Uma curta jornada no falecido streaming YouTube Red, um sucesso à galope mediante sua chegada na Netflix e cá estamos. Cobra Kai apresenta seu ato final a conta gotas e convida a audiência a desfrutar de seus últimos episódios com cautela e paciência. Coroando os instantes remanescentes de sua inesperada jornada de popularidade com o aguardado campeonato Sekai Taikai, as duas primeiras partes da sexta temporada entremeiam os dilemas familiares na burocracia e desafios de um evento esportivo grandioso. E entre momentos nostálgicos que flertam com o humor dos anos 80 e os fatigados traumas e complexos juvenis que continuam andando em círculos, a série sequência de Karate Kid começa a se despedir. Mas o faz a passos de tartaruga.
As desavenças culturais e comportamentais entre Daniel Larusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) e a tirania vilanesca de figuras como John Kreese (Martin Kove) e Terry Silver (Thomas Ian Griffith) ditam o ritmo dos novos episódios, à medida em que os problemas exagerados do elenco adolescente continuam a conduzir o nível de profundidade da trama. Ainda não se levando tão a sério, mas também vez outra forçando um dramalhão novelesco, Cobra Kai chega em sua última temporada como um prazer culposo que, embora permaneça divertidíssimo, já estende suas boas-vindas mais do que deveria. E sem muitas rotas novas para seguir, a trama aqui se torna prolixa, um pouco enfadonha e muito repetitiva.
Se apoiando mais do que nunca no carisma de seu elenco original e na ótima dinâmica contrastante entre ele e seus protagonistas jovens, Cobra Kai ainda tem seu brilho e apelo popular, mas prova que seus limites criativos atingiram o ponto máximo. E com dificuldades de se despedir da audiência, o showrunner Jon Hurwitz tenta esticar os arcos o quanto pode, com proselitismo narrativo, ruminando os dilemas dos personagens e os reiterando a cada 20 minutos, sem oferecer algo novo por qualquer ponto de vista. E assim, entre uma treta e outra que se resolve facilmente – mas também se repete como se nada tivesse acontecido -, os capítulos finais entregam pouco, na expectativa de que as cenas de ação escondam as rachaduras de um roteiro fraco.
E, honestamente, até funciona. Ainda que o dramalhão tão prazeroso de outrora retorne aqui mais desgastado, Cobra Kai cresce em tela quando as miudezas juvenis são silenciadas e resolvidas nos confrontos corpo a corpo. Com um campeonato mirabolante repleto de provas aleatórias que não fazem muito sentido na vida real, Sekai Taikai é apresentado na trama como um divisor de águas, algo que separa homens de garotos e mulheres de meninas. Como uma provação quase metafísica, o torneio é também uma metáfora do contexto pessoal de seus personagens e serve de lição para as agruras da vida adulta. Adicione a isso umas psicodelias extravagantes, como o sequestro de Larusso por um ávido sensei, e temos uma temporada final pitoresca que mira para todos os lados, na tentativa de acertar alguma coisa.
Entre erros, acertos, tropeços e pequenos desvios de foco, a última temporada da original Netflix é uma mistura desorganizada, que tenta caminhar para a reta final, mas não sem antes criar pequenas complicações irrelevantes nos arcos de seus elencos. Com ambições desnecessárias que visam fortalecer a conexão da audiência a partir de um sentimentalismo barato, os 10 capítulos já disponíveis seriam mais do que o bastante para encerrar a jornada da amada produção, mas aqui são apens estepes que impedem a narrativa de fluir naturalmente. Mas tentando extrair cada pequena gota dessa seiva, Hurwitz não cede e se aproveita de seu próprio sucesso para postergar seu adeus enquanto ainda pode, mesmo que isso lhe custe a excelência da série que criou. E sem saber o que esperar do verdadeiro fim de Cobra Kai, fica a esperança de que ela não seja vítima do mesmo ego algoz que custou a eternização de tantas outras brilhantes séries que não souberam a hora de parar.