sexta-feira , 13 dezembro , 2024

Crítica | ‘Casamento Armado’ é um mar de clichês, mas ainda assim diverte

Na mais nova comédia romântica do Prime Video, intitulada Casamento Armado, Jennifer Lopez e Josh Duhamel interpretam um casal prestes a consumar matrimônio – Darcy e Tom, respectivamente. Horas antes da aguardada cerimônia, localizada numa belíssima ilha paradisíaca, os dois começam a enfrentar alguns problemas pessoais que quase o fazem desistir do casamento; e, como se não bastasse, a festa é invadida por piratas armados que querem extorquir o máximo de dinheiro possível. É claro que a divertida premissa não poderia deixar de nos cativar, principalmente pelo histórico de Lopez no gênero. E, ainda que o resultado seja sólido o suficiente para nos arrancar algumas risadas, o filme morre na praia pela quantidade excessiva de clichês e de reviravoltas previsíveis – por mais que as intenções sejam das mais honestas.

Considerando que a obra é uma rom-com, exigir uma coisa além do óbvio é, de fato, pedir demais. Afinal, Jason Moore, conhecido por seu trabalho na franquia ‘A Escolha Perfeita’, não quer reinventar a roda, mas nos arrancar do nosso cotidiano por pouco mais de cem minutos para uma aventura que inclui tudo o que imaginávamos – ação, comédia, romance, drama e, como a cereja do bolo, Jennifer Coolidge. Ora, até mesmo o formulaico roteiro de Mark Hammer funciona em boa parte, valendo-se dos clichês supracitados e, ao mesmo tempo, oferecendo um protagonismo feminino que se afasta dos estereótipos. Entretanto, essas múltiplas peças não são justapostas da maneira correta, tornando-se fragmentos de uma estrutura desequilibrada que não sabe em que caminho seguir e no que focar.



Lopez tem uma longa carreira no circuito cinematográfico, que inclui dramas biográficos (‘Selena’, ‘As Golpistas’), thrillers de suspense (‘Anaconda’, ‘O Garoto da Casa ao Lado’) e, é claro, as rom-coms (‘A Sogra’, ‘Uma Nova Chance’ e tantas outras). E, depois de ter estrelado ‘Case Comigo’ ao lado de Owen Wilson e Maluma, ela retorna em forma e sabendo que não precisa mais provar nada para ninguém – motivo pelo qual se diverte do começo ao fim. A princípio, a atriz e cantora dividiria os holofotes com Armie Hammer, que foi demitido do projeto após as acusações de abuso sexual e canibalismo; logo, ela firmou parceria com Duhamel, que não é estranho ao gênero (visto que participou da ótima iteração ‘Com Amor, Simon’). Os dois sabem o que estão fazendo, mas a química simplesmente não existe; em outras palavras, eles funcionam muito melhor quando estão sozinhos do que quando lutam contra seus algozes e tentam salvar a família de uma possível e trágica morte.

É necessário dar destaque ao elenco coadjuvante, que faz o máximo possível com construções que não vão muito para além da superfície. Como já mencionado, Coolidge se lança novamente a uma atuação exagerada e hilária, interpretando Carol, mãe de Tom – e estrelando a melhor cena do longa-metragem, em que toma uma espingarda em mãos e se revolta contra os piratas. Temos também a presença ilustre de Sônia Braga como Renata, mãe de Darcy, Lenny Kravitz como o charmoso Sean, ex-namorado da protagonista, e D’Arcy Carden como a espiritualizada e controversa Harriet. Cada um tem o seu momento de brilhar, entregando falas memoráveis e permitindo que nos envolvamos com a ideia da narrativa.

O grande problema do longa é a execução. A produção tem apenas uma hora e quarenta de duração, mas arrasta-se em sequências que poderiam muito bem não existir, como diálogos repetitivos e cansativos que vão de lugar nenhum a nenhum lugar. Isso não seria um obstáculo caso Hammer e Moore contribuíssem com uma visão estética mais firme – como no recente ‘Cidade Perdida’, que consegue se afastar dos clichês através de tiradas convincentes e consistentes quebras de expectativa. Contudo, as múltiplas partes não se encaixam e se transformam em um aglomerado de incursões panfletárias (como a indiferente fotografia e a monótona trilha sonora), pinceladas com efeitos visuais que parecem descartados da The CW.

Casamento Armado diverte, mas isso não significa que não poderia ser melhor. Não há muito o que discorrer sobre um filme que não acredita em si mesmo e que desperdiça o potencial de um time competente em prol de nada. Porém, ainda que os deslizes gritem em cena, é impossível não arrancar um sorrido quando Lopes e Duhamel unem forças para lutar contra os bandidos e alcançam um “felizes para sempre” aos trancos e barrancos.

