O que é o amor? Assim, de verdade, existe alguma coisa específica que define que determinado sentimento é o amor? Existe algo que nos ilumine, que nos esclareça que aquela pessoa na nossa frente é A pessoa, aquela que nos foi designada, aquela com quem passaremos o resto das nossas vidas amando? Qual e como é o momento em que isso se define? E, havendo a definição, como fica todo o resto que não foi escolhido? Essas e outras questões são levantadas no filme ‘Casamento em Família’, estreia da semana nos cinemas brasileiros neste fim de semana.
Michelle (Emma Roberts) e Allen (Luke Bracey) são namorados há anos. Ela tem o sonho de casar e acha que os dois estão no momento certo para dar esse passo na relação; ele acredita que o que os dois têm é especial e que não precisam dessa amarra burocrática para definir quem são. Quando os dois chegam nesse precipício do relacionamento, há um impasse, e o casal precisa definir o que querem para si. Para isso, os dois esperam poder contar com os ensinamentos de seus próprios pais, Grace (Diane Keaton), Howard (Richard Gere), Sam (William H. Macy) e Monica (Susan Sarandon), por verem neles o exemplo máximo do verdadeiro amor. Acontece que os quatro andam repensando suas próprias escolhas, e não estão muito certos de que tomaram o melhor caminho em suas vidas.
Escrito e dirigido por Michael Jacobs, ‘Casamento em Família’ é, resumidamente, uma verborrágica crônica do amor e do desamor. Para isso, ao longo das uma hora e trinta de duração o espectador é presenteado por diálogos infinitos e filosóficos sobre o que é o amor, suas manifestações, a inquietação humana do que e do como ele se manifesta, enfim, as inseguranças todas que permeiam as interações interpessoais ao longo de nossas vidas. Os diálogos, entretanto, são tão maçantes, que cansam, como se a proposta oculta do filme fosse tentar traçar um tratado das relações amorosas, apresentados em um tom totalmente teatral, com personagens agindo e se deslocando com muita encenação e pouca fluidez.
Isso ajuda a conferir uma vibe esquisita ao longa, que chega aos cinemas com o aspecto de comédia romântica mas que é, na verdade, um drama que busca debater profundamente os percalços da monogamia. Aliás, esse é o cerne da problemática de ‘Casamento em Família’: enxergar a monogamia como a única possibilidade da relação amorosa, sendo este o drama principal dos três casais em cena que, infelizes, mais parecem buscar argumentos que validem continuarem na situação em que já estão.
Ao trazer um elenco já conhecido por grandes papéis em comédias românticas, a produção consegue chamar a atenção do público, porém, ‘Casamento em Família’ é um ensaio sobre o amor burocrático, exigente e sufocante, que deixa de lado as outras possibilidades de relacionamento amoroso. Lançado lá fora para o Dia de São Valentim (o Dia dos Namorados em muitos países), ‘Casamento em Família’ é um filme muito mais reflexivo do que de entretenimento, que, ao ser lançado no pós-Carnaval, chega dissonante e com um marketing que frustra as expectativas do espectador.