segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica de Álbum | Madonna – Uma instigante e ácida jornada

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Madonna é um nome atemporal. A icônica cantora que despontou no início da década de 1980 deixou para trás um legado incomparável, afirmando-se e reafirmando-se como um dos pilares da música pop ao lado de Michael Jackson e, mais tarde, de Britney Spears. Madonna não apenas construiu seu nome em meio a uma cultura essencialmente machista, ainda mais considerando que seu espaço de trabalho era e ainda é a indústria fonográfica, como também revolucionou o gênero e, até hoje, por mais que ceda a alguns modismos contemporâneos, continua se renovando e encantando gerações e mais gerações. Não é surpresa, pois, que sua extensa discografia sirva de referências para diversas cantoras da atualidade – incluindo Lady Gaga, Beyoncé, Katy Perry e muitas outras.

O mais impressionante, talvez, seja a forma como seu primeiro álbum homônimo não tenha caído nos perigos do envelhecimento precoce: desde seu lançamento em 1983 até os dias de hoje, ainda que grande parte das faixas não tenha caído no gosto popular do novo público, ganham aclame por sua originalidade e suas estruturações deliciosamente envolventes. Como se não bastasse, a artista também encontrou-se no meio de uma bruta transição entre o disco e o house music, aproveitando o conturbado momento da música para se envolver e mergulhar em produções do pós-disco.



Madonna, como ficou intitulado, é um ótimo álbum cujo único pecado é ter apenas oito faixas. É claro que, levando em consideração a época em que foi lançado, uma cantora feminina não clamaria por mais protagonismo, principalmente se pensarmos que, assim como todas as outras esferas criativas da história, a música também era dominada por homens. Porém, por ter um respaldo de John Benitez, seu namorado na época. Logo, não é muita surpresa que a primeira track, chamada “Lucky Star” seja uma singela declaração amor movida pelos trejeitos já conhecidos de um brutal disco aglutinado com dançantes sintetizadores que, apesar de aparecerem por mais de cinco minutos, em momento algum nos deixam entediados.

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Mesmo com a competência do escopo musical supracitado, é “Borderline” que insurge como o primeiro ápice por sua construção totalmente inesperada. A priori, a música desenrola-se sem muitas surpresas, abrindo espaço para a brilhante voz mezzo-soprano da cantora, procurando novamente os sintetizadores para criar uma atmosfera ambígua. Afinal, a letra foca num relacionamento conturbado em que a narradora atura as crises de ciúme de seu amor; as investidas instrumentais, alcançando um patamar quase encantatório, criam um paradoxo que cai por terra com a chegada do pré-chorus e, enfim, de um refrão aplaudível que se delineia com altos e baixos muito bem pontuais.

Em seu próprio álbum, Madonna consegue se reinventar. A primeira mudança vem com “Burning Up”, iniciando com a crueza da guitarra e a sutileza do baixo, até culminar em um individualismo lírico apaixonante. O arranjo híbrido dialoga com seus conterrâneos – sendo quase impossível não relacioná-la com Jackson -, mas se recusa a abandonar sua personalidade desinibida. Os sintetizadores, levemente ofuscados nessa canção, voltam com uma força gritante em “I Know It”, um tour-de-force confessional que abraça com gentileza instrumentos como o piano e o saxofone. É claro que a linearidade construtiva por vezes nos cansa, mas a doçura excessiva é travestida com uma ambiência dark no refrão e durante o bridge – como os toques proposital e excessivamente demarcados.

Após os esforços críticos e satíricos, a cantora volta às pistas de dança em sua declaração de amor à década anterior com “Holiday”. É um fato dizer que a track em questão encontra até hoje uma paixão inerente, principalmente pelos fãs mais ardentes da Rainha do pop. Entretanto, faz-se necessário dizer que, depois do primeiro chorus, a música permanece em uma incessante monotonia que, vez ou outra, adiciona um elemento fortuito que se perde em meio a tantas coisas acontecendo. De fato, nem mesmo as lyrics se salvam, consagrando-se mais por sua facilidade de ficar atado às nossas memórias que por sua profundidade (inexistente, por assim dizer). “Think of Me”, por sua vez, reencontra-se em meio a incrível potência retumbante da bateria, seguindo um crescendo adorável e retornando a uma cautelosa instrumentalização. O único obstáculo enfrentando é o fato da voz principal, por vezes, ser jogada para um infeliz segundo plano.

As especificidades do electro-pop se materializam com ainda mais poder na penúltima faixa desse breve álbum, “Physical Attraction”. O estilo em questão é inconfundível e dispensa quaisquer explicações para se apresentar nesta faixa, dividindo solidariamente sua expressividade com os vocais da artista. “Everybody”, ainda que dê uma sensação de reciclagem de investidas anteriores, é um dançante e animado jeito de concluir o EP – e até mesmo a letra bastante “instrucional” (“todo mundo, vamos, dance e cante”) prefere se manter num espaço comedido para a sonoridade instigante.

A estreia autointitulada de Madonna é apenas a primeira deliciosa jornada que uma das maiores performers de todos os tempos viria a nos apresentar. Já com suas composições iniciais, ela conquistou um triunfante patamar que apenas se reafirmaria com o passar dos anos – alcançando um chocante e honrável ápice poucos anos depois.