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Na mais nova comédia romântica do Prime Video, intitulada Casamento Armado, Jennifer Lopez e Josh Duhamel interpretam um casal prestes a consumar matrimônio – Darcy e Tom, respectivamente. Horas antes da aguardada cerimônia, localizada numa belíssima ilha paradisíaca, os dois começam a enfrentar alguns problemas pessoais que quase o fazem desistir do casamento; e, como se não bastasse, a festa é invadida por piratas armados que querem extorquir o máximo de dinheiro possível. É claro que a divertida premissa não poderia deixar de nos cativar, principalmente pelo histórico de Lopez no gênero. E, ainda que o resultado seja sólido o suficiente para nos arrancar algumas risadas, o filme morre na praia pela quantidade excessiva de clichês e de reviravoltas previsíveis – por mais que as intenções sejam das mais honestas.

Considerando que a obra é uma rom-com, exigir uma coisa além do óbvio é, de fato, pedir demais. Afinal, Jason Moore, conhecido por seu trabalho na franquia ‘A Escolha Perfeita’, não quer reinventar a roda, mas nos arrancar do nosso cotidiano por pouco mais de cem minutos para uma aventura que inclui tudo o que imaginávamos – ação, comédia, romance, drama e, como a cereja do bolo, Jennifer Coolidge. Ora, até mesmo o formulaico roteiro de Mark Hammer funciona em boa parte, valendo-se dos clichês supracitados e, ao mesmo tempo, oferecendo um protagonismo feminino que se afasta dos estereótipos. Entretanto, essas múltiplas peças não são justapostas da maneira correta, tornando-se fragmentos de uma estrutura desequilibrada que não sabe em que caminho seguir e no que focar.

Lopez tem uma longa carreira no circuito cinematográfico, que inclui dramas biográficos (‘Selena’, ‘As Golpistas’), thrillers de suspense (‘Anaconda’, ‘O Garoto da Casa ao Lado’) e, é claro, as rom-coms (‘A Sogra’, ‘Uma Nova Chance’ e tantas outras). E, depois de ter estrelado ‘Case Comigo’ ao lado de Owen Wilson e Maluma, ela retorna em forma e sabendo que não precisa mais provar nada para ninguém – motivo pelo qual se diverte do começo ao fim. A princípio, a atriz e cantora dividiria os holofotes com Armie Hammer, que foi demitido do projeto após as acusações de abuso sexual e canibalismo; logo, ela firmou parceria com Duhamel, que não é estranho ao gênero (visto que participou da ótima iteração ‘Com Amor, Simon’). Os dois sabem o que estão fazendo, mas a química simplesmente não existe; em outras palavras, eles funcionam muito melhor quando estão sozinhos do que quando lutam contra seus algozes e tentam salvar a família de uma possível e trágica morte.

É necessário dar destaque ao elenco coadjuvante, que faz o máximo possível com construções que não vão muito para além da superfície. Como já mencionado, Coolidge se lança novamente a uma atuação exagerada e hilária, interpretando Carol, mãe de Tom – e estrelando a melhor cena do longa-metragem, em que toma uma espingarda em mãos e se revolta contra os piratas. Temos também a presença ilustre de Sônia Braga como Renata, mãe de Darcy, Lenny Kravitz como o charmoso Sean, ex-namorado da protagonista, e D’Arcy Carden como a espiritualizada e controversa Harriet. Cada um tem o seu momento de brilhar, entregando falas memoráveis e permitindo que nos envolvamos com a ideia da narrativa.

O grande problema do longa é a execução. A produção tem apenas uma hora e quarenta de duração, mas arrasta-se em sequências que poderiam muito bem não existir, como diálogos repetitivos e cansativos que vão de lugar nenhum a nenhum lugar. Isso não seria um obstáculo caso Hammer e Moore contribuíssem com uma visão estética mais firme – como no recente ‘Cidade Perdida’, que consegue se afastar dos clichês através de tiradas convincentes e consistentes quebras de expectativa. Contudo, as múltiplas partes não se encaixam e se transformam em um aglomerado de incursões panfletárias (como a indiferente fotografia e a monótona trilha sonora), pinceladas com efeitos visuais que parecem descartados da The CW.

Casamento Armado diverte, mas isso não significa que não poderia ser melhor. Não há muito o que discorrer sobre um filme que não acredita em si mesmo e que desperdiça o potencial de um time competente em prol de nada. Porém, ainda que os deslizes gritem em cena, é impossível não arrancar um sorrido quando Lopes e Duhamel unem forças para lutar contra os bandidos e alcançam um “felizes para sempre” aos trancos e barrancos.

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