domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Eric: Bennedict Cumberbatch e Netflix se unem em excelente minissérie de suspense dramático

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É nas encardidas ruas da Nova York oitentista que o pequeno Edgar, de nove anos, desaparece de seus pais. Estendendo um rastro de destruição em uma família já desestruturada, seu sumiço é mais do que outro suspeito sequestro – daqueles comuns entre as décadas de 80 e 90. Como uma pétala que se desfaz de uma murcha e quase desfalecida rosa, sua trágica história é um inesperado prelúdio da brusca queda de um castelo de cartas. E o que, aparentemente, parecia envolver apenas um pequeno núcleo familiar, se transforma é um imenso novelo de lã que se desfaz, conectando histórias, tragédias aleatórias e uma rede de corrupção sem medidas.



Eric poderia ser apenas uma minissérie dramática como tantas outras, mas Abi Morgan faz de sua mais nova produção um catalisador de pequenas, grandes e complexas narrativas interpessoais, que ainda estampam o ruidoso e quase apocalíptico cenário de uma Nova York assombrada pela má gestão, tomada por gangues, tráfico de drogas a céu aberto e macabras pichações. Nesse cenário de perdas e desespero, Benedict Cumberbatch ousa se despir da audiência, tal como o fez em O Jogo da Imitação. Dando vida a um verborrágico e exigente pai alcoólatra, ele é uma complicada combinação entre a genialidade criativa, a soberba de um discurso constantemente agressivo e o fervilhar de traumas de infância marcados por pais ricos, mas frios e ausentes.

Como um vulcão em constante ebulição, ele é intenso, intragável e difícil de lidar. Seu coração está no lugar certo, mas sua mente não. Sua esposa, vivida por Gaby Hoffmann, é embalada por seu caos. Sempre reativa, ela é o reflexo da toxicidade de seu parceiro. Juntos, eles formam um doentio coquetel molotov, transformando seu secreto caos em uma espiral de sofrimento e solidão. E não haveria escolha melhor para essa disfuncional realidade que não fosse Cumberbatch e Hoffmann. Brigando entre si enquanto lutam por um mesmo objetivo, ambos são como cicatrizes abertas e pulsantes, que perambulam sem rumo pelos imundos becos de uma Nova York antiga, em busca de seu filho.

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Com performances poderosas e dignas de prêmios, a dupla protagonista é acompanhada por McKinley Belcher III, Dan Fogler e David Denman, que brilham em tela em papéis secundários que sustentam os pilares da narrativa principal. E protagonizando um dos três subplots presentes em Eric, ambos também são peças-chave nesse thriller dramático que se compõe diante dos nossos olhos como um denso quebra-cabeça. Ajudando a compor a dramaticidade e o mistério da trama, eles também operam como bússolas morais, que nos ajudam a caminhar e a encaixar cada pedaço desse imenso retrato.

E de maneira especial, McKinley nos encanta como o voraz, sensível e focado policial Mickey. Enfrentando seus próprios dilemas em uma década marcada pela epidemia da AIDS, ele recria um hiato muito doloroso da história mundial, com a precisão de um ator habilidoso e a sutileza de quem sabe que está fazendo mais do que contar uma história fictícia. E assim, Eric transforma um thriller dramático sobre o desaparecimento de uma criança em uma experiência sinestésica e histórica, que faz uma amálgama entre ficção, fantasia e realidade. Abordando com profundidade a psique de um homem repleto de vícios e traumas, a original Netflix ainda consegue nos tocar profundamente com seus personagens, nos vinculando às suas lutas de maneira apaixonada.

Aguçando nossos sentidos e nos proporcionando uma experiência emocionalmente exaustiva – tamanha sinestesia da obra de Morgan -, Eric é uma raridade em autenticidade, em um mar de remakes, reboots e sinalizações de virtude excessivas. Com um design de produção que nos transporta para a vibrante década de 80, a série da Netflix conta com um roteiro impecável, que faz alusões poderosas entre doenças mentais e o contexto do entretenimento infantil. Apresentando três subtramas além do core narrativo (sumiço do garoto Edgar), a produção ainda consegue a façanha de administrar bem seu tempo de tela, garantindo que todas as pequenas grandes histórias se desenvolvam bem e se conectem com a essência da trama.

E ainda que alguns torçam o nariz alegando que a original Netflix tenta explorar mais temáticas do que de fato é capaz de desenvolver em apenas seis episódios, a verdade é que Eric é uma complexa teia de histórias que inevitável e invariavelmente se conectam. Trazendo às telinhas uma realidade histórica social latente que de fato marcou os Estados Unidos, a produção faz um relato quase documental de uma época dilacerada por excessivas mortes de homens gays, violência no gueto, racismo e miséria – unindo todos esses pontos a partir de uma tragédia familiar. Nos absorvendo profundamente para esse drama, à medida em que expõe as rachaduras de um lar marcado por dor, traumas e vícios, a nova minissérie é uma catártica experiência – tanto para os personagens, bem como para o público. Eric transforma o sofrimento em uma valiosa oportunidade de cura, uma chance de cavarmos o melhor em nós em meio aos escombros da monstruosidade que muitas vezes carregamos na alma e sequer percebemos.

