quinta-feira , 27 fevereiro , 2025

Crítica | Dente por Dente – Suspense irrisório e reflexão diminuta empacam narrativa


O que desaparece sempre volta”. Esta é a frase de impacto escolhida pelo roteirista Arthur Warren (Historietas Assombradas: O Filme) para dar início ao suspense Dente por Dente, protagonizado por Juliano Cazarré e Paolla Oliveira. A narrativa é contagiada por dezenas de bordões dessa espécie, ditos pelo protagonista/narrador como um guia de introspecção ao personagem. O artifício, no entanto, soa como a leitura de um romance de banca de jornal, de modo verborrágico a completar o mínimo de páginas de uma trama simplista. 

Eu sonhava muito, porque dormia mal ou dormia mal porque sonhava muito?”, questiona-se Ademar (Cazarré). Dente por Dente desenvolve-se por meio dos sonhos e frases de efeito do segurança/guarita de um empreendimento imobiliário. Numa noite, ele presencia uma dos seus colegas quebrando um pavimento da obra. O estranho acontecimento é seguido do sumiço do mesmo, o que desperta a curiosidade do guarita e os seus sonhos aparentam ter uma estranha relação com o caso. 



dentepordente

O problema é que os sonhos não desaparecem…” Instigado pelos seus pesadelos de dentes sendo arrancados, Ademar investiga o sumiço do colega Teixeira (Paulo Tiefenthaler) e o envolvimento ao que parece escuso do desaparecido com a empreiteira, comandada por Valadares (Aderbal Freire Filho) e Meirelles (Renata Sorrah). Após o ocorrido, os sócios da empreiteira são apresentados como gananciosos e pouco empáticos em relação aos crimes ao redor do empreendimento. Algo nada sutil para fomentar o suspense da trama. 

O sonho te persegue. Para se livrar, você tem que olhar o que ele está querendo te mostrar”. Assim como na série O Mentalista (2008-2015), Ademar utiliza dos seus sonhos dedutivos para solucionar o mistério por trás dos crimes. Se não fosse a pesada tentativa de criar um clima de horror e subjetividade, Dente por Dente seria até um suspense mediano, tal como um episódio de seriado policial, no qual é mais interessante seguir a vida dos policiais do que os crimes investigados. Ademar, no entanto, não é um policial habilidoso e a sua vida é um vazio de interrogações. Construída a partir da ideia da literalidade da metáfora “dente por dente, olho por olho”, a narrativa de folhetim contrapõe-se totalmente a um thriller de vingança ou uma instigante investigação policial. 


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O sonho não é espelho da realidade, é outra coisa”. Com direção de Pedro Arantes e Júlio Taubkin, os quais trabalharam juntos no curta A Guerra de Arturo (2009), Dente por Dente tem a intenção de misturar mistério, horror psicológico e crítica social. O conjunto, entretanto, não encontra harmonia. A narrativa introspectiva torna-se cansativa; as pistas para os enigmas são excessivamente óbvias; os caminhos de resolução são gritantes; e o esforço de uma crítica social afoga-se em um mar de concreto endurecido. 

O sonho é a realidade que está atrás do espelho”. Com um roteiro defectível, a proposta do filme é simples, no entanto, toda a mise-en-scène joga contra o desenvolvimento da trama. As cenas de dentes arrancados, como metáfora de interpretações dos sonhos e vingança do proletariado, tornam-se um apêndice para o título do filme, ao invés de representação de dor e de desespero. Se os elementos de dualidade, entre sonho e realidade, fossem subtraídos, o enlace policial ganharia mais projeção e, igualmente, mais relevância para a pauta de luta de classe embutida na retórica  “o que [ou melhor, quem] desaparece sempre volta”. Ou seja, a culpa eternamente vai infernizar a consciência dos responsáveis. 

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Dente por Dente, entretanto, nos coloca em um inferno de camadas subjetivas grosseiras. As especulações oníricas funcionam mais como apelo visual sanguinolento do que um mergulho no inconsciente do personagem e no seu papel de mensageiro. Assim como, o mistério revelado funciona como uma espécie de anticlímax, já que as sequências mastigam o caminho do espectador e o caráter denunciativo perde o rumo. Ao final, Ademar sela a sua narrativa insípida – com a mesma frase inicial – entre o mundo dos sonhos e a vida real, mas do outro lado do pavimento. 


