domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Cruel Summer’ é uma incrível e angustiante série de suspense teen

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Em mais uma de suas investidas originais, a Freeform deu vida a um interessante suspense adolescente que poderia falhar por completo em cumprir com todas as mensagens propostas. Entretanto, Cruel Summer superou as expectativas quando fez sua estreia oficial – e quando finalmente estreou no Brasil através da Amazon Prime Video –, tornando-se uma das melhores e mais competentes produções de 2021.

A simples história tenta buscar certa originalidade e, em boa parte, consegue ao centrá-la em duas jovens, Jeanette (Chiara Aurelia) e Kate (Olivia Holt). Jeanette é uma garota nerd de quinze anos que tem como principal inspiração (e inveja) a popular, descolada e adorável Kate. Entretanto, as coisas mudam de cenário quando Kate some da pequena cidade de Skylin, no Texas, sob circunstâncias misteriosas. Jeanette, dessa maneira – e sem saber o que aconteceu -, se transforma naquilo que sempre almejou e vê seu mundo virar de cabeça para baixo quando Kate é resgatada de um sequestro que durou meses, inclusive virando alvo de culpa por não tê-la ajudado quando teve a oportunidade. E, ao longo de dez episódios, o criador Bert V. Royal, aliando-se a uma equipe artística de ponta, não deixa quaisquer brechas para descobrirmos quem é a verdadeira culpada – e quem é a vítima.



Royal tem uma ideia muito bem estruturada do que deseja fazer: o enredo divide-se em três partes, estendendo-se ao longo de 1993, 1994 e 1995 – antes, durante e depois dos trágicos eventos que se abateram sobre as vidas de Kate e de Jeanette. É notável a profunda transformação das protagonistas, que, separando-se como inimigas, voltam a convergir em um amadurecimento mandatório que as faz enxergar as mazelas do mundo com outros olhos. Kate, outrora complacente com as exigências de uma mãe narcisista e cruel, encara o retorno para casa da mesma maneira que a cela no porão da casa de seu algoz; Jeanette, desfrutando das vantagens de ser notada e amada pelas pessoas, é, rapidamente, destronada como pária da cidade, afastando-se daqueles que prometeram apoiá-la em tudo o que acontecesse.

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É essa contraposição complementar entre as personagens que permite que o público se envolva, acompanhadas de um estelar elenco de complexos coadjuvantes que, em nenhum momento, mostram-se desnecessários; pelo contrário, Jamie (Froy Gutierrez), Mallory (Harley Quinn Smith), Vince (Allius Barnes) e tantos outros encarnam papéis de extrema importância para a compreensão da obra, entrelaçando-se com reviravoltas fantásticas e uma densidade dramática que não encontramos com tanta facilidade em séries similares. Como se não bastasse, Sarah Drew, que imortalizou a Dra. April em ‘Grey’s Anatomy’, mergulha de cabeça em um tour-de-force que rouba os holofotes em qualquer momento que dá as caras – passando de mãe preocupada a uma mulher que resolve deixar tudo para trás e seguir seus sonhos, visto que não encontra apoio na própria casa.

Algumas escolhas visuais são um tanto quanto óbvias, mas práticas. Os três períodos representados são diferenciados em paletas de cor e filtros diferente: 1993, por ser uma época mais vibrante e pacífica, é retratado com tons mais alegres; a sobriedade começa a aparecer em 1994, em que a primeira reviravolta toma lugar, culminando, um ano mais tarde, em uma escura e claustrofóbica arquitetura que prenuncia o julgamento e o confronto final entre Kate e Jeanette. Quanto à montagem dos episódios, vê-se um apreço de Royal por uma transição estática entre uma época e outra, não pensando duas vezes antes de misturar os diferentes períodos em que a narrativa se passa; eventualmente, o frenesi excessivo pode nos distanciar do que realmente importa.

No final das contas, essa múltipla amálgama é um recurso bastante utilizado em diversas obras similares, desde os melodramas até os suspenses – algo que não tem muito de novo para contar, mas cuja praticidade é explorada ao máximo em prol de um objetivo. Nesse caso, é tal estrutura na qual Cruel Summer se alicerça que permite brincar com os pontos de vistas e no choque estrondoso de duas pessoas que não poderiam imaginar o que as aguardava no futuro: Jeanette vê todos os seus sonhos se desmantelarem, enquanto Kate, cansada da fachada perfeita que é obrigada a demonstrar dia após dia, joga tudo para o alto e coloca os próprios princípios em cheque.

