domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Com Shyamalan controlado, ‘Batem à Porta’ é um suspense MORNO com boas atuações

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Famoso – e algumas vezes até ridicularizado – por seus filmes repletos de reviravoltas impressionantes, o diretor M. Night Shyamalan se tornou um dos nomes mais controversos dos últimos anos. Dividindo opiniões de quem o ama e quem o odeia, o diretor emplacou alguns sucessos expressivos e outros fracassos bastante incômodos para sua carreira. Agora, chega aos cinemas seu mais novo projeto: Batem à Porta. Inspirado no livro O Chalé no Fim do Mundo, o longa conta com um trabalho mais contido do diretor, que contraria as expectativas daqueles que faziam graça de Shyamalan.



Isso porque a trama gira em torno de um casal LGBTQIA+ que vai passar as férias com sua filhinha de descendência asiática em uma cabana na floresta. Tudo vai bem, até que quatro pessoas completamente aleatórias surgem anunciando a vinda iminente do apocalipse. Até aí, isso poderia tranquilamente ser um episódio de Modern Family, só que esse quarteto do mal diz que o trio é o único capaz impedir o fim do mundo. Basta escolher um membro da família para morrer nas próximas 24h. Caso contrário, o armageddon será inevitável.

Partindo dessa premissa, o filme constrói um suspense que não traz muitas reviravoltas. Na verdade, ao contrário do esperado de um longa de Shyamalan, ele já põe as cartas na mesa logo nos primeiros minutos, deixando claro que o mistério da história se resume a: esses quatro doidões estão falando a verdade ou não passam de lunáticos religiosos movidos por algum tipo de culto? Só que enquanto o tempo passa, o casal principal fica amarrado, debatendo e tentando chegar a um consenso se eles irão levar os invasores a sério ou vão arriscar o suposto destino do mundo.

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Parte importante de comprar o perigo da situação se dá por conta dos invasores. O principal deles é Leonard, vivido por Dave Bautista. O ex-lutador de WWE segue em uma crescente louvável na carreira, escolhendo papéis perfeitos e inesperados não apenas para seu porte físico, mas pro seu surpreendente talento de expressar emoções. Leonard é o líder dessa missão apocalíptica e, apesar de ser um brutamontes ameaçador, ele se mostra um homem cordial e educado, que deixa claro não estar neste situação por vontade própria, mas por ser uma “vítima” dessa missão controversa. Ao mesmo tempo em que ele ostenta uma presença ameaçadora, consegue mostrar os sentimentos de seu personagem como poucos que migraram dos ringues para os estúdios.

Outro nome famoso que integra esse grupo é o ex-Harry Potter Rupert Grint, que não tem tanto destaque, mas se posiciona como o extremo oposto de Leonard. Sendo um bêbado baixinho e barbudo, seu personagem é agressivo e intolerante. Infelizmente, seu trabalho aqui não chega a brilhar. Diferentemente do trio que tem a casa invadida.

O trio de vítimas está muito bem, principalmente Jonathan Groff, que interpreta um pai mais compreensivo, enquanto Ben Aldridge faz um pai mais impulsivo e traumatizado. Falando em trauma, a dupla acumulou uma série de episódios marcantes, de forma negativa, ao longo da vida, que vêm à tona ao longo das ameaças do quarteto por meio de flashbacks. A ideia de ter esses causos abordados era promissora, mas acaba não agregando tanto à trama dos dois, que passam grande parte da história amarrados em cadeiras, enquanto discutem e tentam fugir. Seria uma ferramenta narrativa interessante, mas justamente por serem tratados de forma superficial e breve, os traumas acabam trazendo pouco à discussão, resumindo a situação a ser um crime de ódio.

Para trazer um pouco mais de suspense, um dos dois se lesiona durante o filme, trazendo o questionamento ao público se seus argumentos estão coerentes com as situações retratadas ou se ele está apenas delirando pelo machucado. Esse artifício já deu muito certo em filmes de terror recentes, como Hereditário (2018), mas aqui não atinge seu potencial, deixando uma ameaça claramente mortal ser retratada da forma mais morna possível, quase como uma situação trivial.

Diferentemente de outros filmes, em que o grande mistério da história não é revelado ao fim do longa, a resposta sobre quem está certo e errado nessa invasão é respondida. Isso pode – e vai – decepcionar a muitos, já que Shyamalan constrói o filme deixando que o público decida se os invasores ou os invadidos estão certos, então ao revelar a resposta, pelo menos metade dos espectadores terminará com um gosto meio amargo.

Sobre a condução da história, há uma quebra no ritmo próximo ao fim que causa um pequeno incômodo, dando aquela famosa sensação de “encheu linguiça” por parte do diretor. Isso pode afetar a experiência de alguns, principalmente de quem não comprou a ideia proposta por Shyamalan, mas talvez não deve comprometer aqueles que embarcaram de vez na trama. Outro ponto interessante é a fotografia do longa, que explora planos e closes bem interessantes, dando essa sensação de que mesmo estando em um lugar pequeno, como a cabana na floresta, as vítimas da invasão estão longe de chegarem a um lugar seguro.