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É nas encardidas ruas da Nova York oitentista que o pequeno Edgar, de nove anos, desaparece de seus pais. Estendendo um rastro de destruição em uma família já desestruturada, seu sumiço é mais do que outro suspeito sequestro – daqueles comuns entre as décadas de 80 e 90. Como uma pétala que se desfaz de uma murcha e quase desfalecida rosa, sua trágica história é um inesperado prelúdio da brusca queda de um castelo de cartas. E o que, aparentemente, parecia envolver apenas um pequeno núcleo familiar, se transforma é um imenso novelo de lã que se desfaz, conectando histórias, tragédias aleatórias e uma rede de corrupção sem medidas.

Eric poderia ser apenas uma minissérie dramática como tantas outras, mas Abi Morgan faz de sua mais nova produção um catalisador de pequenas, grandes e complexas narrativas interpessoais, que ainda estampam o ruidoso e quase apocalíptico cenário de uma Nova York assombrada pela má gestão, tomada por gangues, tráfico de drogas a céu aberto e macabras pichações. Nesse cenário de perdas e desespero, Benedict Cumberbatch ousa se despir da audiência, tal como o fez em O Jogo da Imitação. Dando vida a um verborrágico e exigente pai alcoólatra, ele é uma complicada combinação entre a genialidade criativa, a soberba de um discurso constantemente agressivo e o fervilhar de traumas de infância marcados por pais ricos, mas frios e ausentes.

Como um vulcão em constante ebulição, ele é intenso, intragável e difícil de lidar. Seu coração está no lugar certo, mas sua mente não. Sua esposa, vivida por Gaby Hoffmann, é embalada por seu caos. Sempre reativa, ela é o reflexo da toxicidade de seu parceiro. Juntos, eles formam um doentio coquetel molotov, transformando seu secreto caos em uma espiral de sofrimento e solidão. E não haveria escolha melhor para essa disfuncional realidade que não fosse Cumberbatch e Hoffmann. Brigando entre si enquanto lutam por um mesmo objetivo, ambos são como cicatrizes abertas e pulsantes, que perambulam sem rumo pelos imundos becos de uma Nova York antiga, em busca de seu filho.

Com performances poderosas e dignas de prêmios, a dupla protagonista é acompanhada por McKinley Belcher III, Dan Fogler e David Denman, que brilham em tela em papéis secundários que sustentam os pilares da narrativa principal. E protagonizando um dos três subplots presentes em Eric, ambos também são peças-chave nesse thriller dramático que se compõe diante dos nossos olhos como um denso quebra-cabeça. Ajudando a compor a dramaticidade e o mistério da trama, eles também operam como bússolas morais, que nos ajudam a caminhar e a encaixar cada pedaço desse imenso retrato.

E de maneira especial, McKinley nos encanta como o voraz, sensível e focado policial Mickey. Enfrentando seus próprios dilemas em uma década marcada pela epidemia da AIDS, ele recria um hiato muito doloroso da história mundial, com a precisão de um ator habilidoso e a sutileza de quem sabe que está fazendo mais do que contar uma história fictícia. E assim, Eric transforma um thriller dramático sobre o desaparecimento de uma criança em uma experiência sinestésica e histórica, que faz uma amálgama entre ficção, fantasia e realidade. Abordando com profundidade a psique de um homem repleto de vícios e traumas, a original Netflix ainda consegue nos tocar profundamente com seus personagens, nos vinculando às suas lutas de maneira apaixonada.

Aguçando nossos sentidos e nos proporcionando uma experiência emocionalmente exaustiva – tamanha sinestesia da obra de Morgan -, Eric é uma raridade em autenticidade, em um mar de remakes, reboots e sinalizações de virtude excessivas. Com um design de produção que nos transporta para a vibrante década de 80, a série da Netflix conta com um roteiro impecável, que faz alusões poderosas entre doenças mentais e o contexto do entretenimento infantil. Apresentando três subtramas além do core narrativo (sumiço do garoto Edgar), a produção ainda consegue a façanha de administrar bem seu tempo de tela, garantindo que todas as pequenas grandes histórias se desenvolvam bem e se conectem com a essência da trama.

E ainda que alguns torçam o nariz alegando que a original Netflix tenta explorar mais temáticas do que de fato é capaz de desenvolver em apenas seis episódios, a verdade é que Eric é uma complexa teia de histórias que inevitável e invariavelmente se conectam. Trazendo às telinhas uma realidade histórica social latente que de fato marcou os Estados Unidos, a produção faz um relato quase documental de uma época dilacerada por excessivas mortes de homens gays, violência no gueto, racismo e miséria – unindo todos esses pontos a partir de uma tragédia familiar. Nos absorvendo profundamente para esse drama, à medida em que expõe as rachaduras de um lar marcado por dor, traumas e vícios, a nova minissérie é uma catártica experiência – tanto para os personagens, bem como para o público. Eric transforma o sofrimento em uma valiosa oportunidade de cura, uma chance de cavarmos o melhor em nós em meio aos escombros da monstruosidade que muitas vezes carregamos na alma e sequer percebemos.

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