segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Crítica | Doutor Gama – Importante Cinebiografia do advogado abolicionista estreia na Globoplay

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O audiovisual brasileiro tem uma grande defasagem de produções que abordem os períodos e personalidades históricas do país. Esta afirmação é um fato, posto a quantidade (pouca, comparada a outros países) de produções anualmente e analisando o gênero de cada uma delas (maioria comédia e dramas). Ainda que na última década tenha havido maior interesse na produção de cinebiografias de personalidades musicais, há uma enorme carência de filmes e séries que tenham como tema personalidades negras brasileiras. Dedicado a suprir esse enorme buraco na representação negra no audiovisual brasileiro, o diretor Jeferson De vem realizando mais e mais trabalhos com essa temática, sendo o último a aguardadíssima cinebiografia ‘Doutor Gama’, que, após brevíssima estadia nos cinemas por apenas uma semana e também no Festival do Rio, chega agora aos assinantes da Globoplay.



Luiz Gama (Pedro Guilherme, na versão criança; Angelo Fernandes, como jovem; e César Mello, na versão adulta) é um importante advogado e abolicionista brasileiro, negro, que dedicou sua vida a estudar, defender e libertar muitos escravizados no território brasileiro entre o meio e o final do século XIX. Nascido livre, foi vendido como escravo aos dez anos de idade como pagamento das dívidas de seu pai, um homem branco. Já adulto, ao conhecer o jovem estudante de Direito Antonio (Johnny Massaro), aprende a ler e se dedica a estudar as leis brasileiras, até conseguir sua própria liberdade e a de mais de 500 escravizados nesta terra.

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Em aproximadamente uma hora e meia, o espectador é apresentado à uma breve leitura da trajetória de Luiz Gama, com uma mui rápida parada na época de infância até sua injusta venda; em seguida, pulamos para sua juventude, em que tem o primeiro contato com as letras e as leis, para então saltarmos para um Luiz Gama já estabelecido como advogado, e seu caso mais conhecido, do escravizado que matou seu senhor para salvar a esposa. Embora todos esses episódios sejam importantes, a continuidade entre eles é bastante frágil, com transição de cena meio bruta (tela preta) e saltos temporais que não são anunciados.

É claro que a biografia de Luiz Gama deve possuir muitas lacunas, com dados e elementos faltantes, porém, o roteiro de Luiz Antonio poderia ter suprido algumas delas com a licença poética que a própria ficção traz em si, de modo a preencher as partes que a História não dá conta e entregar uma narrativa mais linear ao espectador, mesmo que com o tom teatral adotado no longa. Também a montagem poderia ter suavizado a supracitada transição de cena, para entregar um filme mais coeso.

Embora com esses deslizes, ‘Doutor Gama’ é uma importante e bem-vinda cinebiografia, com um elenco quase completamente negro – incluindo a sempre ótima Mariana Nunes – que chega no momento certo para o grande público e marca a produção nacional como uma pedra fundamental para as novas e necessárias narrativas, para que sejam mais plurais e contadas sem estereótipos e pelas vozes certas, abrindo portas e caminhos para novos tipos de produções no Brasil.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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O audiovisual brasileiro tem uma grande defasagem de produções que abordem os períodos e personalidades históricas do país. Esta afirmação é um fato, posto a quantidade (pouca, comparada a outros países) de produções anualmente e analisando o gênero de cada uma delas (maioria comédia e dramas). Ainda que na última década tenha havido maior interesse na produção de cinebiografias de personalidades musicais, há uma enorme carência de filmes e séries que tenham como tema personalidades negras brasileiras. Dedicado a suprir esse enorme buraco na representação negra no audiovisual brasileiro, o diretor Jeferson De vem realizando mais e mais trabalhos com essa temática, sendo o último a aguardadíssima cinebiografia ‘Doutor Gama’, que, após brevíssima estadia nos cinemas por apenas uma semana e também no Festival do Rio, chega agora aos assinantes da Globoplay.

Luiz Gama (Pedro Guilherme, na versão criança; Angelo Fernandes, como jovem; e César Mello, na versão adulta) é um importante advogado e abolicionista brasileiro, negro, que dedicou sua vida a estudar, defender e libertar muitos escravizados no território brasileiro entre o meio e o final do século XIX. Nascido livre, foi vendido como escravo aos dez anos de idade como pagamento das dívidas de seu pai, um homem branco. Já adulto, ao conhecer o jovem estudante de Direito Antonio (Johnny Massaro), aprende a ler e se dedica a estudar as leis brasileiras, até conseguir sua própria liberdade e a de mais de 500 escravizados nesta terra.

Em aproximadamente uma hora e meia, o espectador é apresentado à uma breve leitura da trajetória de Luiz Gama, com uma mui rápida parada na época de infância até sua injusta venda; em seguida, pulamos para sua juventude, em que tem o primeiro contato com as letras e as leis, para então saltarmos para um Luiz Gama já estabelecido como advogado, e seu caso mais conhecido, do escravizado que matou seu senhor para salvar a esposa. Embora todos esses episódios sejam importantes, a continuidade entre eles é bastante frágil, com transição de cena meio bruta (tela preta) e saltos temporais que não são anunciados.

É claro que a biografia de Luiz Gama deve possuir muitas lacunas, com dados e elementos faltantes, porém, o roteiro de Luiz Antonio poderia ter suprido algumas delas com a licença poética que a própria ficção traz em si, de modo a preencher as partes que a História não dá conta e entregar uma narrativa mais linear ao espectador, mesmo que com o tom teatral adotado no longa. Também a montagem poderia ter suavizado a supracitada transição de cena, para entregar um filme mais coeso.

Embora com esses deslizes, ‘Doutor Gama’ é uma importante e bem-vinda cinebiografia, com um elenco quase completamente negro – incluindo a sempre ótima Mariana Nunes – que chega no momento certo para o grande público e marca a produção nacional como uma pedra fundamental para as novas e necessárias narrativas, para que sejam mais plurais e contadas sem estereótipos e pelas vozes certas, abrindo portas e caminhos para novos tipos de produções no Brasil.

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