quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Dente por Dente – Suspense irrisório e reflexão diminuta empacam narrativa

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O que desaparece sempre volta”. Esta é a frase de impacto escolhida pelo roteirista Arthur Warren (Historietas Assombradas: O Filme) para dar início ao suspense Dente por Dente, protagonizado por Juliano Cazarré e Paolla Oliveira. A narrativa é contagiada por dezenas de bordões dessa espécie, ditos pelo protagonista/narrador como um guia de introspecção ao personagem. O artifício, no entanto, soa como a leitura de um romance de banca de jornal, de modo verborrágico a completar o mínimo de páginas de uma trama simplista. 

Eu sonhava muito, porque dormia mal ou dormia mal porque sonhava muito?”, questiona-se Ademar (Cazarré). Dente por Dente desenvolve-se por meio dos sonhos e frases de efeito do segurança/guarita de um empreendimento imobiliário. Numa noite, ele presencia uma dos seus colegas quebrando um pavimento da obra. O estranho acontecimento é seguido do sumiço do mesmo, o que desperta a curiosidade do guarita e os seus sonhos aparentam ter uma estranha relação com o caso. 



O problema é que os sonhos não desaparecem…” Instigado pelos seus pesadelos de dentes sendo arrancados, Ademar investiga o sumiço do colega Teixeira (Paulo Tiefenthaler) e o envolvimento ao que parece escuso do desaparecido com a empreiteira, comandada por Valadares (Aderbal Freire Filho) e Meirelles (Renata Sorrah). Após o ocorrido, os sócios da empreiteira são apresentados como gananciosos e pouco empáticos em relação aos crimes ao redor do empreendimento. Algo nada sutil para fomentar o suspense da trama. 

O sonho te persegue. Para se livrar, você tem que olhar o que ele está querendo te mostrar”. Assim como na série O Mentalista (2008-2015), Ademar utiliza dos seus sonhos dedutivos para solucionar o mistério por trás dos crimes. Se não fosse a pesada tentativa de criar um clima de horror e subjetividade, Dente por Dente seria até um suspense mediano, tal como um episódio de seriado policial, no qual é mais interessante seguir a vida dos policiais do que os crimes investigados. Ademar, no entanto, não é um policial habilidoso e a sua vida é um vazio de interrogações. Construída a partir da ideia da literalidade da metáfora “dente por dente, olho por olho”, a narrativa de folhetim contrapõe-se totalmente a um thriller de vingança ou uma instigante investigação policial. 

O sonho não é espelho da realidade, é outra coisa”. Com direção de Pedro Arantes e Júlio Taubkin, os quais trabalharam juntos no curta A Guerra de Arturo (2009), Dente por Dente tem a intenção de misturar mistério, horror psicológico e crítica social. O conjunto, entretanto, não encontra harmonia. A narrativa introspectiva torna-se cansativa; as pistas para os enigmas são excessivamente óbvias; os caminhos de resolução são gritantes; e o esforço de uma crítica social afoga-se em um mar de concreto endurecido. 

O sonho é a realidade que está atrás do espelho”. Com um roteiro defectível, a proposta do filme é simples, no entanto, toda a mise-en-scène joga contra o desenvolvimento da trama. As cenas de dentes arrancados, como metáfora de interpretações dos sonhos e vingança do proletariado, tornam-se um apêndice para o título do filme, ao invés de representação de dor e de desespero. Se os elementos de dualidade, entre sonho e realidade, fossem subtraídos, o enlace policial ganharia mais projeção e, igualmente, mais relevância para a pauta de luta de classe embutida na retórica  “o que [ou melhor, quem] desaparece sempre volta”. Ou seja, a culpa eternamente vai infernizar a consciência dos responsáveis. 


