domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica de Álbum | ‘K-12’ é um complexo musical de difícil digestão

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Dizer que Melanie Martinez é uma cantora convencional é cair em uma gigantesca falácia: a artista de apenas 24 anos ganhou fama depois de participar da terceira temporada do reality show The Voice, logo depois lançando seu primeiro e alternativo álbum de estreia intitulado Cry Baby (2015). É inegável comentar sobre a qualidade de seu début e, cinco anos depois, Martinez retorna para os holofotes com o lançamento de mais uma interessante produção chamada K-12 – e isso não é tudo: acompanhando a obra de treze faixas, ela também aproveitou para dirigir e produzir um bizarro longa-metragem de pouco mais de noventa minutos na qual nos convida para uma distorcida viagem num colégio saído de qualquer filme de terror adolescente que você consiga pensar.

Por enquanto, irei me ater apenas à análise musical; é claro que, seguindo os passos de Lemonade, de Beyoncé, a construção em si deve ser acompanhada da peça fílmica, mas estamos lidando aqui com uma investida redundante demais para ser analisada em conjunto, ainda mais porque Melanie se apropria de uma tradução literal de suas composições para delinear uma cronológica e obscura história. Com exceção dos belos visuais (que também não representam nenhuma novidade imagética, visto que drenam inspiração de Wes Anderson ou qualquer outro diretor apaixonado por tons pastéis), o longa não precisaria existir – e pior, acaba tirando o brilho erguido com tanto esmero pelas tracks.



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No geral, K-12 é um obscuro musical de amadurecimento que se vale de elementos fantásticos e uma mitologia própria para alcançar aquilo a que se propõe. E não é surpresa, pois, que a artista também recupere alguns elementos propositalmente dissonantes de sua obra anterior para delinear essa jornada colegial, colocando-a em um caótico cenário escolar de onde tenta fugir ao lado de suas amigas. Logo, é mais que óbvio encarar cada canção como a abertura de um ato diferente, iniciando com a imortalizada lullaby “Wheels on the Bus”, que imediatamente nos rememora aos tempos de uma infância que não irá mais voltar. Entretanto, os melódicos e pueris tons se transformam numa coerente entrega pop-trap cuja letra desconstrói ao extremo o que poderíamos esperar.

Assista também:
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A obra se rende a uma performance teatral quase burlesca, optando por declamações interiores bem familiares à discografia da cantora. Mais uma vez, Martinez busca inovar a si mesma, inovar suas produções e até mesmo suas extensões vocais – e consegue fazer isso quando nos deparamos com o escopo geral. Em cada uma das tracks, é visível sua preocupação em transformá-las em poemas cantados que carregam um significado muito maior e mais autônomo do que parecem – seja com a brutal “Class Fight” ou com a minimalista “Show & Tell”, que certamente é um dos pontos altos da iteração.

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Eventualmente, a sonoridade indie (também característica de suas produções e até mesmo de seus covers de início de carreira) torna-se repetitiva o bastante para deixar a fluidez construtiva tangenciar uma eterna monotonia. É claro que as catárticas reviravoltas continuam a existir, ainda que reflitam uma necessidade de Melanie em deixar sua satírica preferência artística explícita até para os ouvintes mais céticos – coisa que acontece, por exemplo, em “Drama Club”; nem mesmo os contraditórios versos como “todo mundo é tão fraco, todo mundo é tão sensível” exploram a potência prometida, esbarrando em convencionalismos que se estendem até a assomada conclusão. As coisas parecem piorar consideravelmente com a chegada da infantilizada “Lunchbox Friends”, que falha em quase todos os aspectos e mergulha numa desnecessária e inexplicável distorção vocal – sem explicação até mesmo em sua sequência visual.

