quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | ‘Divertida Mente 2’ é o MELHOR filme da Pixar em quase uma década

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Em 2015, a Pixar entregava um dos melhores filmes de seu catálogo: o fantástico e irretocável Divertida Mente, uma exploração tocante e apaixonante sobre as emoções humanas que trouxe o melhor do melodrama e da comédia em uma épica aventura dentro da mente de uma jovem garotinha chamada Riley. Facilmente uma das produções mais aclamadas desse império da animação, era difícil pensar que a narrativa ganharia uma sequência; e, quase uma década mais tarde, cá estamos com a vindoura sequência – que tem estreia agendada nos cinemas nacionais para o dia 20 de junho, uma semana depois do lançamento no circuito internacional.

Enquanto o público foi introduzido às emoções primárias de Riley na iteração anterior. Aqui, a protagonista finalmente chegou à adolescência e, como bem sabemos, a um turbilhão de eventos que vem acompanhando a iminência da puberdade e de uma das transições mais marcantes e dolorosas da vida. Preparando-se para um novo capítulo de sua jornada, Riley se vê engolfada em uma oportunidade “única” (tal como ela pensa) de participar de uma espécie de acampamento de hockey e de uma mudança profunda na configuração de seu cotidiano – principalmente com a saída de suas duas melhores amigas da escola e do prospecto do “recomeço”. E, como podíamos imaginar, essas constantes reviravoltas aproveitariam para introduzir quatro emoções: a Ansiedade, a Inveja, a Vergonha e o Tédio (e uma breve participação prematura da Nostalgia).



Personagens do filme Divertida Mente em uma sala colorida.

Ao chegarem ao centro de controles do cérebro de Riley, as emoções primárias (Alegria, Tristeza, Raiva, Nojinho e Medo) começam a lidar com um prospecto amedrontador de que a garota que amam está passando por uma revolução mais impactante do que previam, percebendo que as funcionalidades estão mais complexas e que o modo de lidar com o mundo externo e suas respectivas relações afetivas é mais difícil do que o antecipado. Ao se aproximar do Ensino Médio, Riley começa a navegar por situações sociais que clamam pelo modo de proteção e de ação que não pode ser fornecido pelas ativações já conhecidas. A Ansiedade, por exemplo, dublada com primazia por Tatá Werneck, é um mecanismo de defesa e de autossabotagem que representa nossa condição de cobrança em demasia e uma competitividade compulsória; a Inveja, por sua vez (encarnada por Gaby Milani), é um método de aproximação destrutiva e, ao mesmo tempo, que alimenta nossos impulsos de pertencimento – cada qual inserida em um contexto individual do hockey e do arco de Riley, mas pressionadas em uma reflexão universalista.

Se Pete Docter havia conseguido nos encantar no filme predecessor, Kelsey Mann explora ainda mais a fundo em uma estreia diretorial soberba e inebriante. Aliando-se a Meg LeFauve, que retorna como roteirista, o cineasta constrói imagens palpáveis dos abstracionismos conceituais da propriocepcão, da moralidade e do “senso de si”, apostando fichas na forma em que as convicções são formadas na transição da infância para a adolescência – e como esse segmento psíquico está em constante mutabilidade, impossível de ser engessado em um só espectro. Ademais, é notável como as técnicas de animação se mantêm fiéis ao que já nos foi proposto, mas abrindo espaço para camadas inéditas de mitologia espacial – como o Cofre dos pensamentos reprimidos, o “fim” da mente e o abismo do sarcasmo (uma jogada inteligentíssima que mistura explicações psicólogicas e humor).

Divertida Mente,Pixar

Mais do que isso, Mann e LeFauve não subestimam a sagacidade dos espectadores e convidam-nos a participar ativamente da história, invocando experiências compartilhadas para a audiência mais velha e oferecendo um “conforto” à mais jovem, que vai passar pela mesma coisa. O didatismo presente aqui não é condescendente, e sim inflexivo, crítico e instigante – mostrando que sempre há algo de novo a ser aprendido, não importa a idade que tenhamos. E, ao utilizar cores específicas para cada emoção (como feito no longa de 2015), há um lembrete da complexidade mental que ainda incita discussões entre os especialistas e entre nós mesmos. Não é à toa que Riley, outrora enfrentando as nuances de um amadurecimento iniciático, agora enfrenta uma pergunta muito mais difícil de ser respondida: “quem sou eu?”.

A dupla em questão também encontra sucesso significativo ao tocar o coração do público, mas de maneiras inesperadas. Até hoje, a cena entre Bing Bong e Alegria é motivo de compadecimento generalizado pelo trágico twist que nos foi mostrado; aqui, a imprevisibilidade rege o tom e constrói easter-eggs automaticamente reconhecíveis e que começam com um clássico enredo maniqueísta entre o “bem” e o “mal”, porém, que logo transmuta-se em uma intrincada análise que, sem sombra de dúvida, tem potencial de arrancar lágrimas dos mais céticos.

