quinta-feira , 26 dezembro , 2024

Crítica | Com Amor, Van Gogh – emocionante animação adulta indicada ao Oscar 2018

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Uma carta de amor aos artistas

Animações adultas deveriam ter uma categoria própria em premiações de cinema. O que ocorre é o seguinte: embora os avaliadores da honraria sejam adultos, e olhem para filmes mirados aos pequenos e grandinhos da mesma forma, o público talvez não perceba este grande abismo de significado entre as mensagens de longas animados. Ou seja, a garotada talvez não entenda porque seus filmes bonitinhos preferidos, vide O Touro Ferdinando e O Poderoso Chefinho, correm o risco de perder para uma animação “chata” (na mente deles) como este Com Amor, Van Gogh. Obviamente, temos as exceções – filmes bonitinhos com muita relevância – é o caso com Viva: A Vida é uma Festa.

Sem querer jogar água fria na criançada, Com Amor, Van Gogh está realmente em outro patamar, e muito bem poderia ter sido realizado em live action. Seja como for, o visual da animação, toda criada reproduzindo as obras do artista assunto do filme, sem dúvidas é um dos chamarizes – alguns inclusive apontam como sendo o único chamariz, definição da qual não poderia discordar mais veementemente.



Com Amor, Van Gogh está indicado ao Oscar na categoria animação, e apresenta a trajetória do pintor holandês Vincent Van Gogh, numa biografia tão inusitada e criativa, que ao lado de Eu, Tonya cria uma dobradinha como os dois filmes do subgênero mais fora da caixinha desta edição do Oscar, quiçá dos últimos anos – ou décadas.

Aqui, todos os personagens do filme são criações das pinturas do artista, reproduzindo sua estética em todas as cenas. Como não bastasse se perder numa viagem psicodélica em suas pinturas à base de óleo, com uma produção altamente lisérgica, garantido de te entorpecer sem a necessidade do consumo de nenhuma droga, Com Amor, Van Gogh conta com um roteiro muito esforçado, escrito pelos diretores do longa, Dorota Kobiela e Hugh Welchman (em parceira com Jacek Dehnel).

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Na trama, Armand Roulin (Douglas Booth) é o filho de um amigo do pintor, que investiga sua misteriosa morte, interrogando todas as pessoas com quem Van Gogh teve contato desde sua chegada em Paris. E assim, através de flashbacks de uma investigação policial – não por menos o personagem viria a se tornar um agente da lei – se desenrola esta incomum biografia sobre o famoso artista. Outro aspecto bem interessante do longa é que o homenageado surge como personagem coadjuvante de seu próprio filme, sendo apenas o motivador desta narrativa.

Suicídio ou assassinato? Os inúmeros entrevistados durante esta animação quase documental dão suas versões de quem era Van Gogh, seu relacionamento com ele, e o que acreditam ter acontecido – desde uma paixão platônica (Saoirse Ronan, em seu segundo filme do Oscar 2018), a dona de uma hospedagem na qual o artista viveu (Eleanor Tomlinson), um carteiro amigo (Chris O´Dowd) e seu médico e mentor (Jerome Flynn, o Bronn de Game of Thrones). O fato é: depois de cambalear entre altos e baixos em seu emocional, a chamada depressão atual, o que o internou em um sanatório por determinado período, Van Gogh parecia bem e calmo – isto é, depois de cortar a própria orelha e a entregar como presente para uma prostituta por quem era apaixonado. Num dia fatídico o artista chega gravemente ferido, com um tiro na barriga e moribundo aguarda a morte na cama de sua hospedagem, enquanto recebe suas últimas visitas. Uma das teorias apresentadas do que de fato pode ter ocorrido, envolvia sua constante hostilização por moradores da cidade, inclusive crianças, que não o deixavam trabalhar.

Mais do que tudo, Com Amor, Van Gogh é uma carta de amor, uma declaração na forma de filme para todos os artistas famintos, que ainda não prosperaram, mas seguem na luta – muitos dos quais não conseguirão emplacar na carreira dos sonhos, a qual tanto almejam. O filme fala diretamente com qualquer um de nós, que seguimos em nossa batalha diária, e que conseguimos conquistar um pouco a cada dia, do zero, mesmo quando tudo conspira contra.

Van Gogh foi exatamente assim. Pintor autoproclamado aos 28 anos, quando nada mais deu certo profissionalmente, que durante 8 anos (seu tempo de existência profissional – muito pouco se formos pensar para os padrões de hoje, mas que para a época, na qual a expectativa de vida era muito mais baixa, nem tanto) viveu intensamente seu sonho, produzindo mais de 800 peças artísticas – suas variadas pinturas. De todas estas, o artista conseguiu vender apenas uma em vida. Seus dilemas eram os mesmos que os nossos, Van Gogh, hoje considerado uma lenda, assim como a maioria dos artistas do passado, morreu sem ser reconhecido, vindo a se tornar uma figura icônica depois de seu tempo.

Triste, melancólico e extremamente identificável, Com Amor, Van Gogh é uma cinebiografia única, que conseguiu acertar em cheio a alma deste amigo que vos fala, como poucos filmes fizeram no passado. Comparando, dadas as devidas proporções, fala tão profundamente sobre aspirações, expectativas e sonhos não cumpridos quanto o essencial Elena (2013), documentário da brasileira Petra Costa sobre sua irmã, que almejava o sucesso em Hollywood e terminou por tirar a própria vida quando o objetivo se mostrou cada vez mais longe de ser atingido. O mal que assola o mundo moderno, a depressão, assim como todos os aspectos que nos formam como humanos em sociedade, não vem de hoje. Só mudou de nome.