À medida que chegamos à conclusão da primeira temporada, sabemos que a história se fechará – ao menos por enquanto. Porém, a decisão de colocar uma espécie de epílogo permite que mais tramas surjam nos próximos episódios. E garanto que, se há algo diferente a se contar, estaremos lá para acompanhar cada passo de cada personagem.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em mais uma de suas investidas originais, a Freeform deu vida a um interessante suspense adolescente que poderia falhar por completo em cumprir com todas as mensagens propostas. Entretanto, Cruel Summer superou as expectativas quando fez sua estreia oficial – e quando finalmente estreou no Brasil através da Amazon Prime Video –, tornando-se uma das melhores e mais competentes produções de 2021.

A simples história tenta buscar certa originalidade e, em boa parte, consegue ao centrá-la em duas jovens, Jeanette (Chiara Aurelia) e Kate (Olivia Holt). Jeanette é uma garota nerd de quinze anos que tem como principal inspiração (e inveja) a popular, descolada e adorável Kate. Entretanto, as coisas mudam de cenário quando Kate some da pequena cidade de Skylin, no Texas, sob circunstâncias misteriosas. Jeanette, dessa maneira – e sem saber o que aconteceu -, se transforma naquilo que sempre almejou e vê seu mundo virar de cabeça para baixo quando Kate é resgatada de um sequestro que durou meses, inclusive virando alvo de culpa por não tê-la ajudado quando teve a oportunidade. E, ao longo de dez episódios, o criador Bert V. Royal, aliando-se a uma equipe artística de ponta, não deixa quaisquer brechas para descobrirmos quem é a verdadeira culpada – e quem é a vítima.

Royal tem uma ideia muito bem estruturada do que deseja fazer: o enredo divide-se em três partes, estendendo-se ao longo de 1993, 1994 e 1995 – antes, durante e depois dos trágicos eventos que se abateram sobre as vidas de Kate e de Jeanette. É notável a profunda transformação das protagonistas, que, separando-se como inimigas, voltam a convergir em um amadurecimento mandatório que as faz enxergar as mazelas do mundo com outros olhos. Kate, outrora complacente com as exigências de uma mãe narcisista e cruel, encara o retorno para casa da mesma maneira que a cela no porão da casa de seu algoz; Jeanette, desfrutando das vantagens de ser notada e amada pelas pessoas, é, rapidamente, destronada como pária da cidade, afastando-se daqueles que prometeram apoiá-la em tudo o que acontecesse.

É essa contraposição complementar entre as personagens que permite que o público se envolva, acompanhadas de um estelar elenco de complexos coadjuvantes que, em nenhum momento, mostram-se desnecessários; pelo contrário, Jamie (Froy Gutierrez), Mallory (Harley Quinn Smith), Vince (Allius Barnes) e tantos outros encarnam papéis de extrema importância para a compreensão da obra, entrelaçando-se com reviravoltas fantásticas e uma densidade dramática que não encontramos com tanta facilidade em séries similares. Como se não bastasse, Sarah Drew, que imortalizou a Dra. April em ‘Grey’s Anatomy’, mergulha de cabeça em um tour-de-force que rouba os holofotes em qualquer momento que dá as caras – passando de mãe preocupada a uma mulher que resolve deixar tudo para trás e seguir seus sonhos, visto que não encontra apoio na própria casa.

Algumas escolhas visuais são um tanto quanto óbvias, mas práticas. Os três períodos representados são diferenciados em paletas de cor e filtros diferente: 1993, por ser uma época mais vibrante e pacífica, é retratado com tons mais alegres; a sobriedade começa a aparecer em 1994, em que a primeira reviravolta toma lugar, culminando, um ano mais tarde, em uma escura e claustrofóbica arquitetura que prenuncia o julgamento e o confronto final entre Kate e Jeanette. Quanto à montagem dos episódios, vê-se um apreço de Royal por uma transição estática entre uma época e outra, não pensando duas vezes antes de misturar os diferentes períodos em que a narrativa se passa; eventualmente, o frenesi excessivo pode nos distanciar do que realmente importa.

No final das contas, essa múltipla amálgama é um recurso bastante utilizado em diversas obras similares, desde os melodramas até os suspenses – algo que não tem muito de novo para contar, mas cuja praticidade é explorada ao máximo em prol de um objetivo. Nesse caso, é tal estrutura na qual Cruel Summer se alicerça que permite brincar com os pontos de vistas e no choque estrondoso de duas pessoas que não poderiam imaginar o que as aguardava no futuro: Jeanette vê todos os seus sonhos se desmantelarem, enquanto Kate, cansada da fachada perfeita que é obrigada a demonstrar dia após dia, joga tudo para o alto e coloca os próprios princípios em cheque.

À medida que chegamos à conclusão da primeira temporada, sabemos que a história se fechará – ao menos por enquanto. Porém, a decisão de colocar uma espécie de epílogo permite que mais tramas surjam nos próximos episódios. E garanto que, se há algo diferente a se contar, estaremos lá para acompanhar cada passo de cada personagem.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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