domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Círculo Fechado: Steven Soderbergh entrega complexa e excepcional série criminal

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Por uma ótica microscópica, Steven Soderbergh e Ed Solomon examinam o ser humano e suas complexas relações em Círculo Fechado, fazendo um minucioso estudo de como nossas ambições, aflições e angústias nunca se resumem e se limitam a nós mesmos. E de maneira didática, a dupla criativa faz de sua nova minissérie um excepcional convite a uma experiência muito mais significativa do que esperávamos. Fazendo do entretenimento uma porta de entrada para uma profunda reflexão, a original HBO Max acompanha uma investigação de sequestro, que “coincidentemente” desvendará uma extensa e antiga teia de segredos que ligam múltiplos personagens e culturas, na Nova York contemporânea.



Passado e presente se unem aqui de forma brutal e visceral, quando ficamos diante do clímax da série. De ritmo rápido e ávida para se desabrochar perante a audiência, Círculo Fechado não perde tempo e constrói sua arquitetônica trama de maneira ágil e envolvente, mantendo o seu mistério não no óbvio, mas no que está profundamente escondido nas entrelinhas. Provando que de fato não existem coincidências, ela nos ensina o quanto nossas ações e decisões se conectam a outros desconhecidos em curto, médio e – até mesmo – em longo prazo. Em alguns casos, tais conexões são efêmeras. Na vida dos protagonistas, elas são caóticas.

E todo esse caos ganha uma beleza diferente em tela. Como thriller criminal, Círculo Fechado é exatamente aquilo que se espera de uma boa trama. Mas como uma denúncia social, ela invade outro espectro, muito mais complicado e difícil de ser ignorado. Explorando questões raciais, morais, familiares, culturais e religiosas de uma vez só, Solomon se propõe a um ardiloso desafio, que é entrar em muitas temáticas delicadas demais de uma única vez. Sabendo que possui apenas seis capítulos para esmiuçar todos os seus dilemas, ele se compromete brilhantemente com seu roteiro, abrindo um leque vasto de questionamentos e reflexões impecáveis – todas intrinsecamente conectadas à essência da trama.

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Aliado a uma direção firme, que vez outra perde seu pulso e fica confusa, o enredo de Círculo Fechado trabalha a dubiedade de todos os protagonistas, que ora orbitam na bondade e na moralidade, ora se pervertem eticamente em benefício próprio. E com o mote de que, ao final do dia, todos estão buscando sobreviver dentro de suas limitações e cenários socioculturais, a minissérie da HBO Max consegue nos arrebatar poderosamente, mantendo-se não apenas coerente, mas sempre progressiva – tanto em suas reflexões, bem como na construção de seus arcos e personagens. E com Soderbergh nos lembrando da riqueza de seu talento, ele faz da sua direção um constante contraste entre as sombras e uma luz mais amarelada, que contribui para a sensação de desconfiança e falta de clareza que cerca cada uma dessas pessoas.

Diante de tudo isso, a série consegue ser uma belíssima vitrine de talentos. De Claire Danes, a Timothy Olyphant, passando por Zazie Beetz, Dennis Quaid, Jharrel Jerome e Jim Gaffigan, Círculo Fechado é uma aula apaixonante de atuação, onde podemos testemunhar de perto uma versatilidade monstruosa de talentos em display. Com uma coletânea de performances ricas e densas, a produção consegue nos manter fixos em seus personagens, acompanhando seus movimentos e sua linguagem. E nesse espetáculo, Beetz e Jerome se destacam, em caracterizações intensas e sanguíneas. Enquanto a primeira vive uma detetive explosiva e bipolar, que ecoa boas intenções, mas opera como um trem desgovernado, levando tudo e todos consigo, o segundo é um jovem pressionado levado ao mundo do crime, que luta para provar seu valor para sua peculiar tia. Brilhando em papéis difíceis, ambos mostram uma vez mais o quão preciosos são em Hollywood.

E com um final avassalador, de partir o coração, a original HBO Max consegue unir entretenimento e denúncia social sem cair no piegas, no cafona e na falta de noção. Explorando com profundidade todos os temas aos quais se propõe, ela ainda consegue romper a barreira da sinalização de virtude, que finge preocupação com causas importantes, mas visa apenas militar em contextos rasos e personagens caricatos e cheios de frases de efeito desnecessárias. Trazendo a representatividade da forma correta (o que tem sido cada vez mais raro na indústria), Círculo Fechado é a HBO em sua melhor forma, sem limitações e concessões. Nos consumindo gradativamente ao longo de seis episódios, a nova minissérie é a mais pura expressão daquele tipo entretenimento que sabe gerar valor em nós.

