Filme assistido durante o Festival de Toronto 2020
Diante do frequente costume de observar a chegada à idade mais madura pela ótica feminina, criou-se uma falsa ilusão de que o peso da meia idade não vem da mesma forma para a perspectiva masculina. Comumente tratados como aqueles que muitas vezes se encontram no auge da virilidade, os homens são normalmente vistos como figuras quase imunes às crises existências que uma mudança de fase tão grandiosa geralmente traz. Só que Druk – Mais Uma Rodada faz o caminho inverso de Hollywood e iguala homens e mulheres na mesma proporção quando o assunto é envelhecer.
Apresentando um conto tragicômico – que mostra os dissabores de quando o vigor da juventude se esvai, o novo longa dinamarquês/sueco traz Mads Mikkelsen (Hannibal) absolutamente vulnerável diante da audiência. Um drama com pitadas de comédia que acompanha um grupo de antigos amigos e professores do Ensino Médio, Mais Uma Rodada tem seu roteiro firmado em um experimento que obviamente já saberíamos o resultado. Mas o que conta aqui não são os resultados fálicos, mas sim toda o processo e jornada de autodescoberta dessa turma de homens de meia idade, que decidem adotar o consumo diário de bebida alcoólica a fim de provar uma antiga teoria de que o homem teria nascido com 0,5% a menos de álcool no organismo.
O estudo, que quase se transforma em uma tese ideológica, leva o grupo de professores a uma espiral doentia em que a porcentagem de consumo diário de álcool se torna menos importante que todos os reflexos e consequências que seu uso abusivo traz para os ambientes familiar, relacional e profissional. O que a bebida não conta, mas seus corpos e mentes sentem, é justamente o peso que a embriaguez é capaz de trazer na vida de uma pessoa. E como uma produção que não visa ser didática, é por justamente fugir dessa perspectiva que Druk naturalmente se transforma em um choque de realidade e uma dura e prática lição sobre as escolhas que fazemos na vida, quer estejamos no auge da juventude ou no cume da meia idade.
E salientando a fragilidade masculina a partir de um elemento que teoricamente deveria fazê-los se sentirem melhores sobre si mesmos, o longa proporciona uma experiência cativante para o público, que é tragado pela performance de Mads e de seus demais protagonistas desconhecidos do público geral. Explorando ainda um pouco da culturalidade da Suíça, a produção consegue ser uma jornada completa para a audiência justamente por sua leveza e equilíbrio ao migrar para temas densos e cômicos de forma quase simultânea, sem soar vulgar.
Com a habilidosa direção de Thomas Vinterberg, Druk – Mais uma Rodadaé uma aventura com viés coming of age sobre a transformação masculina diante dos 40 anos. Madura como a tal faixa etária pede e desbravadora como uma comédia dramática desse subgênero mais juvenil normalmente é, essa produção é uma incrível combinação de uma bela dose adocicada de bom humor, com o amargor da dura realidade de ter que reaprender a caminhar com as próprias pernas, mesmo depois dos 40.