quarta-feira, agosto 20, 2025
More
    InícioCríticasCrítica | Eleanor The Great – Em estreia na direção, Scarlett...

    Crítica | Eleanor The Great – Em estreia na direção, Scarlett Johansson aposta no afeto e esquece o conflito [Cannes 2025]

    Após anos como uma das atrizes mais reconhecidas de Hollywood, Scarlett Johansson estreia no comando de um longa com Eleanor The Great. Exibido na mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes 2025, o filme é um drama agridoce que pretende homenagear as amizades, o luto e o pertencimento na terceira idade, porém escorrega em decisões narrativas comedidas, evitando conflitos reais e, por isso, não alcança a potência emocional ou ética exigida.

    Aos 95 anos, June Squibb reafirma seu talento em interpretar mulheres idosas com força, humor e um certo olhar sapeca. Indicado ao Oscar por Nebraska (2013), a atriz nonagenária dá vida a Eleanor Morgenstein, uma viúva judia que, ao perder sua melhor amiga Bessie (Rita Zohar), decide voltar a viver com a filha e o neto em Nova York. Isolada e em luto, ela busca conexão ao se infiltrar, por engano e depois por escolha, em um grupo de apoio para sobreviventes do Holocausto. O detalhe desconcertante: Eleanor não é uma.

    A mentira nasce como uma tentativa de honrar Bessie — esta sim, uma sobrevivente marcada pelo trauma —, mas cresce em proporções desconfortáveis à medida que Eleanor começa a repetir memórias e relatos da amiga como se fossem suas. A partir desse deslize, o filme flerta com questões éticas importantes, mas hesita em aprofundá-las. Em vez de confrontar o peso real da impostura — especialmente em um contexto tão delicado quanto o do Holocausto — o roteiro opta por suavizar o impacto com sentimentalismo, diluindo o drama em lugar de encará-lo.

    O tom geral de Eleanor The Great, portanto, remete a produções televisivas de apelo fácil e melodramático como as obras Hallmark. Com sua música suave, diálogos reconfortantes e momentos previsivelmente ‘fofos’, o filme busca emocionar sem provocar. Embora tenha um coração sincero, carece de profundidade para construir laços reais com o espectador. Com o roteiro inconsistente, a direção e a montagem não conseguem desenvolver um trabalho instigante. 

    A condução de Johansson é correta, porém cautelosa. Há escolhas visuais simpáticas e um cuidado na composição das cenas, mas falta ousadia. Em momentos em que o desconforto seria inevitável — como nas reuniões do grupo ou nos embates familiares —, Scarlett Johansson opta por encobrir tensões com estética suave e trilhas melancólicas. Sua breve incursão pela direção no curta These Vagabond Shoes (disponível no YouTube) apresenta soluções mais criativas.

    Outro ponto de desequilíbrio é o desfecho quase acidental em relação ao lar de idosos. A aceitação repentina de Eleanor em ir para um lar de idosos, após tanta resistência, é uma resolução abrupta que enfraquece a trajetória da personagem e reforça o receio do filme de encarar os dilemas do envelhecimento com realismo. 

    Há também o arco de Nina (Erin Kellyman), jovem estudante de jornalismo que se torna confidente de Eleanor e pretende transformar sua história em um artigo. Com o envolvimento do pai jornalista (Chiwetel Ejiofor), o filme até sugere que algo sério se aproxima — mas, quando a verdade vem à tona, tudo se resolve de maneira tão rápida e inofensiva que nos afasta completamente da narrativa superficial. A amizade entre Nina e Eleanor, que poderia ser tocante, transforma-se em um laço desigual, regido mais por condescendência do que por admiração — desperdiçando uma chance de aprofundar o afeto entre gerações, tal como Mary & Max – Uma Amizade Diferente (2009), de Adam Elliot. Uma grande decepção para a capacidade de June Squibb.

    Scarlett Johansson possui uma herança judaica familiar e, portanto, uma conexão pessoal com o tema, mas não é suficiente para evitar a abordagem superficial. Com roteiro assinado pela também estreante Tory Kamen, o filme dedica um olhar piedoso à sua protagonista e esquece o principal ingrediente de uma boa tragicomédia: tempo de riso e de lamento, sem preocupação em pautar resoluções fáceis. Eleanor The Great tenta homenagear a memória dos sobreviventes do Holocausto e o envelhecimento com dignidade, mas acaba como uma obra hesitante — e incapaz de justificar a ‘grande’ Eleanor prometido no título.

    Últimas Notícias

    Após anos como uma das atrizes mais reconhecidas de Hollywood, Scarlett Johansson estreia no comando de um longa com Eleanor The Great. Exibido na mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes 2025, o filme é um drama agridoce que pretende homenagear as amizades,...Crítica | Eleanor The Great – Em estreia na direção, Scarlett Johansson aposta no afeto e esquece o conflito [Cannes 2025]