A Origem encontra O Exorcista (3)
Pobre Aaron Eckhart. Todo ano o ator é vítima de lançamentos como este Dominação no início do ano. Em 2014 foi Frankenstein: Entre Anjos e Demônios, e ano passado o ator esteve na desastrosa sequência Invasão a Londres. 2017 não começa bem para ele, e Eckhart bambeia coma a estreia deste terror formulaico e pouco inspirado. Não que isso diminua o talento do ator indicado ao Globo de Ouro (Obrigado por Fumar), já que também emplacou nos cinemas com Sully – O Herói do Rio Hudson, de Clint Eastwood, e recebeu elogios de sobra por seu desempenho coadjuvante.
Seja como for, restam apenas grunhidos e rosnados para Eckhart aqui neste encontro de O Exorcista III (cito o terceiro filme por ser o mais fraco da franquia – tá bom, pode ser o reboot de 2004) e A Origem (2010). Na trama, o protagonista vive o Dr. Ember, uma espécie de cyber exorcista (o que me faz lembrar do bio exorcista Beeteljuice), um especialista no oculto e em possessões demoníacas com o estranho dom de adentrar a mente das pessoas. Assim como Leonardo DiCaprio no citado filme de Nolan, o Dr. Ember assume o controle de um mundo psíquico e nele enfrenta as ameaças que assombram seus hospedeiros.
A premissa criada por Ronnie Christensen é boa e criativa, pena que seu roteiro finca as possibilidades no mais baixo denominador comum, banhando-se em clichês pobres do gênero. As cenas e situações são tão burocráticas que arrancam risos e não sustos, principalmente se você for escolado neste tipo de cinema. Não por menos, o roteirista Christensen tem em seu repertório o capenga Passageiros (2008 – não confundir com a recente ficção de Chris Pratt e Jennifer Lawrence), com Anne Hathaway; e o amador filme de tubarões Maré Negra (2012), com Halle Berry.
A primeira cena apresenta um heroico Dr. Ember, disposto e enérgico, no resgate de mais uma vítima nas mãos de criaturas das trevas. Quando o “sonho”, ou pesadelo, termina, percebemos que a realidade é outra. O protagonista é um sujeito danificado, maltrapilho, de cabelos longos e barba por fazer, cuja aparência vem em último item em sua cartilha de vida. Além disso, ele está entravado em uma cadeira de rodas, sem poder contar com o movimento das pernas. Tudo devido a um dos acidentes automobilísticos mais mal contados da história do cinema, que terminou por… você acertou, tirar a vida de sua esposa e filha, deixando o sujeito traumatizado e amargurado. E o que mais?
Agora, o personagem de Eckhart passa seu restante de vida atrás da criatura a qual julga responsável pelo acidente (sim, é sério!). Ou seja, não foi sua direção imprudente como vemos de forma clara na tela que causou a morte de sua família, e sim um demônio a quem chama de Maggie – porque Tiffany já estava sendo usado. Embert terá a chance de vingança quando finalmente encontra o demônio de sua obsessão possuindo o pequeno Cameron, vivido pelo jovem David Mazouz (o Bruce Wayne da série Gotham) – a melhor coisa do longa, em uma atuação detalhista e relativamente assustadora.
O elo entre Ember e o garoto é a representante do Vaticano Camilla, papel da colombiana indicada ao Oscar, Catalina Sandino Moreno (Maria Cheia de Graça), em um trabalho indigno de seu talento. Completando o elenco, em um papel de igual falta de brilho, está Carice van Houten, a atriz holandesa que soma ótimas atuações em sua carreira como em A Espiã (2006), de Paul Verhoeven, e na série Game of Thrones, na qual interpreta a enigmática feiticeira Melisandre. A direção é de Brad Peyton, que imprimiu diversão e ação nos veículos para o astro Dwayne Johnson (o The Rock), Viagem 2: A Ilha Misteriosa (2012) e Terremoto: A Falha de San Andreas (2015). O que causa ainda mais curiosidade ao vermos que tais itens foram completamente drenados deste Dominação.
O primeiro filme de terror da carreira de Peyton é enfadonho e sonolento, perpassando por todos os quesitos de produções do gênero, sem deixar um de fora. Temos inclusive o ridículo rancor que o demônio teria pelo personagem principal. “Sou eu quem você quer”, é a frase proferida repetidas vezes pelo herói – o que me faz lembrar do igualmente risível Tubarão 4: A Vingança (1987), no qual a enorme criatura marinha tinha na agenda o extermínio da família Broody, custasse o que fosse. Dominação é um enlatado feito sob medida, no qual existe pouco espaço para sair da forma estrutural pré-estabelecida, o que termina deixando o filme com a cara de tantos outros que vemos e logo depois esquecemos. Para completar, você ganha um doce se acertar se o desfecho promete uma sequência ou não. Ps. Olhem bem para o cartaz do filme e talvez vocês adivinhem seu final.