domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Detroit em Rebelião – A panela de pressão comandada por Kathryn Bigelow

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É difícil medir, mas talvez a questão racial historicamente seja uma das temáticas mais assombrosas em todos os seus aspectos. Algo a torna ainda mais protuberante e esse elemento certamente é o fato de ser algo impregnado em nosso cotidiano, por vezes de maneira tão enraizada que nos causa espanto.  Os recentes  13º Emenda, Eu não sou o seu negro, O.J Made in America e O Nascimento de uma Nação, todas produções de 2016, são exemplos interessantes para se pensar na trajetória que o tema percorre – seja a que é retratada pelo cinema ou a do cinema mesmo sobre o assunto – no campo atual podendo se apontar não só o assombro pelo óbvio repúdio ao preconceito, mas também pela complexidade dada ao assunto nos filmes citados.

Kathryn Bigelow é conhecida por suas narrativas carregadas de uma tensão elétrica, fios condutores que espalham adrenalina e desconforto, uma habilidade cirúrgica de controle na direção. Em Detroit em Rebelião não acontece diferente, a diretora inicia seu longa realizando uma apresentação dos fatores sociais e históricos – sem muita profundidade – e se debruça sobre seus personagens-chave para o que está por vir.



Detroit é baseado em fatos e a câmera de Bigelow se presta ao propósito com afinco, ao estar sempre tão próxima quanto possível, não só ao que diz respeito ao seu caráter espacial, mas ao estado de espírito dos retratados.  O fato central, momento mais enérgico da obra, está na cena que se passa em um motel quando a polícia de Detroit invade o local em busca de um possível atirador de elite que teria disparado contra o exército. Sua entrada e permanência no local é repleta de violência e os fatos que se dão ali irão a um julgamento posterior aonde os policiais são acusados de homicídio e agressão. Os desdobramentos do julgamento até o final do filme priorizam esclarecer as forças que prevalecem e corroem os personagens, que apesar de apresentarem formas distintas de seguirem com suas vidas, estão desmobilizados.

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O roteiro de Mark Boal , parceiro de Bigelow em seus longas anteriores Guerra ao Terror (ganhador do Oscar de melhor filme em 2010 ) e A Hora Mais Escura (indicado ao Oscar de melhor filme em 2013), trabalha uma costura objetiva sobre seus personagens, conflitos e conjunturas para obterem a aproximação clímax no encontro no hotel – entregando de antemão para o espectador as complexidades da equação entre aquelas pessoas – e seguindo para o porquê o desatar desses laços é quase inevitável.

Nesse desatar está uma interessante análise sobre o sufocamento que os movimentos, de modo mais generalizado, raciais sofrem ao ponto de se encontrarem em um tom melancólico e quase de desesperança em vista as circunstâncias, aqui cabe citar o longa de Ava DuVernay, Selma (2014), que culmina – ainda que com alguma esperança – na morte de um dos líderes mais marcantes dentro dos Estados Unidos e para o episódio que dá nome ao filme, Martin Luther King em 1968, um ano depois do período de Detroit.

Ainda que esse desmantelamento das estruturas seja uma mobilização estética para apontar as tristes condições que tornaram possíveis o resultado do julgamento, entre muitos outros grandes erros e injustiças, o longa perde um pouco de seu ritmo ao retomar aos poucos para seu começo, se recolocando enquanto um constatador de fatos.

As atuações do elenco como um todo são excelentes, mas não é possível não destacar o desempenho de Will Poulter enquanto o perturbado e perturbador policial Krauss, que domina boa parte da ação na metade do longa. Por tratar diversos personagens quase com o mesmo espaço não parece ser o caso de apontar um protagonista em um dos retratados, mas o protagonismo assustador da proximidade dos fatos com a nossa atualidade.

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É difícil medir, mas talvez a questão racial historicamente seja uma das temáticas mais assombrosas em todos os seus aspectos. Algo a torna ainda mais protuberante e esse elemento certamente é o fato de ser algo impregnado em nosso cotidiano, por vezes de maneira tão enraizada que nos causa espanto.  Os recentes  13º Emenda, Eu não sou o seu negro, O.J Made in America e O Nascimento de uma Nação, todas produções de 2016, são exemplos interessantes para se pensar na trajetória que o tema percorre – seja a que é retratada pelo cinema ou a do cinema mesmo sobre o assunto – no campo atual podendo se apontar não só o assombro pelo óbvio repúdio ao preconceito, mas também pela complexidade dada ao assunto nos filmes citados.

Kathryn Bigelow é conhecida por suas narrativas carregadas de uma tensão elétrica, fios condutores que espalham adrenalina e desconforto, uma habilidade cirúrgica de controle na direção. Em Detroit em Rebelião não acontece diferente, a diretora inicia seu longa realizando uma apresentação dos fatores sociais e históricos – sem muita profundidade – e se debruça sobre seus personagens-chave para o que está por vir.

Detroit é baseado em fatos e a câmera de Bigelow se presta ao propósito com afinco, ao estar sempre tão próxima quanto possível, não só ao que diz respeito ao seu caráter espacial, mas ao estado de espírito dos retratados.  O fato central, momento mais enérgico da obra, está na cena que se passa em um motel quando a polícia de Detroit invade o local em busca de um possível atirador de elite que teria disparado contra o exército. Sua entrada e permanência no local é repleta de violência e os fatos que se dão ali irão a um julgamento posterior aonde os policiais são acusados de homicídio e agressão. Os desdobramentos do julgamento até o final do filme priorizam esclarecer as forças que prevalecem e corroem os personagens, que apesar de apresentarem formas distintas de seguirem com suas vidas, estão desmobilizados.

O roteiro de Mark Boal , parceiro de Bigelow em seus longas anteriores Guerra ao Terror (ganhador do Oscar de melhor filme em 2010 ) e A Hora Mais Escura (indicado ao Oscar de melhor filme em 2013), trabalha uma costura objetiva sobre seus personagens, conflitos e conjunturas para obterem a aproximação clímax no encontro no hotel – entregando de antemão para o espectador as complexidades da equação entre aquelas pessoas – e seguindo para o porquê o desatar desses laços é quase inevitável.

Nesse desatar está uma interessante análise sobre o sufocamento que os movimentos, de modo mais generalizado, raciais sofrem ao ponto de se encontrarem em um tom melancólico e quase de desesperança em vista as circunstâncias, aqui cabe citar o longa de Ava DuVernay, Selma (2014), que culmina – ainda que com alguma esperança – na morte de um dos líderes mais marcantes dentro dos Estados Unidos e para o episódio que dá nome ao filme, Martin Luther King em 1968, um ano depois do período de Detroit.

Ainda que esse desmantelamento das estruturas seja uma mobilização estética para apontar as tristes condições que tornaram possíveis o resultado do julgamento, entre muitos outros grandes erros e injustiças, o longa perde um pouco de seu ritmo ao retomar aos poucos para seu começo, se recolocando enquanto um constatador de fatos.

As atuações do elenco como um todo são excelentes, mas não é possível não destacar o desempenho de Will Poulter enquanto o perturbado e perturbador policial Krauss, que domina boa parte da ação na metade do longa. Por tratar diversos personagens quase com o mesmo espaço não parece ser o caso de apontar um protagonista em um dos retratados, mas o protagonismo assustador da proximidade dos fatos com a nossa atualidade.

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