dias de visita, os homens que aparecem em geral são seus pais ou filhos. Esse é o tipo de coisa que não ocorre no presídio masculino, por exemplo. Destaque para a participação especial de Isabél Zuaa, como chefona do crime dentro do presídio feminino.
Para quem está chegando agora, assistir aos episódios sem ter visto os anteriores pode gerar dúvida com relação à história de Adriano, porém dá pra ir seguindo pelo viés dos presidiários, que é o centro de cada capítulo. As sugestões são o 3º, em que José Loreto faz um interno que aguarda as cartas da namorada (e aqui aprendemos que quando está escrito “vá com Deus, carteiro” na carta é porque ela foi escrita no presídio); o 4º, com o sumiço de um delegado e como o sistema corrupto arma para jogar a culpa em quem não consegue se defender; o 6º, que leva para ficção a história real da máfia das quentinhas nos presídios; o 10º, com participação de Thiago Martins como um gêmeo do mau; e os dois últimos, que revelam a realidade tensa de uma greve no ambiente carcerário.
De uma forma geral, ‘Carcereiros’ continua uma superprodução interessante, bem construída e que mantém o interesse do espectador, porém, a síndrome de herói do personagem principal, em sempre tentar solucionar todas as questões e levar o problema de todo mundo para casa – literalmente – às vezes cansa.