sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Dolittle – Robert Downey Jr. em nova bola fora longe da Marvel

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O Homem de Lata

Desde que se tornou um astro tarde em sua carreira devido ao papel em Homem de Ferro, Robert Downey Jr. “sofre” com um dilema: ele parece funcionar somente na pele do personagem de armadura. Com o herói, Downey se tornou o ator mais bem pago do cinema atual – mas para um artista, o desafio está justamente na versatilidade. Seu sucesso parece ser também sua maldição. Justamente por isso, o ator busca desesperadamente projetos (ou franquias) para desassociá-lo do bilionário Tony Stark – papel que já interpretou dez vezes nas telonas (indo para a décima primeira) e promete deixar em breve.

Do repertório fora da Marvel, apenas Sherlock Holmes funcionou moderadamente e gerou sequência (ele retorna ao personagem ano que vem). Suas apostas mais ambiciosas, no entanto, continuam a ser solenemente ignoradas. Ao lado da esposa, a produtora Susan Downey, bancou seu ‘drama sério’ O Juiz (2014), que passou em branco. Agora, a investida é numa superprodução de aventura para toda a família, nos moldes de Piratas do Caribe.



Para a nova empreitada, os Downey (Robert e Susan) ao lado da Universal Pictures tiram do armário novamente os clássicos textos do autor Hugh Lofting, criador do personagem John Dolittle ainda na década de 1920. Na trama passada na era vitoriana, cerca de 1820-1840, um médico possui o dom de se comunicar com os animais. Como todos sabem, as histórias do personagem foram adaptadas de forma moderna (bem, para os dias de 1998 e 2001) em filmes infantis protagonizados por Eddie Murphy – que foram sucesso de público.

Mas o que talvez nem todos saibam é que bem antes disso, em 1967 para ser mais preciso, o personagem teve ainda mais prestígio, ao protagonizar seu primeiro longa-metragem nas formas do ator Rex Harrison, em um musical de mais de 2h30min de duração intitulado por aqui O Fabuloso Doutor Dolittle. Detalhe, a produção foi indicada para nada menos que 9 Oscar, incluindo melhor filme, e levou os de efeitos e canção.

Justamente por isso, levando em conta o atual patamar do protagonista Robert Downey Jr., quando ficamos sabendo deste novo projeto, esperava-se um resultado mais próximo da obra original – com um filme mais maduro e mirado à época de prêmios, como seu predecessor. O anúncio da direção de Stephen Gaghan, roteirista de Traffic (2000) e diretor de Syriana (2005), corroborava com tal expectativa. Até mesmo o título planejado originalmente ‘The Voyage of Doctor Dolittle’ e a adaptação focada no segundo livro da série ajudavam a inserir a imponência no projeto.

Dolittle, entretanto, tem outras aspirações. Seu objetivo não é prêmios (a estreia em janeiro deixa claro) e sim gordas bilheterias. Como dito, a principal função do longa é estabelecer uma franquia – palavra de ordem em Hollywood na atualidade (em especial para produções com orçamentos largos, como é o caso dos US$175 milhões da obra). E a julgar pelo resultado nos EUA até o momento, é muito provável que não vejamos mais o doutor “louco” e seus animais falantes tão cedo.

O novo Dolittle é mirado ao público infantil e se comporta exatamente como tal. A graça e as piadas são seguras e domadas. A inocência cerca cada frame do longa. Mas ao contrário do recente O Chamado da Floresta, os pais que forem levar seus filhos para esta aventura, poderão se ver facilmente entediados, checando o relógio constantemente durante a projeção, que parece mais longa do que realmente é. Esta apatia pode ser um pouco reprimida devido à impressionante parte técnica – o que é esperado de um projeto de quase US$200 milhões. Mesmo assim, os efeitos que criam os animais (todos dublados por atores famosos) e os cenários exuberantes e exóticos impressionam.

Downey Jr. possui carisma para dar e vender, no entanto, sua versão do Doutor Dolittle, um herói relutante em depressão pela perda da esposa, não é das mais simpáticas. Os momentos de mais brilho na produção ocorrem por meio de certo humor non sense, onde o ator se vê à vontade para exalar sua veia espalhafatosa. Atuar ao lado de companheiros de tela que não estão verdadeiramente em cena não é das tarefas mais enriquecedoras, mas o ator topa o desafio de peito aberto.

