domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica 2 | Oitava Série – Filme de Youtuber é um retrato fiel da pré-adolescência

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Crescer dá trabalho. Para quem mais pesa é difícil dizer. Sofrendo com as oscilações de humor, os pais vivem em uma constante e quase inacabável extensão de teto de vidro, sem saber lidar com o período inexplicável da vida de seus filhos, tateando no escuro. Absorvendo todas essas mesmas transformações, pré-adolescentes transitam entre os extremos, se afastam dos pais, têm explosões hormonais por todo o corpo, à medida que tentam aceitar um estado de plena mudança. Talvez a fase mais difícil, a adolescência é a prova de que nada é tão ruim que não possa piorar. E se aceitar em meio a esse turbilhão de alterações talvez seja um dos maiores desafios para qualquer um de nós. Eighth Grade (Oitava Série no Brasil) é esse retrato cru e realista sobre o que seria o limbo da vida real – aquele hiato da vida em que não somos mais crianças, mas estamos bem longe de ser adolescentes.



Dirigido por um Youtuber, é difícil imaginar que uma ideia tão boa assim poderia nascer de um comediante amador cuja história se iniciou junto aos primórdios da plataforma de vídeos. Produzindo conteúdo desde 2005, Bo Burnham foi de um extremo a outro, trazendo uma sensibilidade impensável, pela ótica de uma desajustada garota, que sofre com espinhas e com vários complexos de inferioridade. Fazendo do próprio YouTube sua zona de conforto, ela produz pequenos vídeos inspiradores sobre as próprias descobertas de sua vida. Tentando lutar contra sua inquieta e reclusa personalidade, ela conversa com estranhos, projeta sua vida para aquilo que ela gostaria de ser, mas fracassa em não conseguir seguir seus próprios conselhos.

Um retrato real sobre a forma como as mídias sociais têm definido nossas relações e a dinâmica do ser vs parecer, Eighth Grade nos leva para a mente de uma pré-adolescente de seus 13 anos (ou mais ou menos, o filme não especifica). Como parte de uma geração nascida em 89/90, que cresceu em meio à internet discada, acessava na madruga – horário de menor fluxo – e se esgueirava nos chats do Terra, era difícil imaginar, genuinamente, como vivem esses novos pré-adolescentes. Que a internet pauta suas rotinas todos já sabemos, mas suas percepções sobre essa fase – em meio à tecnologia abundante… ah, esse era um quebra-cabeça complicado demais de montar.

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A comédia dramática de Burnham faz isso. Preenche as lacunas da nossa mente, trazendo uma figura completa sobre as estranhezas dessa fase. Música alta no celular, o isolamento físico e emocional na mesa de jantar, a incansável busca por vidas melhores nas redes sociais. Se comparando a todo momento com tudo e todos, eles agonizam em silêncio, estão desconfortáveis o tempo todo consigo mesmos e são cheios de inseguranças. Pode até parecer um retrato semelhante das outras adolescências do passado, mas como a internet escalonou isso tudo! De repente, crescer se torna uma das tarefas mais árduas e os problemas que antes eram vividos em secreto, são expostos nas redes sociais, em meio a garotos que se comportam como adultos, com a sexualidade extremamente aflorada, em corpos esguios e franzinos, natural da pré-adolescência.

E Elsie Fisher é um primor diante das telas. Com o corpo em visível estágio de desenvolvimento, ombros encolhidos e rosto baixo, ela sofre por se sentir solitária, mas sofre ainda mais por sua insegurança. Ignorada e imperceptível por todos, ela se esforça para quebrar o ciclo vicioso de ser quem é. Mas quanto mais tenta, mais desconfortável parece ficar. E essa jornada de descobertas, medos e muita fragilidade é hipnotizante. Grudados na tela e embalados por uma trilha sonora que nos lembra Demônio de Neon, de Nicolas Winding Refn, Kayla nos angustia por seu comportamento agressivo, à medida que desperta uma empatia por sabermos que ela é um pouco de cada um de nós, em um contexto de adolescência três vezes pior.

Sensível e franco, Eighth Grade não tem meias palavras, vai direto ao ponto e de quebra mostra o quão difícil é ser uma garota nessa fase de transformações. Muito mais pesado do que para os meninos, elas são forçadas a se provar para tentar pertencer, são coagidas a ceder mesmo tremendo de medo e ainda encaram o assédio sexual sem sequer saber o que de fato isso realmente significa. Aparentemente destinadas a amadurecer mais rápido, elas digladiam desde cedo com a sujeição a garotos impertinentes, com hormônios a flor da pele, que não sabem se comportar diante de uma menina, sem pressioná-la.

Didático, o filme independente que arrancou aplausos no Festival de Sundance 2018 é uma lição de vida para pais e filhos. Com uma carga dramática poderosa e genuína, Eighth Grade não força a barra, coloca tudo na mesa e convida as famílias para tentarem entender um dos momentos mais cruciais e delicados da vida de suas crianças. Maduro e divertido, essa dramédia é capaz de promover uma sensibilidade maior em nós e de quebra nos antecipa um pouco do que nossos futuros filhos podem vir a sofrer nas suas próprias adolescências. E se entendermos direitinho seu recado, pode até ser que eles sofram menos que Kayla.

