Carnaval. Embora essa festa não seja originalmente brasileira, foi em nosso território que ela ganhou projeção mundial de um jeitinho só nosso, e faz com que milhares de pessoas do mundo inteiro sonhem em vir para cá no verão. Cada capital de nosso país tem sua própria maneira de celebrar o agito, enraizado na cultura local, e a mistura de cores, sabores e cheiros da festança foi transportada para o filme ‘Carnaval’, novo lançamento brasileiro da Netflix.
Nina (Giovana Cordeiro) é uma influenciadora digital em ascensão, louca para chegar a 1 milhão de seguidores. Ela recebe o convite para passar o Carnaval em Salvador no trio elétrico do cantor Freddy Nunes (Micael Borges), mas, como está na fossa por ter sido traída pelo namorado, Nina resolve abrir mão do cachê e, em troca, levar suas três melhores amigas para a viagem: a nerd Vivi (Samya Pascotto), a doce Mayra (Bruna Inocêncio) e a espivetada Michelle (Gessica Kayane). O que elas não esperavam é que o fervor de Salvador fosse entrar nas suas veias e o Carnaval fosse se tornar o evento mais inesquecível de suas vidas.
O que mais chama a atenção em ‘Carnaval’ é a incrível capacidade da produção de realmente captar a essência da festa em Salvador. Não é qualquer Carnaval, é o de Salvador, e, portanto, possui as peculiaridades particulares daquela cidade. Já nos primeiros minutos o espectador é convidado a mergulhar de cabeça na deliciosa bagunça das múltiplas festas da capital – o trio elétrico, os blocos de rua, as festas particulares em hotéis, os camarotes – e, de verdade, dá para sentir o cheiro, o gosto, as cores do carnaval baiano. Ter tido a capacidade de capturar a essência desse patrimônio imaterial da humanidade é o grande mérito da produção.
Escrito por Audemir Leuzinger, Luisa Mascarenhas e Leandro Neri (e dirigido por este), o roteiro centra seu enredo na relação de amizade e sororidade entre o quarteto protagonista, que, composto por diferentes estilos, demonstra as múltiplas atitudes que as mulheres podem ter nessa festa caótica: a que trabalha durante o evento, a que tem medo de tumulto, a que não curte muito o fuzuê e aquela que mergulha com tanta vontade que no final nem lembra o que aconteceu.
O desenvolvimento das personagens principais e dos secundários é, porém, um pouco irregular. Se por um lado Michelle se resolve sozinha com sua personalidade tipo ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ (do também baiano Jorge Amado), por outro Vivi parece meio sobrando na trama, forçadamente chata; enquanto a resolução do cantor Freddy é acelerada no fim, ao mesmo tempo é muito bom ver Mayra se reconectar com sua ancestralidade para ganhar força e superar seus medos – afinal, a fé também é essência de Salvador.
‘Carnaval’ é um ótimo filme super alto astral, engraçado e, caramba, consegue mesmo transportar a gente para dentro daquele clima festivo de fevereiro. Faz a gente sorrir e sentir saudades o tempo todo. ‘Carnaval’ é o Brasil que queremos voltar a viver quando tudo passar, e, por sua ótima capacidade de retratar a festa tanto para brasileiros quanto para estrangeiros, tomara que ganhe continuações, com o grupo de meninas quem sabe conhecendo o Carnaval de Parintins, ou das ruas de Ouro Preto, ou da Marquês de Sapucaí…