Dente por Dente, entretanto, nos coloca em um inferno de camadas subjetivas grosseiras. As especulações oníricas funcionam mais como apelo visual sanguinolento do que um mergulho no inconsciente do personagem e no seu papel de mensageiro. Assim como, o mistério revelado funciona como uma espécie de anticlímax, já que as sequências mastigam o caminho do espectador e o caráter denunciativo perde o rumo. Ao final, Ademar sela a sua narrativa insípida – com a mesma frase inicial – entre o mundo dos sonhos e a vida real, mas do outro lado do pavimento. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Eu sonhava muito, porque dormia mal ou dormia mal porque sonhava muito?”, questiona-se Ademar (Cazarré). Dente por Dente desenvolve-se por meio dos sonhos e frases de efeito do segurança/guarita de um empreendimento imobiliário. Numa noite, ele presencia uma dos seus colegas quebrando um pavimento da obra. O estranho acontecimento é seguido do sumiço do mesmo, o que desperta a curiosidade do guarita e os seus sonhos aparentam ter uma estranha relação com o caso. 

O problema é que os sonhos não desaparecem…” Instigado pelos seus pesadelos de dentes sendo arrancados, Ademar investiga o sumiço do colega Teixeira (Paulo Tiefenthaler) e o envolvimento ao que parece escuso do desaparecido com a empreiteira, comandada por Valadares (Aderbal Freire Filho) e Meirelles (Renata Sorrah). Após o ocorrido, os sócios da empreiteira são apresentados como gananciosos e pouco empáticos em relação aos crimes ao redor do empreendimento. Algo nada sutil para fomentar o suspense da trama. 

O sonho te persegue. Para se livrar, você tem que olhar o que ele está querendo te mostrar”. Assim como na série O Mentalista (2008-2015), Ademar utiliza dos seus sonhos dedutivos para solucionar o mistério por trás dos crimes. Se não fosse a pesada tentativa de criar um clima de horror e subjetividade, Dente por Dente seria até um suspense mediano, tal como um episódio de seriado policial, no qual é mais interessante seguir a vida dos policiais do que os crimes investigados. Ademar, no entanto, não é um policial habilidoso e a sua vida é um vazio de interrogações. Construída a partir da ideia da literalidade da metáfora “dente por dente, olho por olho”, a narrativa de folhetim contrapõe-se totalmente a um thriller de vingança ou uma instigante investigação policial. 

O sonho não é espelho da realidade, é outra coisa”. Com direção de Pedro Arantes e Júlio Taubkin, os quais trabalharam juntos no curta A Guerra de Arturo (2009), Dente por Dente tem a intenção de misturar mistério, horror psicológico e crítica social. O conjunto, entretanto, não encontra harmonia. A narrativa introspectiva torna-se cansativa; as pistas para os enigmas são excessivamente óbvias; os caminhos de resolução são gritantes; e o esforço de uma crítica social afoga-se em um mar de concreto endurecido. 

O sonho é a realidade que está atrás do espelho”. Com um roteiro defectível, a proposta do filme é simples, no entanto, toda a mise-en-scène joga contra o desenvolvimento da trama. As cenas de dentes arrancados, como metáfora de interpretações dos sonhos e vingança do proletariado, tornam-se um apêndice para o título do filme, ao invés de representação de dor e de desespero. Se os elementos de dualidade, entre sonho e realidade, fossem subtraídos, o enlace policial ganharia mais projeção e, igualmente, mais relevância para a pauta de luta de classe embutida na retórica  “o que [ou melhor, quem] desaparece sempre volta”. Ou seja, a culpa eternamente vai infernizar a consciência dos responsáveis. 


Dente por Dente, entretanto, nos coloca em um inferno de camadas subjetivas grosseiras. As especulações oníricas funcionam mais como apelo visual sanguinolento do que um mergulho no inconsciente do personagem e no seu papel de mensageiro. Assim como, o mistério revelado funciona como uma espécie de anticlímax, já que as sequências mastigam o caminho do espectador e o caráter denunciativo perde o rumo. Ao final, Ademar sela a sua narrativa insípida – com a mesma frase inicial – entre o mundo dos sonhos e a vida real, mas do outro lado do pavimento. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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