Por definição, efeito pigmaleão significa quanto maior a expectativa com relação a uma pessoa, melhor ela se sai na sua tarefa. Ou seja, uma espécie de efeito gerado de uma pessoa com relação a outra, em que o nível do desafio lançado sobre a outra é colocado lá em cima, de modo a forçar a outra pessoa a se superar e alcançar um nível mais elevado.
Com um título enigmático, é disso que se trata o longa ‘Efeito Pigmaleão’, que chegou recentemente à plataforma da Netflix. O título original dá uma dica bem melhor da proposta do filme: ‘La Vie Scolaire’ – traduzindo, a vida escolar. Comparativamente, podemos aproximar o longa de Mehdi Idir e Grand Corps Malade a uma versão francesa da novelinha brasileira de sucesso ‘Malhação’, só que compactada para caber no tamanho de um longa-metragem de aproximadamente 2 horas de duração.
A trama acompanha a chegada da nova orientadora educacional, Samia Zibra (Zita Hanrot) à uma escola na zona de Saint-Denis, na periferia de Paris. Ela participa de um conselho de classe com outros educadores e professores que distribuem as tarefas do ano letivo, e, aos poucos, os alunos (e os problemas deles) vão sendo apresentados. É através de Samia que o espectador vai sendo apresentado à bruta realidade dos jovens da periferia de Paris, em sua maioria descendentes de imigrantes, pobres e sem perspectivas de vida.
O roteiro também escrito por Mehdi Idir e Grand Corps Malade costura bem a entrada e saída dos personagens, dando maior destaque a alguns do que a outros, mas sem transformar ninguém como mero artifício de distração. Ao contrário, os personagens que são pouco desenvolvidos são colocados como menção à existência das problemáticas que eles representam (embora não sejam o foco da trama principal). Outra coisa muito legal do roteiro é a forma com que ele traça um paralelo entre a vida e o comportamento dos alunos com a vida e o comportamento dos próprios professores, demonstrando – através de uma bela sincronia com a montagem do longa – que, em muitos quesitos, alunos e professores se comportam de maneira parecida, e que é aí que reside o perigo no âmbito escolar.
Com uma dinâmica constante, ‘Efeito Pigmaleão’ retrata como o comportamento social na França reforça a constituição de estereótipos e preconceitos engessados universalmente, como o machismo, a xenofobia, a homofobia, etc. Ao equiparar professores e alunos, o filme convida o espectador a refletir sobre como nós – enquanto indivíduos e enquanto sociedade – pouco nos esforçamos para desconstruir essas barreiras invisíveis que impedem o deslocamento das pessoas entre as camadas sociais.
Rápido, cômico e muito próximo à realidade, ‘Efeito Pigmaleão’ pode ser comparado a uma versão light da série ‘Segunda Chamada’, da Rede Globo. É um filme que faz a gente pensar o quanto as periferias das cidades possuem os mesmos desafios cotidianos. E, para quem estiver com saudade do clima de sala de aula, fica a dica deste filme escolar.