domingo , 24 novembro , 2024

Crítica | Divaldo: O Mensageiro da Paz – Um filme religioso bem-intencionado

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O milagre da fé

Qual a diferença entre cinema e TV? Ao contrário de seus primórdios, que separavam bem em escala estas duas mídias audiovisuais, hoje os formatos basicamente coexistem, influenciando um ao outro numa troca orgânica e bem-vinda, separando-se apenas por uma tênue linha (praticamente invisível).

E se por um lado o cinema já abriga há décadas produções intimistas, muitas vezes passadas em um único ambiente, com poucos atores e longe do escopo que imaginamos ao pensar em obras cinematográficas como espetáculo visual, a TV atual, potencializada por streamings e canais a cabo, oferece consecutivamente não apenas a magnitude dos grandes filmes exibidos nas salas de multiplex, mas também a complexidade de histórias e criatividade narrativa dignas dos maiores exemplares da sétima arte. A série Westworld (da HBO), por exemplo, não fica devendo nada e consegue sobressair a muito do que é visto longe de casa (imagine pode assistir ao programa desta forma).



Sendo assim, afirmações incisivas como “aparência de telefilme” soam cada vez mais perdidas no tempo. Ao contrário digamos de acusações de pouca ousadia. Essa sim bem mais pertinente a um trabalho como Divaldo – O Mensageiro da Paz. A missão do longa escrito e dirigido por Clovis Mello (Ninguém Ama Ninguém por Mais de Dois Anos) é única e exclusivamente enaltecer a figura de Divaldo Franco, médium, espírita e humanitário. Mas como fazer diferente com uma personalidade tão altruísta, ao ponto da santificação. Mesmo que sua religião possa causar desconforto a alguns, seu trabalho com pessoas carentes é indiscutível e indubitável.

A ousadia aqui poderia ser servida por uma estrutura menos comum e esperada do que este tipo de filme geralmente oferece. Esta, no entanto, não é uma obra que busca prêmios ou sequer agradar à imprensa. Os filmes religiosos se tornaram um filão, voltados para o seu público-alvo e assim como as produções da Marvel, estão à prova de críticas. O que não quer dizer que não tenha seus méritos. A primeira coisa que chama atenção na biografia é o uso do humor, elemento surpresa e que funciona bem dentro da trama – causando estranheza momentânea ao sabermos o tom que o filme deseja seguir. Este artifício chega como diferencial, e remete às comédias de Guel Arraes (O Auto da Compadecida e Lisbela e o Prisioneiro), em especial na fase da infância do protagonista e na juventude, onde é interpretado por Ghilherme Lobo, num embate de toma lá dá cá com um padre; além da cena do cartório – presente no trailer.

Aliás, o jovem Lobo é quem vive Franco na maior parte da projeção, inclusive em fases distintas (na adolescência e um pouco mais velho). O ator, que já havia chamado atenção no selecionado brasileiro ao Oscar Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), entrega outra performance sólida, e é o verdadeiro protagonista da obra. Sua contraparte adulta, Bruno Garcia, como grande intérprete que é, adiciona novas camadas na atuação e mesmo aparecendo menos emociona com algumas das cenas de maior apelo dramático no longa. Podemos notar o empenho do ator em gestos e posturas condizentes com as práticas espíritas.

No elenco de apoio, Regiane Alves e Marcos Veras possuem os personagens mais difíceis do longa, nos papeis das entidades Joanna De Angelis e o Espírito Obsessor respectivamente – definições de luz e trevas, nosso equilíbrio interno em constante conflito. Ela, uma freira que é o espírito guia de Divaldo; ele, um padre traído por uma das encarnações do protagonista há 400 anos, ainda em busca de vingança. De seus personagens chamativos vêm algumas das melhores interações do filme. Há ainda de se destacar os trabalhos da ótima Laila Garin, como a mãe de Divaldo, e Álamo Facó em seu desempenho certeiro como Chico Xavier.

Sem tirar nem pôr, Divaldo – O Mensageiro da Paz é um filme correto, que tem o coração no lugar certo, e faz bem o trabalho de apresentar um dos melhores seres humanos a ter pisado nesta terra chamada Brasil. É também um filme inteiramente dedicado a isso, e apesar de alguns elementos curiosos, não foge à regra deste subgênero já cimentado. Ou seja, resta saber o quão suscetível você está a encarar uma propaganda religiosa espírita, mesmo colocando nos holofotes uma personalidade que merece todos os louros e mais alguns. Bem, a julgar que muitos estão mais do que dispostos a abraçar propagandas políticas nos cinemas, vale pensar onde se encontram a fé e espiritualidade em sua lista pessoal de prioridades.

