quinta-feira , 14 novembro , 2024

Crítica | Ever Anderson rouba a cena no aceitável live-action ‘Peter Pan & Wendy’

‘Peter Pan é uma das histórias mais mágicas e conhecidas de todos os tempos e acompanha um jovem garoto, que empresta seu nome ao título da narrativa, que mora na longínqua e mística Terra do Nunca – onde as crianças nunca crescem e vivem sem pais ou adultos para dizer-lhes o que fazer. E, enquanto o enredo original parte de uma premissa mais obscura, a Walt Disney Studios se apropriou do romance de J.M. Barrie para levá-lo às crianças através de uma adaptação que marcaria época.

Enquanto outras tentativas de reler a animação em um live-action aconteceram, poucas encontraram sucesso – com exceção, talvez, do longa-metragem de 2003 que trouxe Jeremy Sumpter e Jason Isaacs no elenco protagonista (e que, mesmo assim, gerou um prejuízo multimilionário para a Universal Pictures). Agora, está na hora de revisitarmos a Terra do Nunca com o remake da própria Casa Mouse, ‘Peter Pan & Wendy’, que aposta fichas em investidas diferentes das anteriores – e que acerta em cheio em alguns elementos e falha em outros, transformando a produção em uma aceitável adaptação que drena o máximo que pode de um elenco talentoso e convincente.



Assim como a trama original, somos transportados para a Londres dos anos 1900 e conhecemos a família Darling, cujos três filhos – Wendy (Ever Anderson), João (Joshua Pickering) e Miguel (Jacobi Jupe) – passam por uma mudança quando Wendy sairá de casa para estudar em um colégio interno, abandonando a beleza de ser criança e começando a cumprir com seus deveres como uma jovem moça. E, após entrar em atrito com os pais, a garota e seus irmãos são visitados por uma presença quase sobrenatural – um menino adolescente chamado Peter Pan, que já os vinha observando há bastante tempo e que resolve “salvá-los”, viajando com eles até a Terra do Nunca, onde eles permanecerão crianças para sempre. Mas as coisas não seguem como o planejado e, assim que chegam na ilha, são atacados pelo temível Capitão Gancho (Jude Law) e seus asseclas piratas.

O responsável pela nova refilmagem é David Lowery, que já emprestou suas habilidades para a Disney com o bem-recebido ‘Meu Amigo, o Dragão’ e com a fantasia obscura ‘O Cavaleiro Verde’, que se tornou um dos filmes mais aclamados de 2021. Entretanto, o cineasta não parece tão inspirado como quanto as obras anteriores e constrói cenários belíssimos dentro de contextos que não têm muito a dizer: de um lado, temos a imponência do Jolly Roger, o navio de Gancho, em contraposição aos desfiladeiros e ao infinito oceano azulado que o cercam; de outro, o misticismo das florestas da ilha e a proteção fornecida por Peter aos Garotos Perdidos e aqueles que lhe juraram lealdade. Porém, nenhuma dessas propostas é explorada como deveria, resolvendo dar mais enfoque aos personagens e a uma cansativa cópia de cenas clássicas.

O elenco é o principal ponto de exploração do longa-metragem e nos guia através de uma dissonante narrativa. Anderson faz um trabalho impecável como Wendy, recuperando os trabalhos de atrizes que já interpretaram a personagem à medida que oferece algo de novo – como a preocupação constante com aqueles mais jovens e a dúbia sensação de temor e de encantamento para com a vida adulta, bem como ímpetos totalmente compreensíveis. Não é surpresa, pois, que ela roube nossa atenção em todos os momentos que aparece em cena, conseguindo nos encantar com seu poder performático – que a transforma na verdadeira protagonista. Law também faz um ótimo trabalho, apresentando novas facetas de um dos maiores vilões da Casa Mouse.

A decepção, todavia, fica a encargo de Alexander Molony como Pan. Não digo que ele não entrega uma boa atuação, mas, ao ser jogado para escanteio, mergulha em incursões premeditáveis que não têm nada de novo – e que não conseguem ser salvas por um roteiro um tanto quanto medíocre e que desperdiça elementos fundamentais da história. Talvez Lowery tivesse resolvido arquitetar uma perspectiva mais intimista, com toques épicos de aventura; mas, no final das contas, as engrenagens não se encaixam como deveriam e deixam pontas soltas.

