Adam McKay e Will Ferrell fizeram de Disque Amiga Para Matar o que pouco se via na TV em 2019. Uma excelente comédia dramática sobre o luto a partir do espectro da maturidade feminina, a série trouxe duas atrizes no auge dos seus 40 anos para o centro da trama, explorando a feminilidade em suas diversas formas com originalidade, sem soar piegas e sem apelar para discursos batidos. Com personagens masculinos que sempre agregaram ao dramalhão sarcástico de Judy e Jen, a mesma dupla de produtores executivos do aclamado sucesso Succession fez da original Netflix uma refinada combinação de humor pastelão, humor ácido e um suspense acidental.
Mas após duas excelentes temporadas, Disque Amiga Para Matar parece ter perdido seu fôlego. Com suas sacadas cômicas ainda funcionando – embora não sejam tão ricas e perspicazes como no passado -, o 3º e último ciclo caminha de forma desgovernado. Com seus episódios ainda no formato de 25 minutos de duração, a criadora Liz Feldman e sua equipe de roteiristas perdem o foco e gastam tempo demais andando em infindáveis círculos narrativos que levam a lugar nenhum. Estendendo o núcleo policial da trama sem realmente gerar qualquer tipo de valor significativo, os novos capítulos são a absurda representação da clássica “encheção de linguiça”. Sempre à beira de uma grande reviravolta, a produção de fato nunca chega lá e caminha em uma zona de conforto flácida e insossa, apelando para o sentimentalismo (que funciona em certa instância).
Desperdiçando o tempo de tela de Christina Applegate e Linda Cardellini, a série da Netflix não compreende a necessidade de resolver sua trama em cinco horas totais e patina em episódios desnecessários que não resolvem os arcos. Se escorando em soluções simplistas e piegas que quebram toda a riqueza tão bem construída ao longo de duas temporadas, Disque Amiga Para Matar é frustrante. Embora quando analisada isoladamente seja mediana, a temporada final é inevitavelmente um fracasso diante do todo. Com alguns pequenos momentos valiosos, como o delicado desfecho de Judy, a original da gigante do streaming se destaca mais pelos esforços das protagonistas, que brilham em suas performances à medida que sua codependência atinge seu ponto máximo.
Com um final sensível que entrega um pequeno mas desnecessário cliffhanger, a série da Netflix não se despede como de fato merecia. Trazendo um episódio de encerramento onde todas as pontas soltas são resolvidas milagrosamente da forma mais blasé e tosca possível, Disque Amiga Para Matar deixa a audiência à deriva, à espera de algo a la Thelma & Louise que infelizmente nunca vem. Mas preferindo ficar no meio do caminho, a produção perde a oportunidade de uma vez mais desbravar um território criativo que poucos ousam em Hollywood.