Martinez recupera o fôlego e retorna à sua forma impecável com “Detention”, mostrando mais uma vez sua afeição pelo minimalismo instrumental e pela sensualidade estética – ela se recusa a reprimir a adoração que sente pelo seu corpo em basicamente todas as produções, imprimindo críticas bem-vindas e inteligentes nos versos. A faixa em questão premedita a deliciosa balada desconstruída “High School Sweethearts”, que se reverencia a um psych-pop ressonante que se expande gradativamente no refrão apenas para recuar nas outras estrofes. E, como já era de se esperar, a epopeia tour-de-force se conclui num cíclico retorno da heroína às suas origens, trazendo à vida a onírica “Recess”, fechando as cortinas de seu complexo e melancólico desabafo.

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Quanto ao filme que acompanha o álbum, é necessário dizer que a produção toma forma numa mixórdia genérica de tantas outras investidas hollywoodianas que brotam em nossa memória – como supracitado, muito correspondentes à perspectiva simétrica e pastel de Anderson (o próprio cenário parece ter sido extraído de O Grande Hotel Budapeste). Felizmente, isso adiciona certo respaldo arquitetônico à teatralidade promovida por Melanie, mas peca ao trazer coreografias lineares e composições cênicas formulaicas demais para representarem qualquer coisa. Na verdade, o “conceito” buscado pela artista e também diretora nunca ganha forma e se vale mais pelas risíveis atuações do que por outro aspecto.

K-12 é difícil de ser digerido e tem grandes chances de estacionar em dois âmbitos extremos: amor ou ódio. Amor principalmente pela capacidade criativa de Melanie Martinez não ficar restrita a uma só linha de pensamento; ódio pela frustração que pode causar até mesmo em seus fãs. Afinal, mesmo suas apaixonantes particularidades não são o bastante para nos desviar de deslizes amadores – ainda mais levando em conta o gritante hibridismo artístico-musical do qual se dispõe. Contudo, o resultado final é aprazível o suficiente (para o bem ou para o mal).

Nota por faixa:

  • Wheels on the Bus – 4/5
  • Class Fight – 4/5
  • The Principal – 3,5/5
  • Show & Tell – 5/5
  • Nurse’s Office – 4/5
  • Drama Club – 3/5
  • Strawberry Shortcake – 2,5/5
  • Lunchbox Friends – 1,5/5
  • Orange Juice – 3/5
  • Detention – 4,5/5
  • Teacher’s Pet – 3,5/5
  • High School Sweethearts – 5/5
  • Recess – 4/5

Assista ao filme:

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Por enquanto, irei me ater apenas à análise musical; é claro que, seguindo os passos de Lemonade, de Beyoncé, a construção em si deve ser acompanhada da peça fílmica, mas estamos lidando aqui com uma investida redundante demais para ser analisada em conjunto, ainda mais porque Melanie se apropria de uma tradução literal de suas composições para delinear uma cronológica e obscura história. Com exceção dos belos visuais (que também não representam nenhuma novidade imagética, visto que drenam inspiração de Wes Anderson ou qualquer outro diretor apaixonado por tons pastéis), o longa não precisaria existir – e pior, acaba tirando o brilho erguido com tanto esmero pelas tracks.

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No geral, K-12 é um obscuro musical de amadurecimento que se vale de elementos fantásticos e uma mitologia própria para alcançar aquilo a que se propõe. E não é surpresa, pois, que a artista também recupere alguns elementos propositalmente dissonantes de sua obra anterior para delinear essa jornada colegial, colocando-a em um caótico cenário escolar de onde tenta fugir ao lado de suas amigas. Logo, é mais que óbvio encarar cada canção como a abertura de um ato diferente, iniciando com a imortalizada lullaby “Wheels on the Bus”, que imediatamente nos rememora aos tempos de uma infância que não irá mais voltar. Entretanto, os melódicos e pueris tons se transformam numa coerente entrega pop-trap cuja letra desconstrói ao extremo o que poderíamos esperar.