Nota por faixa:

  • Lucky Star – 4/5
  • Borderline – 5/5
  • Burning Up – 4,5/5
  • I Know It – 4/5
  • Holiday – 2,5/5
  • Think of Me – 4/5
  • Physical Attraction – 4,5/5
  • Everybody – 3/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Madonna é um nome atemporal. A icônica cantora que despontou no início da década de 1980 deixou para trás um legado incomparável, afirmando-se e reafirmando-se como um dos pilares da música pop ao lado de Michael Jackson e, mais tarde, de Britney Spears. Madonna não apenas construiu seu nome em meio a uma cultura essencialmente machista, ainda mais considerando que seu espaço de trabalho era e ainda é a indústria fonográfica, como também revolucionou o gênero e, até hoje, por mais que ceda a alguns modismos contemporâneos, continua se renovando e encantando gerações e mais gerações. Não é surpresa, pois, que sua extensa discografia sirva de referências para diversas cantoras da atualidade – incluindo Lady Gaga, Beyoncé, Katy Perry e muitas outras.

O mais impressionante, talvez, seja a forma como seu primeiro álbum homônimo não tenha caído nos perigos do envelhecimento precoce: desde seu lançamento em 1983 até os dias de hoje, ainda que grande parte das faixas não tenha caído no gosto popular do novo público, ganham aclame por sua originalidade e suas estruturações deliciosamente envolventes. Como se não bastasse, a artista também encontrou-se no meio de uma bruta transição entre o disco e o house music, aproveitando o conturbado momento da música para se envolver e mergulhar em produções do pós-disco.

Madonna, como ficou intitulado, é um ótimo álbum cujo único pecado é ter apenas oito faixas. É claro que, levando em consideração a época em que foi lançado, uma cantora feminina não clamaria por mais protagonismo, principalmente se pensarmos que, assim como todas as outras esferas criativas da história, a música também era dominada por homens. Porém, por ter um respaldo de John Benitez, seu namorado na época. Logo, não é muita surpresa que a primeira track, chamada “Lucky Star” seja uma singela declaração amor movida pelos trejeitos já conhecidos de um brutal disco aglutinado com dançantes sintetizadores que, apesar de aparecerem por mais de cinco minutos, em momento algum nos deixam entediados.

Mesmo com a competência do escopo musical supracitado, é “Borderline” que insurge como o primeiro ápice por sua construção totalmente inesperada. A priori, a música desenrola-se sem muitas surpresas, abrindo espaço para a brilhante voz mezzo-soprano da cantora, procurando novamente os sintetizadores para criar uma atmosfera ambígua. Afinal, a letra foca num relacionamento conturbado em que a narradora atura as crises de ciúme de seu amor; as investidas instrumentais, alcançando um patamar quase encantatório, criam um paradoxo que cai por terra com a chegada do pré-chorus e, enfim, de um refrão aplaudível que se delineia com altos e baixos muito bem pontuais.

Em seu próprio álbum, Madonna consegue se reinventar. A primeira mudança vem com “Burning Up”, iniciando com a crueza da guitarra e a sutileza do baixo, até culminar em um individualismo lírico apaixonante. O arranjo híbrido dialoga com seus conterrâneos – sendo quase impossível não relacioná-la com Jackson -, mas se recusa a abandonar sua personalidade desinibida. Os sintetizadores, levemente ofuscados nessa canção, voltam com uma força gritante em “I Know It”, um tour-de-force confessional que abraça com gentileza instrumentos como o piano e o saxofone. É claro que a linearidade construtiva por vezes nos cansa, mas a doçura excessiva é travestida com uma ambiência dark no refrão e durante o bridge – como os toques proposital e excessivamente demarcados.

Após os esforços críticos e satíricos, a cantora volta às pistas de dança em sua declaração de amor à década anterior com “Holiday”. É um fato dizer que a track em questão encontra até hoje uma paixão inerente, principalmente pelos fãs mais ardentes da Rainha do pop. Entretanto, faz-se necessário dizer que, depois do primeiro chorus, a música permanece em uma incessante monotonia que, vez ou outra, adiciona um elemento fortuito que se perde em meio a tantas coisas acontecendo. De fato, nem mesmo as lyrics se salvam, consagrando-se mais por sua facilidade de ficar atado às nossas memórias que por sua profundidade (inexistente, por assim dizer). “Think of Me”, por sua vez, reencontra-se em meio a incrível potência retumbante da bateria, seguindo um crescendo adorável e retornando a uma cautelosa instrumentalização. O único obstáculo enfrentando é o fato da voz principal, por vezes, ser jogada para um infeliz segundo plano.

As especificidades do electro-pop se materializam com ainda mais poder na penúltima faixa desse breve álbum, “Physical Attraction”. O estilo em questão é inconfundível e dispensa quaisquer explicações para se apresentar nesta faixa, dividindo solidariamente sua expressividade com os vocais da artista. “Everybody”, ainda que dê uma sensação de reciclagem de investidas anteriores, é um dançante e animado jeito de concluir o EP – e até mesmo a letra bastante “instrucional” (“todo mundo, vamos, dance e cante”) prefere se manter num espaço comedido para a sonoridade instigante.

A estreia autointitulada de Madonna é apenas a primeira deliciosa jornada que uma das maiores performers de todos os tempos viria a nos apresentar. Já com suas composições iniciais, ela conquistou um triunfante patamar que apenas se reafirmaria com o passar dos anos – alcançando um chocante e honrável ápice poucos anos depois.

Nota por faixa:

  • Lucky Star – 4/5
  • Borderline – 5/5
  • Burning Up – 4,5/5
  • I Know It – 4/5
  • Holiday – 2,5/5
  • Think of Me – 4/5
  • Physical Attraction – 4,5/5
  • Everybody – 3/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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