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Crítica | Ed e Lorraine Warren se despedem com o ótimo ‘Invocação do Mal 4: O Último Ritual’


Crítica livre de spoilers.

A popularidade da franquia Invocação do Mal é algo emblemático para o cenário do entretenimento contemporâneo: criada por James Wan, a saga que reconta os assombrosos casos dos demonologistas Ed e Lorrain Warren teve início em 2013 e ascendeu a um prestígio considerável por parte da crítica e do público – ainda que tenha dado algumas escorregadas aqui e ali. Desenrolando-se em vários spin-offs que incluíram ‘Annabelle’ e A Freira, o impacto desse universo no gênero de terror é inegável, sagrando-o como um dos responsáveis pela revitalização de histórias sobrenaturais na sétima arte e estendendo seu legado mais de uma década desde seu início.

Agora, chegou a hora de dar adeus à franquia com o iminente lançamento de Invocação do Mal 4: O Último Ritual’. Apoiando-se no Caso Smurl, que ganhou as manchetes dos Estados Unidos entre os anos 1970 e 1980, o longa-metragem representa um retorno às gloriosas raízes cimentadas por Wan e funciona como uma sólida despedida desse contínuo projeto (ao menos nas telonas). E, para além de um comprometimento inegável do elenco, que conta com o retorno de Vera Farmiga e Patrick Wilson como os protagonistas, é notável como a obra funciona como uma carta de amor ao terror, amalgamando diversas homenagens em sua instigante narrativa.



Acompanhando a estrutura dos outros capítulos, o enredo de ‘O Último Ritual’ divide-se em dois: o primeiro acompanha o casal Warren agora aposentado e colhendo os últimos frutos de seu legado como pioneiros nas investigações paranormais e parapsíquicas, afastados do trabalho em campo em virtude da condição de Ed (Wilson), que sofreu um ataque cardíaco e precisa repousar. Lecionando palestras para alunos que se tornam cada vez mais escassos e que nutrem de um ceticismo crescente em relação aos casos que resolveram, os dois se veem em uma zona de conforto centrada em um cotidiano pacífico e que inclui a filha, Judy (Mia Tomlinson), que herdou os dons de Lorraine (Farmiga) e é acompanhada pelo namorado, o ex-policial Tony Spera (Ben Hardy).

Porém, as coisas não são tão simples quanto imaginam e, enquanto os Warren vivem sua vida longe das aparições que assombram o mundo terreno, uma força demoníaca ganha força na casa da família Smurl após a jovem Heather (Kíla Lord Cassidy) ser presenteada com um misterioso espelho, dado pelos avós. O que eles não imaginavam é que o objeto estava imbuído com uma entidade demoníaca avassaladora e mortal que deseja destruí-los de uma vez por todas – e que, como imaginamos, chama a atenção dos Warren após manchetes rodarem o mundo. E, à medida que eles decidem investigar (mais pelo ímpeto de Judy em levar a família de volta à ativa e utilizar seus dons para ajudá-los e salvá-los), Ed e Lorraine percebem que estão sendo atraídos para uma armadilha muito bem orquestrada cujo objetivo é colocar um ponto final em uma história de décadas.

Michael Chaves retorna à cadeira de direção após ter comandado dois capítulos da franquia Invocação do Mal – e, felizmente, ele aprendeu com os erros de um passado não muito distante, aparando excessos e pontas soltas de maneira prática e que, ainda que não traga muitos elementos inéditos a esse panteão do horror, chama nossa atenção por investidas ambiciosas que, na maior parte das vezes, encontra sucesso. Responsável por ‘A Maldição da Chorona’ e ‘A Ordem do Demônio’, Chaves mantém-se fiel à estética eternizada por Wan (como jump scares atmosféricos e o clássico plano-sequência inicial) e toma as rédeas do projeto de forma a cumprir com o prometido e finalizar essa aparente “fase inicial” com chave de ouro.

O diretor une-se a um roteiro assinado a três pares de mãos – e que conta com a participação de David Leslie Johnson-McGoldrick, criador das histórias originais ao lado de Wan -, arquitetando uma narrativa que mistura ficção e realidade. Afinal, a base que envolve o núcleo dos Smurl transforma-se em ponto-chave para um tour-de-force que envolve Ed, Lorraine e Judy e que transmuta o cenário em um palco regado a mistério e suspense, trazendo reviravoltas bem demarcadas que se beneficiam de um trabalho técnico e artístico de ponta. Desde a claustrofóbica e inescapável fotografia de Eli Born à tétrica trilha sonora do habilidoso Benjamin Wallfisch, a ideia é imortalizar mais uma experiência sinestésica que reitera o impacto da saga no show business.

Alguns elementos pecam ao repetirem fórmulas já usadas, singrando pela tênue linha que separa a homenagem e a cópia; todavia, os deslizes são ofuscados pela fabulosa entrega de um elenco estelar. Falar da performance de Wilson e Farmiga a essa altura do campeonato parece desnecessário, mas nunca é demais aclamar uma química que, mais de dez anos depois de ter sido iniciada, continua imaculada e nos envolvendo de modo inexplicável. O destaque também vai aos membros inéditos do corpo de atores, como Tomlinson e Hardy, que recriam, à sua guisa, o vibrante relacionamento entre Ed e Lorraine. E, completando o time, temos a presença de Rebecca Calder como Janet Smurl, Elliot Cowan como Jack Smurl e Steve Coulter como o Padre Gordon.

Invocação do Mal 4: O Último Ritual’ acerta em cheio ao perceber que regressar às origens nunca é uma má ideia quando bem-feita – e o projeto sabe como dosar todos os aspectos pelos quais nos apaixonamos ao longo de nove longas-metragens em uma conclusão sólida e que nos satisfaz do começo ao fim.

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Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
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