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E se por um lado o cinema já abriga há décadas produções intimistas, muitas vezes passadas em um único ambiente, com poucos atores e longe do escopo que imaginamos ao pensar em obras cinematográficas como espetáculo visual, a TV atual, potencializada por streamings e canais a cabo, oferece consecutivamente não apenas a magnitude dos grandes filmes exibidos nas salas de multiplex, mas também a complexidade de histórias e criatividade narrativa dignas dos maiores exemplares da sétima arte. A série Westworld (da HBO), por exemplo, não fica devendo nada e consegue sobressair a muito do que é visto longe de casa (imagine pode assistir ao programa desta forma).

Sendo assim, afirmações incisivas como “aparência de telefilme” soam cada vez mais perdidas no tempo. Ao contrário digamos de acusações de pouca ousadia. Essa sim bem mais pertinente a um trabalho como Divaldo – O Mensageiro da Paz. A missão do longa escrito e dirigido por Clovis Mello (Ninguém Ama Ninguém por Mais de Dois Anos) é única e exclusivamente enaltecer a figura de Divaldo Franco, médium, espírita e humanitário. Mas como fazer diferente com uma personalidade tão altruísta, ao ponto da santificação. Mesmo que sua religião possa causar desconforto a alguns, seu trabalho com pessoas carentes é indiscutível e indubitável.

A ousadia aqui poderia ser servida por uma estrutura menos comum e esperada do que este tipo de filme geralmente oferece. Esta, no entanto, não é uma obra que busca prêmios ou sequer agradar à imprensa. Os filmes religiosos se tornaram um filão, voltados para o seu público-alvo e assim como as produções da Marvel, estão à prova de críticas. O que não quer dizer que não tenha seus méritos. A primeira coisa que chama atenção na biografia é o uso do humor, elemento surpresa e que funciona bem dentro da trama – causando estranheza momentânea ao sabermos o tom que o filme deseja seguir. Este artifício chega como diferencial, e remete às comédias de Guel Arraes (O Auto da Compadecida e Lisbela e o Prisioneiro), em especial na fase da infância do protagonista e na juventude, onde é interpretado por Ghilherme Lobo, num embate de toma lá dá cá com um padre; além da cena do cartório – presente no trailer.

Aliás, o jovem Lobo é quem vive Franco na maior parte da projeção, inclusive em fases distintas (na adolescência e um pouco mais velho). O ator, que já havia chamado atenção no selecionado brasileiro ao Oscar Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), entrega outra performance sólida, e é o verdadeiro protagonista da obra. Sua contraparte adulta, Bruno Garcia, como grande intérprete que é, adiciona novas camadas na atuação e mesmo aparecendo menos emociona com algumas das cenas de maior apelo dramático no longa. Podemos notar o empenho do ator em gestos e posturas condizentes com as práticas espíritas.

No elenco de apoio, Regiane Alves e Marcos Veras possuem os personagens mais difíceis do longa, nos papeis das entidades Joanna De Angelis e o Espírito Obsessor respectivamente – definições de luz e trevas, nosso equilíbrio interno em constante conflito. Ela, uma freira que é o espírito guia de Divaldo; ele, um padre traído por uma das encarnações do protagonista há 400 anos, ainda em busca de vingança. De seus personagens chamativos vêm algumas das melhores interações do filme. Há ainda de se destacar os trabalhos da ótima Laila Garin, como a mãe de Divaldo, e Álamo Facó em seu desempenho certeiro como Chico Xavier.

Sem tirar nem pôr, Divaldo – O Mensageiro da Paz é um filme correto, que tem o coração no lugar certo, e faz bem o trabalho de apresentar um dos melhores seres humanos a ter pisado nesta terra chamada Brasil. É também um filme inteiramente dedicado a isso, e apesar de alguns elementos curiosos, não foge à regra deste subgênero já cimentado. Ou seja, resta saber o quão suscetível você está a encarar uma propaganda religiosa espírita, mesmo colocando nos holofotes uma personalidade que merece todos os louros e mais alguns. Bem, a julgar que muitos estão mais do que dispostos a abraçar propagandas políticas nos cinemas, vale pensar onde se encontram a fé e espiritualidade em sua lista pessoal de prioridades.

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