O cinema de gênero no Brasil tem crescido, e bastante, na última década, e, embora o público brasileiro se interesse muito por filmes internacionais desse tipo (principalmente os do eixo nórdico), mas isso pouco tem se refletido em relação ao consumo dos filmes de gênero produzidos aqui mesmo, nesse país. Para mudar esse cenário, cada vez mais e mais filmes de todos os tipos de gênero vem sendo especialmente produzidos, com maior ênfase nos gêneros de terror e suas variantes, num desejo de conquistar por fim o público nacional com histórias que se passem nesse território. E o mais novo expoente dessa categoria é o longa ‘Continente’, vencedor do troféu Redentor de Melhor Direção do Festival do Rio 2024, que também teve exibição na Mostra de São Paulo esse ano e que essa semana chegou ao circuito exibidor.
Após quinze anos longe da família, Amanda (Olívia Torres, de ‘Ainda Estou Aqui’) volta ao Brasil junto com seu namorado francês, Martin (Corentin Fila), pois recebera a notícia de que seu pai, Afonso (Anderson Vieira), estava muito mal de saúde. Ao chegarem no local – uma fazenda isolada no meio de um vilarejo igualmente isolado no interior do sul gaúcho – os dois percebem que algo mais acontece na região: há uma tensão crescente entre os trabalhadores da região, que só tende a piorar com a iminente morte de Afonso. No meio disso tudo, Helô (Ana Flávia Cavalcanti, de ‘Baby’ e ‘Sob Pressão’), a única médica da localidade, busca tratar a população local com um método alternativo para combater a crescente onda que está acometendo a todos os moradores.
Escrito por Davi Pretto, Igor Verde e Paola Wink, o roteiro de ‘Continente’ se fortalece no subjetivo para permitir que a interpretação e a imaginação do espectador preencham as lacunas do mistério do enredo. Uma escolha corajosa, uma vez que o cinema de gênero para o grande público (em ampla distribuição) você tende a atingir espectadores que normalmente não consomem regularmente esse tipo de filme, e que, por tanto, precisam se movimentar em direção ao que o enredo do filme está tentando dizer.
Com quase duas horas de duração, o longa de Davi Pretto se estende mais na parte do drama e do suspense, criando a atmosfera incerta do “o que está acontecendo” e acaba deixando a melhor parte – o terror em si – para o arco final. Mesmo demorando a entregar aquilo que o espectador busca, as cenas de terror e horror são bem-feitas e bem interpretadas pelo elenco, que notoriamente se entregou às cenas com o mesmo empenho tal qual qualquer outro filme. Neste cenário, destaca-se a performance de Olívia Torres, toda se contorcendo e se requebrando como uma vampira novata em um banho de sangue.
‘Continente’ é um filme interessante por pensar o horror e o cinema de gênero em território nacional, dialogando com outras produções similares que ajudam a formar uma indústria de entretenimento que pensa e atende a todos os gostos do seu variado público. Um filme que fortalece o cenário dos filmes de terror brasileiros.