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Crítica | Círculo Fechado: Steven Soderbergh entrega complexa e excepcional série criminal

Por uma ótica microscópica, Steven Soderbergh e Ed Solomon examinam o ser humano e suas complexas relações em Círculo Fechado, fazendo um minucioso estudo de como nossas ambições, aflições e angústias nunca se resumem e se limitam a nós mesmos. E de maneira didática, a dupla criativa faz de sua nova minissérie um excepcional convite a uma experiência muito mais significativa do que esperávamos. Fazendo do entretenimento uma porta de entrada para uma profunda reflexão, a original HBO Max acompanha uma investigação de sequestro, que “coincidentemente” desvendará uma extensa e antiga teia de segredos que ligam múltiplos personagens e culturas, na Nova York contemporânea.

Passado e presente se unem aqui de forma brutal e visceral, quando ficamos diante do clímax da série. De ritmo rápido e ávida para se desabrochar perante a audiência, Círculo Fechado não perde tempo e constrói sua arquitetônica trama de maneira ágil e envolvente, mantendo o seu mistério não no óbvio, mas no que está profundamente escondido nas entrelinhas. Provando que de fato não existem coincidências, ela nos ensina o quanto nossas ações e decisões se conectam a outros desconhecidos em curto, médio e – até mesmo – em longo prazo. Em alguns casos, tais conexões são efêmeras. Na vida dos protagonistas, elas são caóticas.

E todo esse caos ganha uma beleza diferente em tela. Como thriller criminal, Círculo Fechado é exatamente aquilo que se espera de uma boa trama. Mas como uma denúncia social, ela invade outro espectro, muito mais complicado e difícil de ser ignorado. Explorando questões raciais, morais, familiares, culturais e religiosas de uma vez só, Solomon se propõe a um ardiloso desafio, que é entrar em muitas temáticas delicadas demais de uma única vez. Sabendo que possui apenas seis capítulos para esmiuçar todos os seus dilemas, ele se compromete brilhantemente com seu roteiro, abrindo um leque vasto de questionamentos e reflexões impecáveis – todas intrinsecamente conectadas à essência da trama.

Aliado a uma direção firme, que vez outra perde seu pulso e fica confusa, o enredo de Círculo Fechado trabalha a dubiedade de todos os protagonistas, que ora orbitam na bondade e na moralidade, ora se pervertem eticamente em benefício próprio. E com o mote de que, ao final do dia, todos estão buscando sobreviver dentro de suas limitações e cenários socioculturais, a minissérie da HBO Max consegue nos arrebatar poderosamente, mantendo-se não apenas coerente, mas sempre progressiva – tanto em suas reflexões, bem como na construção de seus arcos e personagens. E com Soderbergh nos lembrando da riqueza de seu talento, ele faz da sua direção um constante contraste entre as sombras e uma luz mais amarelada, que contribui para a sensação de desconfiança e falta de clareza que cerca cada uma dessas pessoas.

Diante de tudo isso, a série consegue ser uma belíssima vitrine de talentos. De Claire Danes, a Timothy Olyphant, passando por Zazie Beetz, Dennis Quaid, Jharrel Jerome e Jim Gaffigan, Círculo Fechado é uma aula apaixonante de atuação, onde podemos testemunhar de perto uma versatilidade monstruosa de talentos em display. Com uma coletânea de performances ricas e densas, a produção consegue nos manter fixos em seus personagens, acompanhando seus movimentos e sua linguagem. E nesse espetáculo, Beetz e Jerome se destacam, em caracterizações intensas e sanguíneas. Enquanto a primeira vive uma detetive explosiva e bipolar, que ecoa boas intenções, mas opera como um trem desgovernado, levando tudo e todos consigo, o segundo é um jovem pressionado levado ao mundo do crime, que luta para provar seu valor para sua peculiar tia. Brilhando em papéis difíceis, ambos mostram uma vez mais o quão preciosos são em Hollywood.

E com um final avassalador, de partir o coração, a original HBO Max consegue unir entretenimento e denúncia social sem cair no piegas, no cafona e na falta de noção. Explorando com profundidade todos os temas aos quais se propõe, ela ainda consegue romper a barreira da sinalização de virtude, que finge preocupação com causas importantes, mas visa apenas militar em contextos rasos e personagens caricatos e cheios de frases de efeito desnecessárias. Trazendo a representatividade da forma correta (o que tem sido cada vez mais raro na indústria), Círculo Fechado é a HBO em sua melhor forma, sem limitações e concessões. Nos consumindo gradativamente ao longo de seis episódios, a nova minissérie é a mais pura expressão daquele tipo entretenimento que sabe gerar valor em nós.

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