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Animações adultas deveriam ter uma categoria própria em premiações de cinema. O que ocorre é o seguinte: embora os avaliadores da honraria sejam adultos, e olhem para filmes mirados aos pequenos e grandinhos da mesma forma, o público talvez não perceba este grande abismo de significado entre as mensagens de longas animados. Ou seja, a garotada talvez não entenda porque seus filmes bonitinhos preferidos, vide O Touro Ferdinando e O Poderoso Chefinho, correm o risco de perder para uma animação “chata” (na mente deles) como este Com Amor, Van Gogh. Obviamente, temos as exceções – filmes bonitinhos com muita relevância – é o caso com Viva: A Vida é uma Festa.

Sem querer jogar água fria na criançada, Com Amor, Van Gogh está realmente em outro patamar, e muito bem poderia ter sido realizado em live action. Seja como for, o visual da animação, toda criada reproduzindo as obras do artista assunto do filme, sem dúvidas é um dos chamarizes – alguns inclusive apontam como sendo o único chamariz, definição da qual não poderia discordar mais veementemente.

Com Amor, Van Gogh está indicado ao Oscar na categoria animação, e apresenta a trajetória do pintor holandês Vincent Van Gogh, numa biografia tão inusitada e criativa, que ao lado de Eu, Tonya cria uma dobradinha como os dois filmes do subgênero mais fora da caixinha desta edição do Oscar, quiçá dos últimos anos – ou décadas.

Aqui, todos os personagens do filme são criações das pinturas do artista, reproduzindo sua estética em todas as cenas. Como não bastasse se perder numa viagem psicodélica em suas pinturas à base de óleo, com uma produção altamente lisérgica, garantido de te entorpecer sem a necessidade do consumo de nenhuma droga, Com Amor, Van Gogh conta com um roteiro muito esforçado, escrito pelos diretores do longa, Dorota Kobiela e Hugh Welchman (em parceira com Jacek Dehnel).

Na trama, Armand Roulin (Douglas Booth) é o filho de um amigo do pintor, que investiga sua misteriosa morte, interrogando todas as pessoas com quem Van Gogh teve contato desde sua chegada em Paris. E assim, através de flashbacks de uma investigação policial – não por menos o personagem viria a se tornar um agente da lei – se desenrola esta incomum biografia sobre o famoso artista. Outro aspecto bem interessante do longa é que o homenageado surge como personagem coadjuvante de seu próprio filme, sendo apenas o motivador desta narrativa.

Suicídio ou assassinato? Os inúmeros entrevistados durante esta animação quase documental dão suas versões de quem era Van Gogh, seu relacionamento com ele, e o que acreditam ter acontecido – desde uma paixão platônica (Saoirse Ronan, em seu segundo filme do Oscar 2018), a dona de uma hospedagem na qual o artista viveu (Eleanor Tomlinson), um carteiro amigo (Chris O´Dowd) e seu médico e mentor (Jerome Flynn, o Bronn de Game of Thrones). O fato é: depois de cambalear entre altos e baixos em seu emocional, a chamada depressão atual, o que o internou em um sanatório por determinado período, Van Gogh parecia bem e calmo – isto é, depois de cortar a própria orelha e a entregar como presente para uma prostituta por quem era apaixonado. Num dia fatídico o artista chega gravemente ferido, com um tiro na barriga e moribundo aguarda a morte na cama de sua hospedagem, enquanto recebe suas últimas visitas. Uma das teorias apresentadas do que de fato pode ter ocorrido, envolvia sua constante hostilização por moradores da cidade, inclusive crianças, que não o deixavam trabalhar.

Mais do que tudo, Com Amor, Van Gogh é uma carta de amor, uma declaração na forma de filme para todos os artistas famintos, que ainda não prosperaram, mas seguem na luta – muitos dos quais não conseguirão emplacar na carreira dos sonhos, a qual tanto almejam. O filme fala diretamente com qualquer um de nós, que seguimos em nossa batalha diária, e que conseguimos conquistar um pouco a cada dia, do zero, mesmo quando tudo conspira contra.

Van Gogh foi exatamente assim. Pintor autoproclamado aos 28 anos, quando nada mais deu certo profissionalmente, que durante 8 anos (seu tempo de existência profissional – muito pouco se formos pensar para os padrões de hoje, mas que para a época, na qual a expectativa de vida era muito mais baixa, nem tanto) viveu intensamente seu sonho, produzindo mais de 800 peças artísticas – suas variadas pinturas. De todas estas, o artista conseguiu vender apenas uma em vida. Seus dilemas eram os mesmos que os nossos, Van Gogh, hoje considerado uma lenda, assim como a maioria dos artistas do passado, morreu sem ser reconhecido, vindo a se tornar uma figura icônica depois de seu tempo.

Triste, melancólico e extremamente identificável, Com Amor, Van Gogh é uma cinebiografia única, que conseguiu acertar em cheio a alma deste amigo que vos fala, como poucos filmes fizeram no passado. Comparando, dadas as devidas proporções, fala tão profundamente sobre aspirações, expectativas e sonhos não cumpridos quanto o essencial Elena (2013), documentário da brasileira Petra Costa sobre sua irmã, que almejava o sucesso em Hollywood e terminou por tirar a própria vida quando o objetivo se mostrou cada vez mais longe de ser atingido. O mal que assola o mundo moderno, a depressão, assim como todos os aspectos que nos formam como humanos em sociedade, não vem de hoje. Só mudou de nome.

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