Comédias românticas costumam ter o apreço do público por inúmeros motivos: uma despojada e despretensiosa narrativa que segue “regras” conhecidas do gênero, personagens arquetípicos e bastante charmosos, e o clássico convencionalismo do final feliz que transforma tudo isso em uma aprazível jornada que nos deixa satisfeitos e contentes com exatamente aquilo que nos foi prometido. Porém, isso nem sempre funciona, ainda mais quando o próprio filme tenta se levar a sério ou tenta abraçar os clichês com tamanha força, que chega a ser cansativo continuar prevendo tudo o que vai acontecer. E, bom, esse é o caso de ‘Casamentos Cruzados’.
A recente rom-com do Prime Video aposta fichas em aventura multi-geracional que acompanha dois núcleos distintos: o primeiro deles mostra Jim (Will Ferrell), pai solteiro que se anima com o retorno da única filha, Jenni (Geraldine Viswanathan), para casa, depois de um longo tempo na faculdade. Tendo perdido a esposa há vários anos, Jenni é o único membro de sua família que restou e, por essa razão, acaba se tornando superprotetor e posando como um melhor amigo inestimável da filha. Porém, as coisas mudam quando ela anuncia que está noiva de Oliver (Stony Blyden) – levando Jim a perceber que irá “perder” Jenni. De qualquer maneira, ela resolve dar à filha a melhor festa de casamento possível e aluga uma pequena ilha onde ele e sua falecida esposa consumaram matrimônio.
O segundo parte de uma premissa similar, mas dessa vez nos apresentando a Margot (Reese Witherspoon), uma bem-sucedida produtora de reality shows que descobre que a irmã mais nova, Neve (Meredith Hagner), foi pedida em casamento por Dixon (Jimmy Tatro). Margot fica muito feliz pela irmã e resolve presenteá-la com uma estonteante festa de casamento, visto que deseja honrar a memória da avó e entrar em uma espécie de conflito com a mãe, Celia (Flora), que nunca a apoiou e sempre posou como uma tradicionalista mulher que sempre fez questão de diminuí-la. Porém, considerando que Neve quer a família reunida, Margot faz o máximo para engolir os sapos e garantir que nada dê errado.
É claro que as coisas não saem como o planejado e, por um erro de logística, os responsáveis pela paradisíaca ilha onde os casamentos irão acontecer marcam ambas as cerimônias para o mesmo final de semana – levando Jim e Margot a, a princípio, tentarem dividir os locais, mas logo entrando em um embate que coloca o relacionamento dos dois com seus entes queridos em xeque. E, enquanto essa ambientação é bastante familiar para os fãs de rom-com, nada poderia nos preparar para uma mixórdia sem vida de fórmulas e convencionalismos que nem mesmo consegue se transmutar em uma investida divertida.
O projeto é marcado por inúmeros problemas – o que vem com infortúnio tristonho, principalmente com os nomes envolvidos na construção do longa-metragem. Nicholas Stoller, que nos entregou uma das melhores comédias românticas dos últimos anos com a espetacular ‘Mais que Amigos’, encabeça o filme e fica responsável pelo roteiro; todavia, à medida que os atos vão sendo delineados, percebemos que a firme filmografia do cineasta não foi o suficiente para deixá-lo em sua zona de conforto. Pelo contrário, Stoller soa cansado dentro dos próprios limites, como se não tivesse força o suficiente para se abrir a nada novo. O resultado não poderia ser outro: seja em diálogos risíveis e vergonhosos, seja em uma direção quadrada e que aposta em construções óbvias, a obra luta para ter qualquer respiro.
Em virtude de um fraco roteiro, não há muito que um elenco de ponta possa fazer. Afinal, conhecemos o timing cômico e a versatilidade performática de Ferrell e Witherspoon, que já eternizaram inúmeros personagens na sétima arte e na televisão de maneira fluida e sem esforços. Mas nem a dupla salva a obra de um fracasso quase completo – e ambos os atores pecam pela completa falta de química (algo que, mesmo em produções com recepção divisiva, sempre foi alvo de comentários pelo público e pelos críticos). Não há qualquer elemento que garanta seu carisma quando dividem os holofotes em cena, e a personalidade controversa de seus personagens os transformam em androides sem vida que apenas navegam pelo fluxo de um filme descartável e esquecível.
Ironicamente, Ferrell e Witherspoon funcionam sozinhos e retraídos em seus respectivos núcleos – e o restante dos atores e das atrizes até se esforça um pouco mais, com destaque às divertidas rendições de Leanne Morgan como Gwyneth, uma das outras irmãs de Margot, e de Jack McBrayer como Leslie, o concierge do hotel-ilha onde os casamentos irão ocorrer.
‘Casamentos Cruzados’ é um filme esquecível e que não deixa qualquer marca no espectador – apenas uma frustrante realização de que, à medida que os créditos de encerramento sobem nas telas, as coisas poderiam ter sido muito mais bem feitas caso houvesse um pouco mais de comprometimento por parte de cada um dos membros envolvidos no projeto.