sábado , 4 janeiro , 2025

Crítica | Cem Anos de Solidão – Adaptação da Netflix está à Altura de Clássico de Gabriel García Márquez

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Em 1982 o escritor colombiano Gabriel García Márquez ganhou o prêmio Nobel, um dos mais importantes da literatura mundial, com seu livro ‘Cem Anos de Solidão’, publicado inicialmente em 1967. Considerado por muitos uma obra inadaptável, o romance atravessou gerações de leitores e se mantém até hoje como um dos livros mais amados do mundo, embora muitos leitores também reconheçam a complexidade de sua história. García Márquez é conhecido também como um dos maiores representantes da corrente chamada de realismo fantástico, que percorreu a literatura latino-americana e teve seu auge entre as décadas de 1960 e 1970. Intocável durante tanto tempo, foi com um misto de surpresa e apreensão que os espectadores receberam a notícia da adaptação, pela Netflix, da obra do colombiano. E o resultado chegou aos assinantes da plataforma no final de 2024.

cem anos de solidão



José Arcadio Buendía (Marco González) e Úrsula Iguarán (Susana Morales) são primos e estão completamente apaixonados. Quando os dois se casam, a mãe de Úrsula conta-lhe de uma maldição familiar que poderia transformar seus bebês em crianças com rabo de porco. Após uma tragédia na vila e com medo de que a maldição se concretizasse, José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán decidem deixar suas casas, junto com outras pessoas, e, após perambularem por muito tempo, acampam em um local perto do mangue – local este ao qual dariam o nome de Macondo. A partir daí, a família Buendía começa a crescer, bem como toda a Macondo, e a passagem do tempo e a chegada e partida de novas pessoas impactam diretamente no destino de cada um dos Buendía.

Dividida em oito episódios de uma hora de duração cada, a primeira temporada de ‘Cem Anos de Solidão’ (e a segunda já está confirmada) consegue transpor em imagens toda a essência da obra laureada pelo Nobel de Literatura. O roteiro, escrito a muitas mãos, faz escolhas interessantes para a adaptação cinematográfica, como a manutenção de um narrador onipresente (na voz de Jesus Reyes) e a objetividade em evidenciar a força motriz da matriarca da família, Úrsula Iguarán, muito embora a história seja sobre a saga da família Buendía (com maioria de personagens masculinos). Assim, embora a história siga esses protagonistas homens em seu desenrolar, toda grande guinada na trama passa pelas decisões de Úrsula, tal qual a maioria das famílias latino-americanas lideradas por uma matriarca que a sustenta figurativa e praticamente.

cem anos de solidão

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Para quem curte grandes sagas épicas, como ‘O Senhor dos Anéis’ ou ‘Game of Thrones, ‘Cem Anos de Solidão’ vai no mesmo caminho – não tanto no sentido de guerra e disputa (embora haja no enredo), mas principalmente no sentido de ser um enredo bastante complexo, com muitos personagens que se interligam através de sobrenomes e nomes parecidos, famílias grandes e relações moralmente questionáveis.

E assim como toda boa saga épica, é difícil não se apegar a personagens queridos, mesmo que por vezes eles tenham atitudes contraditórias, como o bonitão José Arcadio (Édgar Vittorino), o Coronel Aureliano (Claudio Cataño Porras) ou Remedios Moscote (Cristal Aparicio). Com um elenco bastante entregue às suas próprias raízes, os personagens ganham profundidade e personalidades fortes, cada um à sua maneira, oferecendo ao espectador experiências diversas, desde a raiva profunda ao crush eterno.

Esteticamente, ‘Cem Anos de Solidão’ é uma série impressionante, no real sentido da palavra. Tudo é grandioso ali, desde a construção do set que dá vida à Macondo, passando pelo figurino preciso, a caracterização bem realizada e, acima de tudo, a produção de arte estonteante. Pudera! Para que a gente possa se entregar aos episódios mágicos da saga dos Buendía, era preciso que os olhos se deslumbrassem com a beleza dos objetos de cena.

Mulher séria em cozinha rústica repleta de objetos

O que talvez enfraqueça a produção seja as muitas (e longas) cenas de sexo, ausentes nessa intensidade na obra literária e que acabam ocupando muito tempo nessa primeira temporada, especialmente nos primeiros episódios.

Muito bem-feita e imersa no imaginativo lúdico de García Márquez, a primeira temporada de ‘Cem Anos de Solidão’ é um lindo presente de fim de ano da Netflix aos apaixonados leitores e um convite a quem nunca se aproximou da obra do autor colombiano: ‘Cem Anos de Solidão’ é a chance de entrar na mágica Macondo e se maravilhar pelo mundo através dos olhos dos Buendía.

