Dorival Caymmi. Esse é um nome que a maioria dos brasileiros minimamente já ouviu falar. Talvez seja mais difícil para as gerações mais novas relacionar nome à obra, uma vez que o auge da carreira desse músico se deu muito antes do advento da internet e das redes sociais. Mas fato é que muito antes disso, Dorival já tinha construído as suas próprias redes sociais, círculos de amizades que ajudaram a solidificar não só sua carreira na música, mas também a sua família – razão pela qual é possível descrevê-lo como “um homem de afetos”. E esse é o título do documentário que conta parte de sua biografia que chega essa semana ao circuito exibidor, em comemoração aos 110 anos do nascimento deste que é um dos maiores gênios musicais do mundo.
Em pouco menos de duas horas de duração, a diretora Daniela Broitman convida o espectador a entrar numa roda de conversa com Caymmi, tamanha a proximidade que sentimos ao assistirmos o filme. É, de fato, como se estivéssemos ali, batendo um papo junto com o biografado, sua família e seus amigos, jogando conversa fora. Parte desse sentimento tem a ver com o roteiro da diretora, que traça um perfil bem simpático do biografado, deixando todos à vontade não só para falar dele, mas também para nós, para ouvirmos dele.
As entrevistas foram conduzidas de maneira a extrair o melhor da intimidade de Caymmi, com causos contados com o maior afeto possível por aqueles que o amavam. Dá para ver que as histórias são sinceras e que todos ali estão felizes em compartilhar essas memórias. Além dos filhos Dori, Danilo e Nana compartilhando memórias do pai Dorival – um aspecto talvez pouco conhecido do grande público – e da infância numa casa cheia de música e de músicos, há também depoimentos muito especiais de Caetano Veloso e Gilberto Gil, apontando como Caymmi é excelência musical e abriu caminhos para os movimentos da Tropicália e da Bossa Nova.
Parte do dinamismo gostoso que vemos no documentário é fruto da ótima montagem da produção feita por Jordana Berg, intercalando os depoimentos para imprimir ainda mais humor aos relatos, com especial atenção a uma cena de uma entrevista inédita do biografado, que está contando algo e alguém a seu lado impede que outra pessoa o interrompa. Esse olhar sensível à cena garante o riso certo no público.
Percorrendo sua relação com a natureza, sua espiritualidade no candomblé, as muitas paixões vividas e a atmosfera vibrante da Bahia que sempre ecoou no peito de Caymmi, fica muito nítido que Dorival Caymmi é um patrimônio brasileiro que fundamentou muito do que hoje é internacionalmente apreciado, e não só na música. E que documentários como ‘Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos’ ajudam a evidenciar esses aspectos do músico que talvez comecem a ser esquecidos pelo público, afinal, todo mundo já ouviu falar de Caymmi, mas talvez não o conheçam de fato.
‘Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos’ cumpre em trazer um olhar cheio de afetos sobre um dos maiores músicos que esse mundo já teve. Com muito humor, alegria e curiosidades irresistíveis, é um documentário essencial para conhecer o melhor do Brasil.