Dolittle é aquele tipo de obra infantil que bate na trave, assim como o recente O Bom Gigante Amigo (2016), de Steven Spielberg, nunca conseguindo sobressair e prometendo em breve ficar relegado ao esquecimento. E quando entre as semelhanças temos piadas de flatulência, os indícios apontam para o pior. Afinal, ser o ator mais bem pago de Hollywood tem seu preço e às vezes é preciso pagá-lo com os gases de um dragão.

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Do repertório fora da Marvel, apenas Sherlock Holmes funcionou moderadamente e gerou sequência (ele retorna ao personagem ano que vem). Suas apostas mais ambiciosas, no entanto, continuam a ser solenemente ignoradas. Ao lado da esposa, a produtora Susan Downey, bancou seu ‘drama sério’ O Juiz (2014), que passou em branco. Agora, a investida é numa superprodução de aventura para toda a família, nos moldes de Piratas do Caribe.

Para a nova empreitada, os Downey (Robert e Susan) ao lado da Universal Pictures tiram do armário novamente os clássicos textos do autor Hugh Lofting, criador do personagem John Dolittle ainda na década de 1920. Na trama passada na era vitoriana, cerca de 1820-1840, um médico possui o dom de se comunicar com os animais. Como todos sabem, as histórias do personagem foram adaptadas de forma moderna (bem, para os dias de 1998 e 2001) em filmes infantis protagonizados por Eddie Murphy – que foram sucesso de público.

Mas o que talvez nem todos saibam é que bem antes disso, em 1967 para ser mais preciso, o personagem teve ainda mais prestígio, ao protagonizar seu primeiro longa-metragem nas formas do ator Rex Harrison, em um musical de mais de 2h30min de duração intitulado por aqui O Fabuloso Doutor Dolittle. Detalhe, a produção foi indicada para nada menos que 9 Oscar, incluindo melhor filme, e levou os de efeitos e canção.

Justamente por isso, levando em conta o atual patamar do protagonista Robert Downey Jr., quando ficamos sabendo deste novo projeto, esperava-se um resultado mais próximo da obra original – com um filme mais maduro e mirado à época de prêmios, como seu predecessor. O anúncio da direção de Stephen Gaghan, roteirista de Traffic (2000) e diretor de Syriana (2005), corroborava com tal expectativa. Até mesmo o título planejado originalmente ‘The Voyage of Doctor Dolittle’ e a adaptação focada no segundo livro da série ajudavam a inserir a imponência no projeto.

Dolittle, entretanto, tem outras aspirações. Seu objetivo não é prêmios (a estreia em janeiro deixa claro) e sim gordas bilheterias. Como dito, a principal função do longa é estabelecer uma franquia – palavra de ordem em Hollywood na atualidade (em especial para produções com orçamentos largos, como é o caso dos US$175 milhões da obra). E a julgar pelo resultado nos EUA até o momento, é muito provável que não vejamos mais o doutor “louco” e seus animais falantes tão cedo.

O novo Dolittle é mirado ao público infantil e se comporta exatamente como tal. A graça e as piadas são seguras e domadas. A inocência cerca cada frame do longa. Mas ao contrário do recente O Chamado da Floresta, os pais que forem levar seus filhos para esta aventura, poderão se ver facilmente entediados, checando o relógio constantemente durante a projeção, que parece mais longa do que realmente é. Esta apatia pode ser um pouco reprimida devido à impressionante parte técnica – o que é esperado de um projeto de quase US$200 milhões. Mesmo assim, os efeitos que criam os animais (todos dublados por atores famosos) e os cenários exuberantes e exóticos impressionam.

Downey Jr. possui carisma para dar e vender, no entanto, sua versão do Doutor Dolittle, um herói relutante em depressão pela perda da esposa, não é das mais simpáticas. Os momentos de mais brilho na produção ocorrem por meio de certo humor non sense, onde o ator se vê à vontade para exalar sua veia espalhafatosa. Atuar ao lado de companheiros de tela que não estão verdadeiramente em cena não é das tarefas mais enriquecedoras, mas o ator topa o desafio de peito aberto.

Dolittle é aquele tipo de obra infantil que bate na trave, assim como o recente O Bom Gigante Amigo (2016), de Steven Spielberg, nunca conseguindo sobressair e prometendo em breve ficar relegado ao esquecimento. E quando entre as semelhanças temos piadas de flatulência, os indícios apontam para o pior. Afinal, ser o ator mais bem pago de Hollywood tem seu preço e às vezes é preciso pagá-lo com os gases de um dragão.

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