A obra se rende a uma performance teatral quase burlesca, optando por declamações interiores bem familiares à discografia da cantora. Mais uma vez, Martinez busca inovar a si mesma, inovar suas produções e até mesmo suas extensões vocais – e consegue fazer isso quando nos deparamos com o escopo geral. Em cada uma das tracks, é visível sua preocupação em transformá-las em poemas cantados que carregam um significado muito maior e mais autônomo do que parecem – seja com a brutal “Class Fight” ou com a minimalista “Show & Tell”, que certamente é um dos pontos altos da iteração.

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Eventualmente, a sonoridade indie (também característica de suas produções e até mesmo de seus covers de início de carreira) torna-se repetitiva o bastante para deixar a fluidez construtiva tangenciar uma eterna monotonia. É claro que as catárticas reviravoltas continuam a existir, ainda que reflitam uma necessidade de Melanie em deixar sua satírica preferência artística explícita até para os ouvintes mais céticos – coisa que acontece, por exemplo, em “Drama Club”; nem mesmo os contraditórios versos como “todo mundo é tão fraco, todo mundo é tão sensível” exploram a potência prometida, esbarrando em convencionalismos que se estendem até a assomada conclusão. As coisas parecem piorar consideravelmente com a chegada da infantilizada “Lunchbox Friends”, que falha em quase todos os aspectos e mergulha numa desnecessária e inexplicável distorção vocal – sem explicação até mesmo em sua sequência visual.

Martinez recupera o fôlego e retorna à sua forma impecável com “Detention”, mostrando mais uma vez sua afeição pelo minimalismo instrumental e pela sensualidade estética – ela se recusa a reprimir a adoração que sente pelo seu corpo em basicamente todas as produções, imprimindo críticas bem-vindas e inteligentes nos versos. A faixa em questão premedita a deliciosa balada desconstruída “High School Sweethearts”, que se reverencia a um psych-pop ressonante que se expande gradativamente no refrão apenas para recuar nas outras estrofes. E, como já era de se esperar, a epopeia tour-de-force se conclui num cíclico retorno da heroína às suas origens, trazendo à vida a onírica “Recess”, fechando as cortinas de seu complexo e melancólico desabafo.

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Quanto ao filme que acompanha o álbum, é necessário dizer que a produção toma forma numa mixórdia genérica de tantas outras investidas hollywoodianas que brotam em nossa memória – como supracitado, muito correspondentes à perspectiva simétrica e pastel de Anderson (o próprio cenário parece ter sido extraído de O Grande Hotel Budapeste). Felizmente, isso adiciona certo respaldo arquitetônico à teatralidade promovida por Melanie, mas peca ao trazer coreografias lineares e composições cênicas formulaicas demais para representarem qualquer coisa. Na verdade, o “conceito” buscado pela artista e também diretora nunca ganha forma e se vale mais pelas risíveis atuações do que por outro aspecto.

K-12 é difícil de ser digerido e tem grandes chances de estacionar em dois âmbitos extremos: amor ou ódio. Amor principalmente pela capacidade criativa de Melanie Martinez não ficar restrita a uma só linha de pensamento; ódio pela frustração que pode causar até mesmo em seus fãs. Afinal, mesmo suas apaixonantes particularidades não são o bastante para nos desviar de deslizes amadores – ainda mais levando em conta o gritante hibridismo artístico-musical do qual se dispõe. Contudo, o resultado final é aprazível o suficiente (para o bem ou para o mal).

Nota por faixa:

  • Wheels on the Bus – 4/5
  • Class Fight – 4/5
  • The Principal – 3,5/5
  • Show & Tell – 5/5
  • Nurse’s Office – 4/5
  • Drama Club – 3/5
  • Strawberry Shortcake – 2,5/5
  • Lunchbox Friends – 1,5/5
  • Orange Juice – 3/5
  • Detention – 4,5/5
  • Teacher’s Pet – 3,5/5
  • High School Sweethearts – 5/5
  • Recess – 4/5

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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