sábado, abril 20, 2024

Crítica | Dia de Trabalho Mortal – Experimento social e terror no filme de James Gunn

Trabalhar Cansa

Buscar conhecimento sobre o que gostamos nunca é demais. Dar o passo além, sair da zona de conforto e ampliar a abrangência do que temos interesse faz parte do comportamento humano, afinal para que ficar restrito se podemos ser mais. Com os cinéfilos também é assim. Lembro que meu interesse por cinema começou nestes moldes: quando gostava de um filme, procurava outros da filmografia daqueles atores e diretores envolvidos com tal projeto. Assim vamos aumentando nosso leque.

Hoje, os filmes de super-heróis mandam em Hollywood. E ver aquele filme que amamos de nosso herói preferido diversas vezes é muito legal. Mas também é válido buscarmos outras produções destes profissionais, mesmo que sejam de gêneros que não nos desperte tanto a atenção, para nos enriquecer como espectadores inclusive.

Um dos maiores sucessos do ano passado foi Guardiões da Galáxia Volume 2, dirigido pelo mesmo James Gunn do filme original, de 2014. O nome do diretor se tornou fácil na boca da garotada, e o cineasta logo foi elevado ao status de ídolo. Mas talvez nem todos saibam ou tenham visto seu primeiro filme, o terror subestimado Seres Rastejantes (2006). Ou quem sabe descobrir que Gunn já havia investido num longa sobre heróis, bem mais obscuro e violento, com Super (2010). Então não é de se espantar seu retorno ao gênero que ama com este Dia de Trabalho Mortal, que chega agora ao mercado de home vídeo brasileiro, sem ter passado pelos cinemas de nosso país.

Dia de Trabalho Mortal, ou The Belko Experiment (O Experimento da Belko, na tradução literal) – no original – estreou na rede Telecine recentemente, e pode ser facilmente encontrado no canal. O filme tem roteiro escrito por James Gunn e quase teve direção do aclamado cineasta. Na hora H, porém, Gunn desistiu de comandar a obra por considerar seu próprio roteiro muito violento (isso que é ironia, vai entender!). Tá certo que o sujeito havia acabado de passar por um divórcio, época dolorida na qual não queremos saber de qualquer sofrimento extra. Desta forma, Gunn é creditado no roteiro e produção, mas por ser o maior nome aqui, este associação a seu nome se torna automática.

A direção terminou nas mãos de Greg McLean, cineasta que igualmente não é estranho ao terror, a crueza e a violência em suas obras. Na filmografia do cineasta temos produções como Wolf Creek – Viagem ao Inferno (2005), sua continuação (2013) e o primeiro episódio da série de TV (2016); o thriller de crocodilo Morte Súbita (2007); A Escuridão (2016) – terror sobre entidades malignas e Kevin Bacon; e o recente Selva (2017), baseado numa história real, com Daniel Radcliffe passando fome. Ou seja, podemos admitir que o sujeito está mais do que escolado no gênero.

Na trama, que mistura elementos do cult japonês Batalha Real (2000), os funcionários de uma multinacional sediada em Bogotá, Colômbia, irão passar o pior dia de suas vidas, para dizer no mínimo. O prédio da Belko, a tal empresa, fica no meio do nada, e o que parece ser mais um dia entediante no trabalho, se mostrará uma luta por sobrevivência. O prédio inteiro é bloqueado com um sistema de segurança da mais alta tecnologia, impedindo qualquer tentativa de evacuar o local, ou adentrá-lo. Uma voz anuncia as ordens nos alto-falantes: os funcionários precisarão matar uns aos outros até o fim do expediente!

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Com esta premissa pra lá de perturbadora, Gunn desenvolve seu ensaio que funciona como crítica social, baseado em diversos estudos psicológicos reais, que já foram inclusive fonte para obras cinematográficas, vide o recente O Experimento de Aprisionamento de Stanford (2015), e utilizam como dinâmica o autoritarismo e a submissão. Ou seja, como nos comportamos numa situação extrema, na qual recebemos ordens que vão totalmente contra nossos ideais mais básicos, e precisamos cumpri-las sob pena de morte.

Dia de Trabalho Mortal aborda justamente isso, e mostra que pessoas educadas e civilizadas irão descer a seus mais primordiais instintos, regredindo à selvageria de nossos ancestrais, se em jogo estiver sua própria sobrevivência. Esta é uma temática interessante, mas como este ainda é um filme de terror, especialmente mirado ao público jovem, a ênfase se torna a sanguinolência, o grafismo das mortes e a tensão elevada à decima potência. Na tela desfilam diversos rostos conhecidos do time B de Hollywood (ou seria C), vide Tony Goldwyn, John C. McGinley, Gregg Henry e Michael Rooker, todos, no entanto, atores talentosíssimos não muito conhecidos do grande público, dando vida aos diversos funcionários, sejam diretores da empresa, ou até mesmo os caras da manutenção.

Dia de Trabalho Mortal tem uma das ideias mais arriscadas e criativas para o gênero em anos, já seu desenvolvimento descamba para o esperado, sem muitas surpresas, perdendo a força aos poucos ao percebermos cada vez mais que o longa se vê preso a conveniências e fórmulas. O desfecho igualmente não deixa na boca o melhor dos gostos. Seja como for, vale pela curiosidade e pela grandeza que poderia ter sido. Mas principalmente, para os aficionados pelo diretor aumentarem seu conhecimento sobre o cineasta, e perceber o que ele consegue fazer fora da estrutura Marvel.

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