quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Carlinhos & Carlão – Comédia da Amazon combate a homofobia com bom humor

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…Nem couro de Lobisomem

O frio e avarento Ebenezer Scrooge descobriu sua humanidade no livro clássico de Charles Dickens, Um Conto de Natal. O advogado Fletcher Reede (papel de Jim Carrey) passou a dar valor ao filho e à família quando descobriu o poder da verdade na comédia O Mentiroso (1997). Agora, é a vez do machista e homofóbico Carlos ter um curso relâmpago em aceitação e tolerância na comédia nacional Carlinhos & Carlão, lançamento recente da Amazon Prime Video.

A fórmula da “grande mudança” na vida de um protagonista extremamente errático e pouco identificável não é novidade, mas o que os roteiristas Célio Porto e Carolina Castro fazem aqui é aplica-la a um tema muito relevante atualmente. Vivemos numa época fervorosa de colisão de pensamentos, muito trazida pela política mundial de determinações de “lados” – que mesmo muitos não percebendo termina colocando todos em caixas com seus rótulos. Este clima pesado trouxe uma regressão de valores, que constantemente nos faz discutir tópicos que já deveriam há muito ter sido superados: como o racismo e a homofobia. Itens estes inadmissíveis, independente de ideologia política ou religião.



E por justamente ainda precisarmos hoje constantemente reafirmar tais conceitos é que este filme chega de forma mais que propícia, tratando tudo com muito bom humor, fazendo rir (ou gargalhar), mas igualmente passando sua mensagem de forma mais clara impossível, e falando sério quando precisa.

Dirigido por Pedro Amorim, um especialista no gênero tendo em seu repertório produções como Mato sem Cachorro (2013) e Divórcio (2017), Carlinhos & Carlão apresenta o protagonista do título, vivido por Luis Lobianco, um sujeito retrógrado, repleto de preconceitos, cuja vida se encontra estagnada. Se formos analisar psicologicamente, dá para apontar ao menos dois motivadores para a condição odiosa de Carlão: a primeira é a criação do pai – muito associada à “pessoas de mentalidade de outra época” – e a segunda é seu estigma de “zero à esquerda”, pouco apreço pessoal, solitário e preso em sua própria rotina sem grandes aspirações. Tal amargor interno termina exalando ao exterior e na forma como o personagem trata todos ao redor. Seria necessário terapia, e Carlão terá a melhor que poderia lhe ocorrer.

A fórmula citada logo nos primeiros parágrafos quase sempre necessita de um elemento fantástico, algo de sobrenatural que chega para sacudir o coração e a mente destes personagens incorretos. No caso do avarento Scrooge, ele é visitado por três fantasmas na noite de natal, que lhe mostram seu passado, presente e futuro caso não mude o jeito de ser. Em O Mentiroso é um desejo de aniversário do próprio filho pequeno que impossibilita o advogado ardiloso de mentir por pelo menos um dia. E aqui, não existe “castigo” ou aprendizado melhor para um sujeito intolerante do que se transformar exatamente no que mais teme ou simplesmente não compreende. E através de um armário mágico, banhado em muita purpurina de Drag Queen, é que Carlão se transforma em Carlinhos.

A ideia dos realizadores ainda, de forma muito esperta, brinca com a estrutura de clássicos do terror, como O Médico e o Monstro e O Lobisomem, já que a nova faceta do protagonista surge toda noite quando a lua sai. As inúmeras situações que a transformação homossexual de um típico machão, jogador de futebol, boca suja e paquerador de quinta em um gay afetadíssimo criam, são todas muito bem construídas e retiram de cada cena o máximo de humor. E como dito, Carlinhos & Carlão ainda tem espaço para momentos mais dramáticos, como alguns ataques homofóbicos físicos com repercussões muito reais – que deixa tudo mais sensível por chegar muito perto do horror que sabemos ocorrer de forma diária pelo mundo. Impactante e necessário.

No entanto, esse texto não pode terminar sem adereçarmos a entrega de Luis Lobianco, num verdadeiro show virtuoso dando tudo de si em “ambos” os papeis. É difícil dizer em qual dos dois o ator está mais engraçado, mas eu arriscaria dizer que é na pele de Carlão – por imaginarmos que seja algo totalmente oposto de sua persona na vida real. Ambos são caricaturas, mas Lobianco os cria na medida certa, sem nunca passar da nota exagerando mais do que precisa. É seguro dizer que, com seu jeito cínico e sua forma de recitar os diálogos, Luis Lobianco é um dos melhores e mais engraçados humoristas da atualidade. E só nos resta esperar por seus próximos filmes e desejar que sejam tão engraçados quanto este.

