Chegou nesse final de março ao catálogo da Star Plus uma série de antologia brasileira que se agarra na tentação como forma de provocar os dilemas na visão de conturbados personagens se jogando no mar das inconsequências. Criada pelos ótimos cineastas argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn, Desejos S.A. busca o olhar pela fechadura sobre os desejos não verbalizados, aqueles guardados a sete chaves, expondo a intimidade e seus embates fervorosos com a moral. O projeto é baseado em uma ideia do autor Horarcio Convertini.
A trama dessa minissérie gira em torno de seis histórias independentes que possuem um único elo: uma empresa misteriosa chamada Desejos S.A. que seduz vítimas realizando qualquer desejo por apenas 9,90 (custo da ligação que a pessoa realiza). Mas para toda ação há uma consequência, uma contrapartida indigesta que é preciso realizar para concluir a pedido. Na linha do: ‘o que você faria?’, sonhos podem se tornar verdadeiros pesadelos nessa análise profunda sobre os limites do ser humano. Algo que escancara verdades da sociedade.
Entre os ótimos personagens, conhecemos um homem da tecnologia e sua obsessão pela companheira do irmão, uma cuidadora que trabalha faz mais de duas décadas para um acomodado coronel aposentado, uma criança que deseja voltar a reunir os pais recém separados, uma mulher bem sucedida querendo descobrir possíveis segredos do marido, um frustrado motorista e seu incômodo com o novo vizinho além de uma religiosa que secretamente é fã de um famoso cantor. O elenco tem ótimos nomes: Carol Castro, Silvero Pereira, Marcos Pasquim, Daniel Rocha, Rocco Pitanga, Gilda Nomacce, Nelson Freitas e até mesmo a participação do cantor Diogo Nogueira.
A narrativa busca no detalhe, na imersão de uma trilha sonora chiclete, deixar todos os elementos em cena com a faceta da tensão refletindo para o espectador. Há muitos pontos interessantes na direção de arte que serão captadas pelos olhos mais observadores. Parece que há uma necessidade, muitas vezes excessiva, de qualquer elemento dizer alguma coisa. A condução da trama não se apressa para buscar seu clímax, com um ritmo dosado, busca uma profunda construção dos personagens antes de qualquer ação.
A consequência é um ponto a ser analisado, algo que se aproxima muito com a realidade, trazendo paralelos aos montes. O ser humano como vitrine dos erros e acertos, do certo ou errado, do egoísmo e até mesmo da acomodação pelo caminho mais fácil sempre gera bons debates. Fantoches nas mãos de algum grupo secreto, o desejo corre anos luz à frente de qualquer situação que possa chegar no fim do túnel das decisões dos protagonistas. Aqui percebemos que o egocentrismo, esse olhar para si mesmo, reverbera à beira do abismo dos conflitos.
Com episódios durando cerca de 30 minutos, daqueles projetos para se maratonar em uma parte de um dia, essa série de antologia esmiúça casamentos em crise, relações deterioradas com o tempo, a expressão ‘até as últimas consequências’, mas se fortalece mesmo nos seus dilemas, jogando perguntas ao vento, a principal delas: O que você faria se pudesse realizar qualquer desejo não importando as consequências?