terça-feira, abril 16, 2024

Crítica | Dogman – Suspense do celebrado diretor italiano Matteo Garrone

Matar ou Morrer

Exibido no Festival de Cannes 2018 (onde fez sua estreia mundial), Dogman é o novo trabalho do celebrado diretor italiano Matteo Garrone (Reality – A Grande Ilusão e O Conto dos Contos). O cineasta é um destes casos de artistas que nunca se aventurou pelo cinema comercial (por assim dizer), mas conquistou uma legião de fãs devido ao seu trabalho pungente (vide Woody Allen e Pedro Almodóvar). Definitivamente, Garrone é um diretor de prestígio cuja carreira devemos acompanhar.

Escrito pelo próprio cineasta, Dogman possui trama e estrutura que remetem a faroestes clássicos, modernizado para os dias de hoje. Um dos conceitos apresentados no longa é a divergência de personalidade entre os dois personagens mais importantes, espectros totalmente opostos, mas igualmente prejudiciais a si mesmos e à comunidade.

Passado numa pequena vizinhança italiana bem pobre, acompanhamos Marcello (Marcello Fonte), o típico sujeito tímido e boa praça, que facilmente veríamos em um filme de Woody Allen e que em muitos filmes se passa pelo “homem comum”, com quem todos se identificam com facilidade. O sujeito divorciado é pai de uma pequena menina e dono de uma loja para cachorros – onde dá banho, cuida e mantém alguns animais. Na primeira cena, o vemos “encantar” uma raça feroz, até o cão permitir ser tratado por ele. E este momento inicial diz muito sobre o que virá a seguir.

A pequena comunidade é em sua totalidade pacífica, não fosse pelo grande espinho nesta rosa. Simone (Edoardo Pesce) é o delinquente local, um aspirante a criminoso, viciado em cocaína, que vive causando todo tipo de problema no bairro. De pavio curto, o sujeito é uma bomba esperando para explodir – uma ameaça em potencial que simplesmente não irá embora. Entre destruir propriedade (como máquinas caça-níquel de uma loja) a graves agressões e roubos, os locais encontram-se desesperados para lidar com esta instável situação.

É claro que o morador mais pacato e o mais truculento (dois lados de uma moeda) irão se encontrar, inicialmente para uma relação parasítica e depois para a inevitável colisão e confronto. Um precisa ser parado, e o outro precisa sair da inércia e tomar uma atitude pela primeira vez na vida.

O que vemos em Dogman é o exemplo do que um verdadeiro mestre da narrativa consegue fazer com uma trama aparentemente simples, que facilmente poderia recair no modo modorrento, se transformar numa obra da qual não conseguimos desgrudar os olhos. Situações cotidianas – e assim extremamente identificáveis – falam mais alto no cinema de Garrone do que centenas de explosões num enlatado hollywoodiano, e igualmente mais do que dezenas de prepotentes longas pseudo-artísticos.

Não deixe de assistir:

Dogman coloca a lupa num microcosmo e o expande para uma situação universal. A mensagem é clara e verdadeira: às vezes precisamos agir de forma mais assertiva e intensa a fim de nos livrarmos de um problema, ou ele pode crescer e nos prejudicar em dobro ou triplo.

A direção de arte do longa é definitivamente um dos maiores chamarizes do filme. O bairro em forma de um pequeno vilarejo aterrado, e suas lojas vizinhas, não irão deixar a mente do público tão cedo – ou quem sabe nunca mais – dando grande sensação de pertencimento.

As atuações igualmente sobressaem. O pequeno Marcello Fonte é a escolha perfeita para o protagonista. Mas o destaque fica mesmo com a transformação de Edoardo Pesce como o troglodita Simone, facilmente entrando na lista dos grandes vilões do ano. É só dar uma olhada nas fotos do ator descaracterizado para perceber que o trabalho de maquiagem é estupendo – porém, caminha lado a lado com a performance avassaladora do ator. O nível de ameaça imposto é exato, sem nunca ultrapassar o limite e se tornar caricato. Ao mesmo tempo buscando muita humanidade, transparente em diversas cenas (como o trecho na boate).

Dogman é mais um trabalho luxuoso de Matteo Garrone. Longe de qualquer prepotência, examina de forma honesta questões sociais e empurra até romper o ponto de quebra do ser humano.

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