sábado , 23 novembro , 2024

Crítica de Trilha Sonora | As Panteras (2019) – Atirando para todos os lados

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Na última década (mais precisamente nos últimos três anos), a indústria do entretenimento mergulhou num constante movimento nostálgico que decidiu reviver os clássicos atemporais para apresentá-los dentro de uma perspectiva modernizada ao novo público. É claro que o maior expoente desse grupo foi o Walt Disney Studios, com seus remakes em live-action que, no geral, falharam em recapturar a magia das animações originais; mas a ideia de revitalizar histórias amadas pelo público não se restringiu apenas à Casa Mouse, resolvendo espalhar-se para outras grandes produtoras – incluindo a Sony Pictures, que ficou responsável pelo reboot do longa-metragem As Panteras.

E isso não foi tudo: Elizabeth Banks, que ficou responsável pela direção do projeto, também anunciou que trabalharia ao lado de Ariana Grande para a produção de uma nova trilha sonora, cujo objetivo era unir em um mesmo lugar o saudosismo do filme e da série originais e as tendências musicais que se tornaram expressivas com a repaginação dos vários gêneros fonográficos. O primeiro single, intitulado “Don’t Call Me Angel”, foi lançado em novembro deste ano e auxiliou no gigantesco marketing do filme; agora, o breve álbum oficial foi lançado em todas as plataformas digitais – mas o resultado não é muito bem o que esperávamos.



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Grande, que roubou os holofotes no final de 2018 e no começo de 2019 com o lançamento de Sweetener e ‘Thank U, Next’, ficou responsável pela produção da OST ao lado de seus já conhecidos colaboradores Scooter Braum e Savan Kotecha. Entretanto, apesar da limitada equipe técnica, a jovem artista não pensou duas vezes antes de chamar o máximo de nomes possível para auxiliá-la nessa nova jornada, contratando desde as lendas da música até a proeminente geração de realizadores que está chegando agora. Infelizmente, as onze canções que compõe a obra são destoantes entre si e parecem não se encontrar, chafurdadas dentro de uma árdua organização instrumental e tentando ao máximo transformar-se em algo sólido ou aprazível o suficiente; na verdade, a desordenada coesão é o obstáculo principal enfrentado pela conjuntura completa, ainda que carregue consigo alguns momentos interessantes.

Dentro de um paralelo cauteloso, Grande segue a mesma linha de raciocínio da qual Beyoncé se nutriu em The Lion King: The Gift: em ambos álbuns, Bey e Ariana funcionam como curadoras e acabam se preocupando muito mais do que deveriam com a estética sonora, sendo ofuscadas pelos vários nomes convidados para acompanhá-las. Quando justapostas, por exemplo, o single supracitado “Don’t Call Me Angel” traz três poderosos nomes – Grande, Miley Cyrus e Lana Del Rey – que nunca se encontram em harmonia e se entregam a uma fragmentada peça musical cuja coexistência é explosiva (por todos os motivos errados). Já em “How It’s Done”, a coadjuvação de Kim Petras, ALMA, Kash Doll e Stefflon Donn, por mais previsível que seja, é divertida do começo ao fim e não externa nada além do que nos promete desde o começo: uma peça pop influenciada pela sonoridade mainstream do rap contemporâneo.

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Como já mencionado, o principal problema enfrentado pela OST é sua obviedade: se você esperava por algo muito diferente do que nos foi apresentado pela carreira da artista principal, sinto lhes informar que a decepção é certeira; entretanto, se sua expectativa residia em músicas “chiclete” e comerciais o bastante para fazerem sucesso momentâneo, mas não para perdurarem nos próximos anos, então está no lugar certo. São poucos os momentos de originalidade que a trilha de As Panteras guarda em suas mangas: temos, como um desses poucos exemplos, o bombardeio do techno-pop e do disco aglutinadas com deliciosa construção em “Eyes Off You”, mesmo que se perca no último ato; Chaka Khan empresta sua arrepiante voz para a magnética familiaridade de “Nobody”; e até mesmo o remix da música-tema, cortesia das interessantes habilidades de Black Caviar, traz seu charme jocoso para os ouvintes.

