quinta-feira, março 28, 2024

Crítica de Álbum | My Happy Place – Emma Bunton ressurge das cinzas com álbum sem muita personalidade

E nossa eterna Baby Spice está de volta!

Depois de treze anos desde seu último lançamento, ‘Life In Mono’, Emma Bunton voltou às plataformas de música de todo o mundo com uma reestreia inesperada e sem muita cerimônia – o breve e nostálgico ‘My Happy Place’. E talvez seguindo o passado de sua última produção, que trazia composições respaldadas nos clássicos anos 1960 sem perder sua personalidade Spice Girl, seu quarto álbum de estúdio resolve emular alguns nomes bastante famosos da indústria fonográfica, mais precisamente do clássico pop iniciado décadas atrás. Porém, ao ouvir as poucas faixas que o CD nos traz, é quase imediato sentir que Emma parece estagnada em um passado remoto, preferindo reviver os dias de glórias que seguir em frente.

O disco já começa com um delicioso pop intitulado “Baby Please Don’t Stop”, cuja rendição explora os melhores vocais da cantora e cria uma atmosfera envolvente, sexy e de tirar o fôlego. O início sutil já apresenta sua porção de criatividade apenas para explodir em um dançante chorus que, por mais nostálgico que se mostre, ainda é carregado de uma personalidade aplaudível e não se assemelha a nenhuma outra produção criada por Bunton. Inclusive, a artista fica responsável pela composição de uma letra que se rende às declarações de amor mais sedutoras possíveis, nos deixando animados para o restante da obra.

E é exatamente aí que as coisas se perdem. Àqueles com certeza absoluta de que o álbum se manteria no escopo pop sofrem com uma queda brusca de “I Wish I Could Have Loved You More”, uma contraposição que deixa a desejar por não explorar todo o potencial que promete. A presença da guitarra nos arremessa direto para as últimas décadas do século passado – e, no caso, são os instrumentais que ganham nossa atenção. As lyrics trazidas para essa track são repetitivas e culminam em uma produção nem um pouco coesa, alheia a qualquer sentido que poderíamos buscar. Realmente, nem mesmo a procura mais minuciosa melhora nossa primeira impressão: o rock-pop transforma-se em uma construção orquestral pincelada por saxofones inexplicáveis e vocais que nem um pouco fluidos.

Ao longo das outras canções, Emma retorna para uma zona consideravelmente melhor, alcançando um ótimo ápice com “Don’t Call Me Baby”. De forma concisa, a insurgência de um sutil violão conversa com as entradas sintéticas e a guitarra elétrica e trilha um caminho que pode não prezar pelo crescendo plástico, mas que funciona em sua completude. É interessante analisar que, mesmo trazendo escopos musicais anteriores, é esta composição em questão que amarra a mensagem principal e até mesmo nos faz esquecer um pouco dos múltiplos equívocos que profusamente estouram.

O obstáculo que fala mais alto é o fato de Emma Bunton permanecer presa à época que lhe deu glória e fama: tudo bem, é compreensível que a artista não deseje abandonar trejeitos do grupo que fez parte de sua vida e faz até hoje, inegavelmente. Porém, quando ouvimos um novo álbum, ainda mais num tempo marcado por uma bolha industrial prestes a explodir, o primeiro foco de atenção é a singularidade – que, em ‘My Happy Place’, luta para ter voz. Além de emular o clássico de Candie Payton (“I Wish I Could”, que poderia ter permanecido em 2007 sem alterações ou reformulações), “Don’t Call” marca relações muito fortes com rendições de Kylie Minogue – e esse é o motivo por nos relacionarmos de imediato.

Essa possível homenagem aparece em outras faixas: “Too Many Teardrops” carrega um brilho próprio; entretanto, traz uma confusão anacrônica que resgata obras de Alanis Morissette e, mais indiretamente, de Shania Twain. “I Only Want to Be with You”, recriação da conhecida performance de Dusty Springfield, abandona a conhecida de 1963 e emerge com uma roupagem mais contemporânea, uma balada construída em conjunta com Will Young que é aprazível, mas que, após a chegada do segundo bloco, entra em um contínuo melancólico e monótono demais até para os ouvidos menos experientes.

“You’re All I Need to Get By”, por sua vez, que também é homenagem à original de Marvin Gaye, traz um duo harmônico e com uma estruturação muito mais forte, que se perde apenas pelo inquebrantável ciclo. Porém, a adição dos instrumentos e da perspectiva contemporânea de Jade Jones tem uma praticidade adorável, cujos tons próprios do R&B são muito interessantes. “Come Away with Me”, todavia, é uma pura reciclagem mimética que dá uma sensação datada que se mantém até as últimas canções do álbum.

Não deixe de assistir:

Emma resolve prestar menção às Spice Girls ao reviver o melódico “2 Become 1” ao lado de Robbie Williams. Mais uma vez, o reaproveitamento de algo que ajudou a criar não atinge uma plenitude envolvente o suficiente – contudo, não podemos tirar méritos dos acordes primários do violão e da fusão aplaudível de Bunton e Williams, que sabem o que estão fazendo com suas eloquências vocais ao mesmo tempo que deixam o fio da meada se perder. Um paradoxo que poderia ter sido previsto, mas infelizmente não o é.

‘My Happy Place’ é, com bastante clareza, um álbum repleto de homenagens, uma declaração de amor para suas influências e para aquilo que lhe dá conforto. Porém, considerando que Emma permaneceu mais de uma década sem retornar à música, era de se esperar que ela entregasse algo com um pouco mais de personalidade; porém, a cantora acaba nos entregando um álbum nada mais que divertido e nostálgico, perdendo a si mesma em meio a tantas emulações desnecessárias.

Nota por faixa:

  • Baby Please Don’t Stop – 4,5/5
  • I Wish I Could Have Loved You More – 2,5/5
  • Too Many Teardrops – 2,5/5
  • I Only Want to Be with You – 3/5
  • Don’t Call Me Baby – 4/5
  • You’re All I Need to Get By – 3,5/5
  • Come Away with Me – 3,5/5
  • Emotion – 3/5
  • 2 Become 1 – 3/5
  • Here Comes the Sun – 3,5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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