Divertida Mente,Pixar

Divertida Mente 2’ é uma sequência impecável e espetacular de uma das melhores animações do século – quiçá da história. Encontrar palavras para elogiar o teor artístico, técnico e filosófico do longa-metragem é um trabalho difícil; todavia, é notável como a obra vem em ótima hora para trazer a Pixar de volta aos eixos, colocando-a de volta à boa forma de maneira sensível e apaixonante.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Enquanto o público foi introduzido às emoções primárias de Riley na iteração anterior. Aqui, a protagonista finalmente chegou à adolescência e, como bem sabemos, a um turbilhão de eventos que vem acompanhando a iminência da puberdade e de uma das transições mais marcantes e dolorosas da vida. Preparando-se para um novo capítulo de sua jornada, Riley se vê engolfada em uma oportunidade “única” (tal como ela pensa) de participar de uma espécie de acampamento de hockey e de uma mudança profunda na configuração de seu cotidiano – principalmente com a saída de suas duas melhores amigas da escola e do prospecto do “recomeço”. E, como podíamos imaginar, essas constantes reviravoltas aproveitariam para introduzir quatro emoções: a Ansiedade, a Inveja, a Vergonha e o Tédio (e uma breve participação prematura da Nostalgia).

Personagens do filme Divertida Mente em uma sala colorida.

Ao chegarem ao centro de controles do cérebro de Riley, as emoções primárias (Alegria, Tristeza, Raiva, Nojinho e Medo) começam a lidar com um prospecto amedrontador de que a garota que amam está passando por uma revolução mais impactante do que previam, percebendo que as funcionalidades estão mais complexas e que o modo de lidar com o mundo externo e suas respectivas relações afetivas é mais difícil do que o antecipado. Ao se aproximar do Ensino Médio, Riley começa a navegar por situações sociais que clamam pelo modo de proteção e de ação que não pode ser fornecido pelas ativações já conhecidas. A Ansiedade, por exemplo, dublada com primazia por Tatá Werneck, é um mecanismo de defesa e de autossabotagem que representa nossa condição de cobrança em demasia e uma competitividade compulsória; a Inveja, por sua vez (encarnada por Gaby Milani), é um método de aproximação destrutiva e, ao mesmo tempo, que alimenta nossos impulsos de pertencimento – cada qual inserida em um contexto individual do hockey e do arco de Riley, mas pressionadas em uma reflexão universalista.

Se Pete Docter havia conseguido nos encantar no filme predecessor, Kelsey Mann explora ainda mais a fundo em uma estreia diretorial soberba e inebriante. Aliando-se a Meg LeFauve, que retorna como roteirista, o cineasta constrói imagens palpáveis dos abstracionismos conceituais da propriocepcão, da moralidade e do “senso de si”, apostando fichas na forma em que as convicções são formadas na transição da infância para a adolescência – e como esse segmento psíquico está em constante mutabilidade, impossível de ser engessado em um só espectro. Ademais, é notável como as técnicas de animação se mantêm fiéis ao que já nos foi proposto, mas abrindo espaço para camadas inéditas de mitologia espacial – como o Cofre dos pensamentos reprimidos, o “fim” da mente e o abismo do sarcasmo (uma jogada inteligentíssima que mistura explicações psicólogicas e humor).

Divertida Mente,Pixar

Mais do que isso, Mann e LeFauve não subestimam a sagacidade dos espectadores e convidam-nos a participar ativamente da história, invocando experiências compartilhadas para a audiência mais velha e oferecendo um “conforto” à mais jovem, que vai passar pela mesma coisa. O didatismo presente aqui não é condescendente, e sim inflexivo, crítico e instigante – mostrando que sempre há algo de novo a ser aprendido, não importa a idade que tenhamos. E, ao utilizar cores específicas para cada emoção (como feito no longa de 2015), há um lembrete da complexidade mental que ainda incita discussões entre os especialistas e entre nós mesmos. Não é à toa que Riley, outrora enfrentando as nuances de um amadurecimento iniciático, agora enfrenta uma pergunta muito mais difícil de ser respondida: “quem sou eu?”.

A dupla em questão também encontra sucesso significativo ao tocar o coração do público, mas de maneiras inesperadas. Até hoje, a cena entre Bing Bong e Alegria é motivo de compadecimento generalizado pelo trágico twist que nos foi mostrado; aqui, a imprevisibilidade rege o tom e constrói easter-eggs automaticamente reconhecíveis e que começam com um clássico enredo maniqueísta entre o “bem” e o “mal”, porém, que logo transmuta-se em uma intrincada análise que, sem sombra de dúvida, tem potencial de arrancar lágrimas dos mais céticos.

Divertida Mente,Pixar

Divertida Mente 2’ é uma sequência impecável e espetacular de uma das melhores animações do século – quiçá da história. Encontrar palavras para elogiar o teor artístico, técnico e filosófico do longa-metragem é um trabalho difícil; todavia, é notável como a obra vem em ótima hora para trazer a Pixar de volta aos eixos, colocando-a de volta à boa forma de maneira sensível e apaixonante.

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