Mesmo assim, o resultado consegue superar as expectativas dentro de suas limitações. As mensagens entregues pelo filme são certeiras e, se conseguirmos deixar de lado os falhos aspectos técnicos, a diversão é garantida – e, ainda que ‘Peter Pan & Wendy’ não fuja muito da curva decepcionante dos remakes em live-action, se estrutura como uma boa pedida para ver em família.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Enquanto outras tentativas de reler a animação em um live-action aconteceram, poucas encontraram sucesso – com exceção, talvez, do longa-metragem de 2003 que trouxe Jeremy Sumpter e Jason Isaacs no elenco protagonista (e que, mesmo assim, gerou um prejuízo multimilionário para a Universal Pictures). Agora, está na hora de revisitarmos a Terra do Nunca com o remake da própria Casa Mouse, ‘Peter Pan & Wendy’, que aposta fichas em investidas diferentes das anteriores – e que acerta em cheio em alguns elementos e falha em outros, transformando a produção em uma aceitável adaptação que drena o máximo que pode de um elenco talentoso e convincente.

Assim como a trama original, somos transportados para a Londres dos anos 1900 e conhecemos a família Darling, cujos três filhos – Wendy (Ever Anderson), João (Joshua Pickering) e Miguel (Jacobi Jupe) – passam por uma mudança quando Wendy sairá de casa para estudar em um colégio interno, abandonando a beleza de ser criança e começando a cumprir com seus deveres como uma jovem moça. E, após entrar em atrito com os pais, a garota e seus irmãos são visitados por uma presença quase sobrenatural – um menino adolescente chamado Peter Pan, que já os vinha observando há bastante tempo e que resolve “salvá-los”, viajando com eles até a Terra do Nunca, onde eles permanecerão crianças para sempre. Mas as coisas não seguem como o planejado e, assim que chegam na ilha, são atacados pelo temível Capitão Gancho (Jude Law) e seus asseclas piratas.

O responsável pela nova refilmagem é David Lowery, que já emprestou suas habilidades para a Disney com o bem-recebido ‘Meu Amigo, o Dragão’ e com a fantasia obscura ‘O Cavaleiro Verde’, que se tornou um dos filmes mais aclamados de 2021. Entretanto, o cineasta não parece tão inspirado como quanto as obras anteriores e constrói cenários belíssimos dentro de contextos que não têm muito a dizer: de um lado, temos a imponência do Jolly Roger, o navio de Gancho, em contraposição aos desfiladeiros e ao infinito oceano azulado que o cercam; de outro, o misticismo das florestas da ilha e a proteção fornecida por Peter aos Garotos Perdidos e aqueles que lhe juraram lealdade. Porém, nenhuma dessas propostas é explorada como deveria, resolvendo dar mais enfoque aos personagens e a uma cansativa cópia de cenas clássicas.

O elenco é o principal ponto de exploração do longa-metragem e nos guia através de uma dissonante narrativa. Anderson faz um trabalho impecável como Wendy, recuperando os trabalhos de atrizes que já interpretaram a personagem à medida que oferece algo de novo – como a preocupação constante com aqueles mais jovens e a dúbia sensação de temor e de encantamento para com a vida adulta, bem como ímpetos totalmente compreensíveis. Não é surpresa, pois, que ela roube nossa atenção em todos os momentos que aparece em cena, conseguindo nos encantar com seu poder performático – que a transforma na verdadeira protagonista. Law também faz um ótimo trabalho, apresentando novas facetas de um dos maiores vilões da Casa Mouse.

A decepção, todavia, fica a encargo de Alexander Molony como Pan. Não digo que ele não entrega uma boa atuação, mas, ao ser jogado para escanteio, mergulha em incursões premeditáveis que não têm nada de novo – e que não conseguem ser salvas por um roteiro um tanto quanto medíocre e que desperdiça elementos fundamentais da história. Talvez Lowery tivesse resolvido arquitetar uma perspectiva mais intimista, com toques épicos de aventura; mas, no final das contas, as engrenagens não se encaixam como deveriam e deixam pontas soltas.

Mesmo assim, o resultado consegue superar as expectativas dentro de suas limitações. As mensagens entregues pelo filme são certeiras e, se conseguirmos deixar de lado os falhos aspectos técnicos, a diversão é garantida – e, ainda que ‘Peter Pan & Wendy’ não fuja muito da curva decepcionante dos remakes em live-action, se estrutura como uma boa pedida para ver em família.

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