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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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O que desaparece sempre volta”. Esta é a frase de impacto escolhida pelo roteirista Arthur Warren (Historietas Assombradas: O Filme) para dar início ao suspense Dente por Dente, protagonizado por Juliano Cazarré e Paolla Oliveira. A narrativa é contagiada por dezenas de bordões dessa espécie, ditos pelo protagonista/narrador como um guia de introspecção ao personagem. O artifício, no entanto, soa como a leitura de um romance de banca de jornal, de modo verborrágico a completar o mínimo de páginas de uma trama simplista. 

Eu sonhava muito, porque dormia mal ou dormia mal porque sonhava muito?”, questiona-se Ademar (Cazarré). Dente por Dente desenvolve-se por meio dos sonhos e frases de efeito do segurança/guarita de um empreendimento imobiliário. Numa noite, ele presencia uma dos seus colegas quebrando um pavimento da obra. O estranho acontecimento é seguido do sumiço do mesmo, o que desperta a curiosidade do guarita e os seus sonhos aparentam ter uma estranha relação com o caso. 

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O problema é que os sonhos não desaparecem…” Instigado pelos seus pesadelos de dentes sendo arrancados, Ademar investiga o sumiço do colega Teixeira (Paulo Tiefenthaler) e o envolvimento ao que parece escuso do desaparecido com a empreiteira, comandada por Valadares (Aderbal Freire Filho) e Meirelles (Renata Sorrah). Após o ocorrido, os sócios da empreiteira são apresentados como gananciosos e pouco empáticos em relação aos crimes ao redor do empreendimento. Algo nada sutil para fomentar o suspense da trama. 

O sonho te persegue. Para se livrar, você tem que olhar o que ele está querendo te mostrar”. Assim como na série O Mentalista (2008-2015), Ademar utiliza dos seus sonhos dedutivos para solucionar o mistério por trás dos crimes. Se não fosse a pesada tentativa de criar um clima de horror e subjetividade, Dente por Dente seria até um suspense mediano, tal como um episódio de seriado policial, no qual é mais interessante seguir a vida dos policiais do que os crimes investigados. Ademar, no entanto, não é um policial habilidoso e a sua vida é um vazio de interrogações. Construída a partir da ideia da literalidade da metáfora “dente por dente, olho por olho”, a narrativa de folhetim contrapõe-se totalmente a um thriller de vingança ou uma instigante investigação policial. 

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O sonho não é espelho da realidade, é outra coisa”. Com direção de Pedro Arantes e Júlio Taubkin, os quais trabalharam juntos no curta A Guerra de Arturo (2009), Dente por Dente tem a intenção de misturar mistério, horror psicológico e crítica social. O conjunto, entretanto, não encontra harmonia. A narrativa introspectiva torna-se cansativa; as pistas para os enigmas são excessivamente óbvias; os caminhos de resolução são gritantes; e o esforço de uma crítica social afoga-se em um mar de concreto endurecido. 

O sonho é a realidade que está atrás do espelho”. Com um roteiro defectível, a proposta do filme é simples, no entanto, toda a mise-en-scène joga contra o desenvolvimento da trama. As cenas de dentes arrancados, como metáfora de interpretações dos sonhos e vingança do proletariado, tornam-se um apêndice para o título do filme, ao invés de representação de dor e de desespero. Se os elementos de dualidade, entre sonho e realidade, fossem subtraídos, o enlace policial ganharia mais projeção e, igualmente, mais relevância para a pauta de luta de classe embutida na retórica  “o que [ou melhor, quem] desaparece sempre volta”. Ou seja, a culpa eternamente vai infernizar a consciência dos responsáveis. 

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Dente por Dente, entretanto, nos coloca em um inferno de camadas subjetivas grosseiras. As especulações oníricas funcionam mais como apelo visual sanguinolento do que um mergulho no inconsciente do personagem e no seu papel de mensageiro. Assim como, o mistério revelado funciona como uma espécie de anticlímax, já que as sequências mastigam o caminho do espectador e o caráter denunciativo perde o rumo. Ao final, Ademar sela a sua narrativa insípida – com a mesma frase inicial – entre o mundo dos sonhos e a vida real, mas do outro lado do pavimento. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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