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Crescer dá trabalho. Para quem mais pesa é difícil dizer. Sofrendo com as oscilações de humor, os pais vivem em uma constante e quase inacabável extensão de teto de vidro, sem saber lidar com o período inexplicável da vida de seus filhos, tateando no escuro. Absorvendo todas essas mesmas transformações, pré-adolescentes transitam entre os extremos, se afastam dos pais, têm explosões hormonais por todo o corpo, à medida que tentam aceitar um estado de plena mudança. Talvez a fase mais difícil, a adolescência é a prova de que nada é tão ruim que não possa piorar. E se aceitar em meio a esse turbilhão de alterações talvez seja um dos maiores desafios para qualquer um de nós. Eighth Grade (Oitava Série no Brasil) é esse retrato cru e realista sobre o que seria o limbo da vida real – aquele hiato da vida em que não somos mais crianças, mas estamos bem longe de ser adolescentes.

Dirigido por um Youtuber, é difícil imaginar que uma ideia tão boa assim poderia nascer de um comediante amador cuja história se iniciou junto aos primórdios da plataforma de vídeos. Produzindo conteúdo desde 2005, Bo Burnham foi de um extremo a outro, trazendo uma sensibilidade impensável, pela ótica de uma desajustada garota, que sofre com espinhas e com vários complexos de inferioridade. Fazendo do próprio YouTube sua zona de conforto, ela produz pequenos vídeos inspiradores sobre as próprias descobertas de sua vida. Tentando lutar contra sua inquieta e reclusa personalidade, ela conversa com estranhos, projeta sua vida para aquilo que ela gostaria de ser, mas fracassa em não conseguir seguir seus próprios conselhos.

Um retrato real sobre a forma como as mídias sociais têm definido nossas relações e a dinâmica do ser vs parecer, Eighth Grade nos leva para a mente de uma pré-adolescente de seus 13 anos (ou mais ou menos, o filme não especifica). Como parte de uma geração nascida em 89/90, que cresceu em meio à internet discada, acessava na madruga – horário de menor fluxo – e se esgueirava nos chats do Terra, era difícil imaginar, genuinamente, como vivem esses novos pré-adolescentes. Que a internet pauta suas rotinas todos já sabemos, mas suas percepções sobre essa fase – em meio à tecnologia abundante… ah, esse era um quebra-cabeça complicado demais de montar.

A comédia dramática de Burnham faz isso. Preenche as lacunas da nossa mente, trazendo uma figura completa sobre as estranhezas dessa fase. Música alta no celular, o isolamento físico e emocional na mesa de jantar, a incansável busca por vidas melhores nas redes sociais. Se comparando a todo momento com tudo e todos, eles agonizam em silêncio, estão desconfortáveis o tempo todo consigo mesmos e são cheios de inseguranças. Pode até parecer um retrato semelhante das outras adolescências do passado, mas como a internet escalonou isso tudo! De repente, crescer se torna uma das tarefas mais árduas e os problemas que antes eram vividos em secreto, são expostos nas redes sociais, em meio a garotos que se comportam como adultos, com a sexualidade extremamente aflorada, em corpos esguios e franzinos, natural da pré-adolescência.

E Elsie Fisher é um primor diante das telas. Com o corpo em visível estágio de desenvolvimento, ombros encolhidos e rosto baixo, ela sofre por se sentir solitária, mas sofre ainda mais por sua insegurança. Ignorada e imperceptível por todos, ela se esforça para quebrar o ciclo vicioso de ser quem é. Mas quanto mais tenta, mais desconfortável parece ficar. E essa jornada de descobertas, medos e muita fragilidade é hipnotizante. Grudados na tela e embalados por uma trilha sonora que nos lembra Demônio de Neon, de Nicolas Winding Refn, Kayla nos angustia por seu comportamento agressivo, à medida que desperta uma empatia por sabermos que ela é um pouco de cada um de nós, em um contexto de adolescência três vezes pior.

Sensível e franco, Eighth Grade não tem meias palavras, vai direto ao ponto e de quebra mostra o quão difícil é ser uma garota nessa fase de transformações. Muito mais pesado do que para os meninos, elas são forçadas a se provar para tentar pertencer, são coagidas a ceder mesmo tremendo de medo e ainda encaram o assédio sexual sem sequer saber o que de fato isso realmente significa. Aparentemente destinadas a amadurecer mais rápido, elas digladiam desde cedo com a sujeição a garotos impertinentes, com hormônios a flor da pele, que não sabem se comportar diante de uma menina, sem pressioná-la.

Didático, o filme independente que arrancou aplausos no Festival de Sundance 2018 é uma lição de vida para pais e filhos. Com uma carga dramática poderosa e genuína, Eighth Grade não força a barra, coloca tudo na mesa e convida as famílias para tentarem entender um dos momentos mais cruciais e delicados da vida de suas crianças. Maduro e divertido, essa dramédia é capaz de promover uma sensibilidade maior em nós e de quebra nos antecipa um pouco do que nossos futuros filhos podem vir a sofrer nas suas próprias adolescências. E se entendermos direitinho seu recado, pode até ser que eles sofram menos que Kayla.

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