Lançamento dos três curtas da Wallaroo Corp
O diretor, roteirista e ator Daniel Gravelli lançou, com o selo de sua produtora, a Wallaroo Corp, três curta-metragens em eventos recentes no Rio de Janeiro. Cinzas e Café, Soldado de uma Guerra Vazia e A Delirante História de um Homem Morto foram exibidos nos dias 18 (o primeiro) e 25 (os dois últimos) deste mês, na Cinemateca do MAM (Museu de Arte Moderna) para convidados, jornalistas e amigos, e o CinePOP esteve lá para documentar a estreia e comentar para você. Vamos às análises das obras.
Cinzas e Café
Neste Sex and the City tupiniquim, Gravelli assina o roteiro e a direção, contando a história de quatro amigas na faixa dos trinta e poucos anos. E o enfoque aqui é realmente na palavra amizade e sua definição mais sincera. Essas são mulheres que se conhecem há anos e de forma íntima, o que inclui frustrações de casamentos acabados, perda da guarda de filhos e, até mesmo, mudanças de opção sexual.
De conversas extrovertidas e sem papas na língua, passando por febres consumistas até a diversão em baladas, a união das personagens é ininterrupta. Além de enfatizar a vida, o curta aborda também sua contraparte, a morte, quando uma das meninas se depara com a fatalidade de uma doença incurável. No entanto, o filme mostra justamente a forma otimista com que a alarmante situação é lidada.
Existe carisma e química entre o quarteto (Andrea Schiavone, Helga Nemeczyk, Michele Capri e Adriana Rabelo), fazendo a dinâmica funcionar. Cinzas e Café conta também com a presença ilustre de André Ramiro, o eterno Matias de Tropa de Elite, vivendo um garçom, e destaca momentos honestos, como diálogos em uma mesa de bar (bem trabalhados pelo roteiro), que dão aspecto teatral ao curta, e genuínos, como um confronto feminista a uma cantada na pista de dança.
Soldado de uma Guerra Vazia
A mente é uma arma poderosa. É o que mostra o segundo curta, protagonizado por Gravelli (num verdadeiro tour de force) na pele do soldado do título. Aprisionado num quarto escuro, enquanto um conflito ocorre do lado de fora, aos poucos o personagem vai imergindo em uma espiral de insanidade e violência, ao que percebemos se tratar de manifestações psicológicas e não físicas.
Dirigido por Paulo Oliveira, com roteiro de Gravelli, este segundo curta pode ser considerado o mais intenso, um vislumbre em forma de pesadelo da psique humana. Servido de uma parte técnica apurada para um filme independente, a estética da obra é um de seus grandes chamarizes. Outro ponto chave é a citada performance do ator / roteirista, atingindo as notas certas de uma complexa e exigente atuação. A porta está aberta para as inúmeras interpretações de seu significado.
A Delirante História de um Homem Morto
Novamente assumindo a cadeira de diretor (e o roteiro), Daniel Gravelli ecoa Hitchcock (Psicose) e Polanski (Repulsa ao Sexo) em um perturbador conto, confeccionado em preto e branco, sobre um conturbado relacionamento entre mãe e filho.
A produção retoma parceria com a atriz Helga Nemeczyk, no papel da mãe (que muito bem poderia ser a senhora Bates), demonstrando o alcance performático da artista, num personagem vindo de polo extremamente oposto ao filme anterior. Dessa vez é Paulo Oliveira quem pula para frente das câmeras neste troca-troca, para viver o Norman Bates da ocasião, aprisionado pela ameaça da figura materna. Mais uma vez a combinação entre a parte estética, direção e atuações contemplam o público com criatividade e qualidade acima da média.
Ao lado dos três curtas de Daniel Gravelli, o cineasta Helvecio Parente também marcou presença, com os divertidos contos de terror Clara e No Carnaval Vale Tudo – este último contando com a presença da bela Amanda Felicori e prometendo fazer os foliões pensarem duas vezes antes de incorporarem o espírito farrista costumeiro.