Com potencial para ser muito mais, Batem à Porta não chega a ser um filme ruim, mas também passa longe de ser um primor, bem distante dos clássicos do diretor. Trazendo um M. Night Shyamalan mais controlado, o filme conta com ótimas atuações de um elenco carismático, só que esbarra em uma trama criativa, que parece ter medo de explorar suas próprias ideias. Apesar disso, consegue ser um bom entretenimento para quem não nutre expectativas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Famoso – e algumas vezes até ridicularizado – por seus filmes repletos de reviravoltas impressionantes, o diretor M. Night Shyamalan se tornou um dos nomes mais controversos dos últimos anos. Dividindo opiniões de quem o ama e quem o odeia, o diretor emplacou alguns sucessos expressivos e outros fracassos bastante incômodos para sua carreira. Agora, chega aos cinemas seu mais novo projeto: Batem à Porta. Inspirado no livro O Chalé no Fim do Mundo, o longa conta com um trabalho mais contido do diretor, que contraria as expectativas daqueles que faziam graça de Shyamalan.

Isso porque a trama gira em torno de um casal LGBTQIA+ que vai passar as férias com sua filhinha de descendência asiática em uma cabana na floresta. Tudo vai bem, até que quatro pessoas completamente aleatórias surgem anunciando a vinda iminente do apocalipse. Até aí, isso poderia tranquilamente ser um episódio de Modern Family, só que esse quarteto do mal diz que o trio é o único capaz impedir o fim do mundo. Basta escolher um membro da família para morrer nas próximas 24h. Caso contrário, o armageddon será inevitável.

Partindo dessa premissa, o filme constrói um suspense que não traz muitas reviravoltas. Na verdade, ao contrário do esperado de um longa de Shyamalan, ele já põe as cartas na mesa logo nos primeiros minutos, deixando claro que o mistério da história se resume a: esses quatro doidões estão falando a verdade ou não passam de lunáticos religiosos movidos por algum tipo de culto? Só que enquanto o tempo passa, o casal principal fica amarrado, debatendo e tentando chegar a um consenso se eles irão levar os invasores a sério ou vão arriscar o suposto destino do mundo.

Parte importante de comprar o perigo da situação se dá por conta dos invasores. O principal deles é Leonard, vivido por Dave Bautista. O ex-lutador de WWE segue em uma crescente louvável na carreira, escolhendo papéis perfeitos e inesperados não apenas para seu porte físico, mas pro seu surpreendente talento de expressar emoções. Leonard é o líder dessa missão apocalíptica e, apesar de ser um brutamontes ameaçador, ele se mostra um homem cordial e educado, que deixa claro não estar neste situação por vontade própria, mas por ser uma “vítima” dessa missão controversa. Ao mesmo tempo em que ele ostenta uma presença ameaçadora, consegue mostrar os sentimentos de seu personagem como poucos que migraram dos ringues para os estúdios.

Outro nome famoso que integra esse grupo é o ex-Harry Potter Rupert Grint, que não tem tanto destaque, mas se posiciona como o extremo oposto de Leonard. Sendo um bêbado baixinho e barbudo, seu personagem é agressivo e intolerante. Infelizmente, seu trabalho aqui não chega a brilhar. Diferentemente do trio que tem a casa invadida.

O trio de vítimas está muito bem, principalmente Jonathan Groff, que interpreta um pai mais compreensivo, enquanto Ben Aldridge faz um pai mais impulsivo e traumatizado. Falando em trauma, a dupla acumulou uma série de episódios marcantes, de forma negativa, ao longo da vida, que vêm à tona ao longo das ameaças do quarteto por meio de flashbacks. A ideia de ter esses causos abordados era promissora, mas acaba não agregando tanto à trama dos dois, que passam grande parte da história amarrados em cadeiras, enquanto discutem e tentam fugir. Seria uma ferramenta narrativa interessante, mas justamente por serem tratados de forma superficial e breve, os traumas acabam trazendo pouco à discussão, resumindo a situação a ser um crime de ódio.

Para trazer um pouco mais de suspense, um dos dois se lesiona durante o filme, trazendo o questionamento ao público se seus argumentos estão coerentes com as situações retratadas ou se ele está apenas delirando pelo machucado. Esse artifício já deu muito certo em filmes de terror recentes, como Hereditário (2018), mas aqui não atinge seu potencial, deixando uma ameaça claramente mortal ser retratada da forma mais morna possível, quase como uma situação trivial.

Diferentemente de outros filmes, em que o grande mistério da história não é revelado ao fim do longa, a resposta sobre quem está certo e errado nessa invasão é respondida. Isso pode – e vai – decepcionar a muitos, já que Shyamalan constrói o filme deixando que o público decida se os invasores ou os invadidos estão certos, então ao revelar a resposta, pelo menos metade dos espectadores terminará com um gosto meio amargo.

Sobre a condução da história, há uma quebra no ritmo próximo ao fim que causa um pequeno incômodo, dando aquela famosa sensação de “encheu linguiça” por parte do diretor. Isso pode afetar a experiência de alguns, principalmente de quem não comprou a ideia proposta por Shyamalan, mas talvez não deve comprometer aqueles que embarcaram de vez na trama. Outro ponto interessante é a fotografia do longa, que explora planos e closes bem interessantes, dando essa sensação de que mesmo estando em um lugar pequeno, como a cabana na floresta, as vítimas da invasão estão longe de chegarem a um lugar seguro.

Com potencial para ser muito mais, Batem à Porta não chega a ser um filme ruim, mas também passa longe de ser um primor, bem distante dos clássicos do diretor. Trazendo um M. Night Shyamalan mais controlado, o filme conta com ótimas atuações de um elenco carismático, só que esbarra em uma trama criativa, que parece ter medo de explorar suas próprias ideias. Apesar disso, consegue ser um bom entretenimento para quem não nutre expectativas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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