Enquanto isso, Grande opta por se valer bastante do trap na maior parte das tracks às quais empresta sua voz. Em “Bad to You”, o suis-generis é travestido com um bem demarcado minimalismo instrumental que inexplicavelmente explode em alguns versos e recua para a sensualidade performática em outras; em “How I Look on You”, o trap volta com força, sem sombra de dúvida resguardando um apreço descomunal por ‘Thank U, Next’, perdendo-se com a presença descartável da guitarra e rendendo-se a uma fórmula pré-fabricada qualquer – talvez com breves exceções que se restringem exclusivamente à voz da lead singer (também não muito diferente de canções como “break up with your boyfriend”; a colaboração com Victoria Monét consegue superar a insistência de Ariana em reciclar suas próprias, e ainda assim esbarra numa miscelânea insana.

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Com bastante surpresa, Anitta e Danielle Bradbery são as melhore adições da antologia musical. Bradbery nos apresenta à única balada da obra, “Blackout”, faixa para a qual se rende com precisão incrível e emocionante, imprimindo sua marca country em um pano de fundo sutilmente inclinado para o synth-pop; Anitta, por sua vez, traz a latinidade sul-americana no single “Pantera”: apesar da sonoridade similar a outras músicas da artista, ela se entrega à sexy atmosfera caribenha e funde os elementos mais expressivos da salsa com os da eletrônica.

A OST de As Panteras fica no meio do caminho; do mesmo jeito que traz algumas tracks interessantes e envolventes, torna-se repetitiva e inconclusiva ao não saber para que direção seguir: o classicismo exorbitante e glamoroso dos anos 1980 ou a experimentação de estilos da contemporaneidade. De fato, Ariana Grande, entrando como produtora executiva, parece não ter ideia do que fazer com tanto material – e sua indecisão reflete na bagunçada composição da obra.

Nota por faixa:

  • How It’s Done – 3,5/5
  • Bad to You – 3/5
  • Don’t Call Me Angel – 1,5/5
  • Eyes Off You – 4/5
  • Bad Girls (Gigamesh remix) – 2,5/5
  • Nobody – 4/5
  • Pantera – 4,5/5
  • How I Look on You – 1/5
  • Blackout – 4,5/5
  • Got Her Own – 2,5/5
  • Charlie’s Angels Theme (Black Caviar remix) – 3/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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E isso não foi tudo: Elizabeth Banks, que ficou responsável pela direção do projeto, também anunciou que trabalharia ao lado de Ariana Grande para a produção de uma nova trilha sonora, cujo objetivo era unir em um mesmo lugar o saudosismo do filme e da série originais e as tendências musicais que se tornaram expressivas com a repaginação dos vários gêneros fonográficos. O primeiro single, intitulado “Don’t Call Me Angel”, foi lançado em novembro deste ano e auxiliou no gigantesco marketing do filme; agora, o breve álbum oficial foi lançado em todas as plataformas digitais – mas o resultado não é muito bem o que esperávamos.

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Grande, que roubou os holofotes no final de 2018 e no começo de 2019 com o lançamento de Sweetener e ‘Thank U, Next’, ficou responsável pela produção da OST ao lado de seus já conhecidos colaboradores Scooter Braum e Savan Kotecha. Entretanto, apesar da limitada equipe técnica, a jovem artista não pensou duas vezes antes de chamar o máximo de nomes possível para auxiliá-la nessa nova jornada, contratando desde as lendas da música até a proeminente geração de realizadores que está chegando agora. Infelizmente, as onze canções que compõe a obra são destoantes entre si e parecem não se encontrar, chafurdadas dentro de uma árdua organização instrumental e tentando ao máximo transformar-se em algo sólido ou aprazível o suficiente; na verdade, a desordenada coesão é o obstáculo principal enfrentado pela conjuntura completa, ainda que carregue consigo alguns momentos interessantes.