Três homens estudam mapa à luz de vela

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Crítica | Cem Anos de Solidão – Adaptação da Netflix está à Altura de Clássico de Gabriel García Márquez

Em 1982 o escritor colombiano Gabriel García Márquez ganhou o prêmio Nobel, um dos mais importantes da literatura mundial, com seu livro ‘Cem Anos de Solidão’, publicado inicialmente em 1967. Considerado por muitos uma obra inadaptável, o romance atravessou gerações de leitores e se mantém até hoje como um dos livros mais amados do mundo, embora muitos leitores também reconheçam a complexidade de sua história. García Márquez é conhecido também como um dos maiores representantes da corrente chamada de realismo fantástico, que percorreu a literatura latino-americana e teve seu auge entre as décadas de 1960 e 1970. Intocável durante tanto tempo, foi com um misto de surpresa e apreensão que os espectadores receberam a notícia da adaptação, pela Netflix, da obra do colombiano. E o resultado chegou aos assinantes da plataforma no final de 2024.

cem anos de solidão

José Arcadio Buendía (Marco González) e Úrsula Iguarán (Susana Morales) são primos e estão completamente apaixonados. Quando os dois se casam, a mãe de Úrsula conta-lhe de uma maldição familiar que poderia transformar seus bebês em crianças com rabo de porco. Após uma tragédia na vila e com medo de que a maldição se concretizasse, José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán decidem deixar suas casas, junto com outras pessoas, e, após perambularem por muito tempo, acampam em um local perto do mangue – local este ao qual dariam o nome de Macondo. A partir daí, a família Buendía começa a crescer, bem como toda a Macondo, e a passagem do tempo e a chegada e partida de novas pessoas impactam diretamente no destino de cada um dos Buendía.

Dividida em oito episódios de uma hora de duração cada, a primeira temporada de ‘Cem Anos de Solidão’ (e a segunda já está confirmada) consegue transpor em imagens toda a essência da obra laureada pelo Nobel de Literatura. O roteiro, escrito a muitas mãos, faz escolhas interessantes para a adaptação cinematográfica, como a manutenção de um narrador onipresente (na voz de Jesus Reyes) e a objetividade em evidenciar a força motriz da matriarca da família, Úrsula Iguarán, muito embora a história seja sobre a saga da família Buendía (com maioria de personagens masculinos). Assim, embora a história siga esses protagonistas homens em seu desenrolar, toda grande guinada na trama passa pelas decisões de Úrsula, tal qual a maioria das famílias latino-americanas lideradas por uma matriarca que a sustenta figurativa e praticamente.

cem anos de solidão

Para quem curte grandes sagas épicas, como ‘O Senhor dos Anéis’ ou ‘Game of Thrones, ‘Cem Anos de Solidão’ vai no mesmo caminho – não tanto no sentido de guerra e disputa (embora haja no enredo), mas principalmente no sentido de ser um enredo bastante complexo, com muitos personagens que se interligam através de sobrenomes e nomes parecidos, famílias grandes e relações moralmente questionáveis.

E assim como toda boa saga épica, é difícil não se apegar a personagens queridos, mesmo que por vezes eles tenham atitudes contraditórias, como o bonitão José Arcadio (Édgar Vittorino), o Coronel Aureliano (Claudio Cataño Porras) ou Remedios Moscote (Cristal Aparicio). Com um elenco bastante entregue às suas próprias raízes, os personagens ganham profundidade e personalidades fortes, cada um à sua maneira, oferecendo ao espectador experiências diversas, desde a raiva profunda ao crush eterno.

Esteticamente, ‘Cem Anos de Solidão’ é uma série impressionante, no real sentido da palavra. Tudo é grandioso ali, desde a construção do set que dá vida à Macondo, passando pelo figurino preciso, a caracterização bem realizada e, acima de tudo, a produção de arte estonteante. Pudera! Para que a gente possa se entregar aos episódios mágicos da saga dos Buendía, era preciso que os olhos se deslumbrassem com a beleza dos objetos de cena.

Mulher séria em cozinha rústica repleta de objetos

O que talvez enfraqueça a produção seja as muitas (e longas) cenas de sexo, ausentes nessa intensidade na obra literária e que acabam ocupando muito tempo nessa primeira temporada, especialmente nos primeiros episódios.

Muito bem-feita e imersa no imaginativo lúdico de García Márquez, a primeira temporada de ‘Cem Anos de Solidão’ é um lindo presente de fim de ano da Netflix aos apaixonados leitores e um convite a quem nunca se aproximou da obra do autor colombiano: ‘Cem Anos de Solidão’ é a chance de entrar na mágica Macondo e se maravilhar pelo mundo através dos olhos dos Buendía.

Três homens estudam mapa à luz de vela

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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