Carlinhos & Carlão, como dito, não poderia ter vindo em melhor hora. É um grande acerto de todos os envolvidos, e embora óbvio desde o início na questão de para onde essa história irá caminhar, reserva sim suas surpresas. O que conta mesmo são suas entrelinhas, hilárias e atuais. E claro, sua mensagem essencial.

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A fórmula da “grande mudança” na vida de um protagonista extremamente errático e pouco identificável não é novidade, mas o que os roteiristas Célio Porto e Carolina Castro fazem aqui é aplica-la a um tema muito relevante atualmente. Vivemos numa época fervorosa de colisão de pensamentos, muito trazida pela política mundial de determinações de “lados” – que mesmo muitos não percebendo termina colocando todos em caixas com seus rótulos. Este clima pesado trouxe uma regressão de valores, que constantemente nos faz discutir tópicos que já deveriam há muito ter sido superados: como o racismo e a homofobia. Itens estes inadmissíveis, independente de ideologia política ou religião.

E por justamente ainda precisarmos hoje constantemente reafirmar tais conceitos é que este filme chega de forma mais que propícia, tratando tudo com muito bom humor, fazendo rir (ou gargalhar), mas igualmente passando sua mensagem de forma mais clara impossível, e falando sério quando precisa.

Dirigido por Pedro Amorim, um especialista no gênero tendo em seu repertório produções como Mato sem Cachorro (2013) e Divórcio (2017), Carlinhos & Carlão apresenta o protagonista do título, vivido por Luis Lobianco, um sujeito retrógrado, repleto de preconceitos, cuja vida se encontra estagnada. Se formos analisar psicologicamente, dá para apontar ao menos dois motivadores para a condição odiosa de Carlão: a primeira é a criação do pai – muito associada à “pessoas de mentalidade de outra época” – e a segunda é seu estigma de “zero à esquerda”, pouco apreço pessoal, solitário e preso em sua própria rotina sem grandes aspirações. Tal amargor interno termina exalando ao exterior e na forma como o personagem trata todos ao redor. Seria necessário terapia, e Carlão terá a melhor que poderia lhe ocorrer.

A fórmula citada logo nos primeiros parágrafos quase sempre necessita de um elemento fantástico, algo de sobrenatural que chega para sacudir o coração e a mente destes personagens incorretos. No caso do avarento Scrooge, ele é visitado por três fantasmas na noite de natal, que lhe mostram seu passado, presente e futuro caso não mude o jeito de ser. Em O Mentiroso é um desejo de aniversário do próprio filho pequeno que impossibilita o advogado ardiloso de mentir por pelo menos um dia. E aqui, não existe “castigo” ou aprendizado melhor para um sujeito intolerante do que se transformar exatamente no que mais teme ou simplesmente não compreende. E através de um armário mágico, banhado em muita purpurina de Drag Queen, é que Carlão se transforma em Carlinhos.

A ideia dos realizadores ainda, de forma muito esperta, brinca com a estrutura de clássicos do terror, como O Médico e o Monstro e O Lobisomem, já que a nova faceta do protagonista surge toda noite quando a lua sai. As inúmeras situações que a transformação homossexual de um típico machão, jogador de futebol, boca suja e paquerador de quinta em um gay afetadíssimo criam, são todas muito bem construídas e retiram de cada cena o máximo de humor. E como dito, Carlinhos & Carlão ainda tem espaço para momentos mais dramáticos, como alguns ataques homofóbicos físicos com repercussões muito reais – que deixa tudo mais sensível por chegar muito perto do horror que sabemos ocorrer de forma diária pelo mundo. Impactante e necessário.

No entanto, esse texto não pode terminar sem adereçarmos a entrega de Luis Lobianco, num verdadeiro show virtuoso dando tudo de si em “ambos” os papeis. É difícil dizer em qual dos dois o ator está mais engraçado, mas eu arriscaria dizer que é na pele de Carlão – por imaginarmos que seja algo totalmente oposto de sua persona na vida real. Ambos são caricaturas, mas Lobianco os cria na medida certa, sem nunca passar da nota exagerando mais do que precisa. É seguro dizer que, com seu jeito cínico e sua forma de recitar os diálogos, Luis Lobianco é um dos melhores e mais engraçados humoristas da atualidade. E só nos resta esperar por seus próximos filmes e desejar que sejam tão engraçados quanto este.

Carlinhos & Carlão, como dito, não poderia ter vindo em melhor hora. É um grande acerto de todos os envolvidos, e embora óbvio desde o início na questão de para onde essa história irá caminhar, reserva sim suas surpresas. O que conta mesmo são suas entrelinhas, hilárias e atuais. E claro, sua mensagem essencial.

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