Dentro de um paralelo cauteloso, Grande segue a mesma linha de raciocínio da qual Beyoncé se nutriu em The Lion King: The Gift: em ambos álbuns, Bey e Ariana funcionam como curadoras e acabam se preocupando muito mais do que deveriam com a estética sonora, sendo ofuscadas pelos vários nomes convidados para acompanhá-las. Quando justapostas, por exemplo, o single supracitado “Don’t Call Me Angel” traz três poderosos nomes – Grande, Miley Cyrus e Lana Del Rey – que nunca se encontram em harmonia e se entregam a uma fragmentada peça musical cuja coexistência é explosiva (por todos os motivos errados). Já em “How It’s Done”, a coadjuvação de Kim Petras, ALMA, Kash Doll e Stefflon Donn, por mais previsível que seja, é divertida do começo ao fim e não externa nada além do que nos promete desde o começo: uma peça pop influenciada pela sonoridade mainstream do rap contemporâneo.

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Como já mencionado, o principal problema enfrentado pela OST é sua obviedade: se você esperava por algo muito diferente do que nos foi apresentado pela carreira da artista principal, sinto lhes informar que a decepção é certeira; entretanto, se sua expectativa residia em músicas “chiclete” e comerciais o bastante para fazerem sucesso momentâneo, mas não para perdurarem nos próximos anos, então está no lugar certo. São poucos os momentos de originalidade que a trilha de As Panteras guarda em suas mangas: temos, como um desses poucos exemplos, o bombardeio do techno-pop e do disco aglutinadas com deliciosa construção em “Eyes Off You”, mesmo que se perca no último ato; Chaka Khan empresta sua arrepiante voz para a magnética familiaridade de “Nobody”; e até mesmo o remix da música-tema, cortesia das interessantes habilidades de Black Caviar, traz seu charme jocoso para os ouvintes.

Enquanto isso, Grande opta por se valer bastante do trap na maior parte das tracks às quais empresta sua voz. Em “Bad to You”, o suis-generis é travestido com um bem demarcado minimalismo instrumental que inexplicavelmente explode em alguns versos e recua para a sensualidade performática em outras; em “How I Look on You”, o trap volta com força, sem sombra de dúvida resguardando um apreço descomunal por ‘Thank U, Next’, perdendo-se com a presença descartável da guitarra e rendendo-se a uma fórmula pré-fabricada qualquer – talvez com breves exceções que se restringem exclusivamente à voz da lead singer (também não muito diferente de canções como “break up with your boyfriend”; a colaboração com Victoria Monét consegue superar a insistência de Ariana em reciclar suas próprias, e ainda assim esbarra numa miscelânea insana.

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Com bastante surpresa, Anitta e Danielle Bradbery são as melhore adições da antologia musical. Bradbery nos apresenta à única balada da obra, “Blackout”, faixa para a qual se rende com precisão incrível e emocionante, imprimindo sua marca country em um pano de fundo sutilmente inclinado para o synth-pop; Anitta, por sua vez, traz a latinidade sul-americana no single “Pantera”: apesar da sonoridade similar a outras músicas da artista, ela se entrega à sexy atmosfera caribenha e funde os elementos mais expressivos da salsa com os da eletrônica.

A OST de As Panteras fica no meio do caminho; do mesmo jeito que traz algumas tracks interessantes e envolventes, torna-se repetitiva e inconclusiva ao não saber para que direção seguir: o classicismo exorbitante e glamoroso dos anos 1980 ou a experimentação de estilos da contemporaneidade. De fato, Ariana Grande, entrando como produtora executiva, parece não ter ideia do que fazer com tanto material – e sua indecisão reflete na bagunçada composição da obra.

Nota por faixa:

  • How It’s Done – 3,5/5
  • Bad to You – 3/5
  • Don’t Call Me Angel – 1,5/5
  • Eyes Off You – 4/5
  • Bad Girls (Gigamesh remix) – 2,5/5
  • Nobody – 4/5
  • Pantera – 4,5/5
  • How I Look on You – 1/5
  • Blackout – 4,5/5
  • Got Her Own – 2,5/5
  • Charlie’s Angels Theme (Black Caviar remix) – 3/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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