terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | ‘Evidências do Amor’, com Fábio Porchat e Sandy, é uma das MELHORES comédias românticas do ano

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O cinema brasileiro sempre enfrentou um grande problema por parte do próprio público nacional – sendo estigmatizado dentro do escopo das comédias pastelões. Sabemos que tal máxima é falsa apenas pela quantidade de dramas aclamados pela crítica e que conquistam indicações e estatuetas nos festivais mais badalados do planeta. Entretanto, é notável como algumas comédias conquistam os espectadores de modo impressionante, cumprindo com o prometido e emergindo como uma simples história escapista cujo objetivo é bem claro. Nos últimos anos, por exemplo, tivemos a última parte da trilogia ‘Minha Mãe é uma Peça’, estrelada pelo saudoso Paulo Gustavo, e o cândido longa natalino ‘Tudo Bem no Natal que Vem’, protagonizado por Leandro Hassum.

Um dos comediantes de maior sucesso do cenário do entretenimento é Fábio Porchat – que nos convida para a aguardada dramédia romântica Evidências do Amor. Co-assinando o roteiro e co-protagonizando o projeto ao lado de Sandy Leah, Porchat abre espaço para uma história que acompanha dois amantes que se conhecem em um karaokê cantando a clássica canção “Evidências”, eternizada pela dupla Chitãozinho e Xororó, desfrutando de um amor aparentemente eterno. Todavia, o que é bom dura pouco e, sem mais nem menos, o casal rompe – e Marco Antônio (Porchat) começa a ser atormentado pela música supracitada, mas não do jeito que esperamos: toda vez que ele a ouve, é transportado para uma memória ruim que compartilha com a ex, Laura, talvez como forma de punição, talvez para entender alguma coisa que não compreende.

É notável como a atmosfera arquitetada pelo diretor Pedro Antônio, que também empresta suas habilidades à construção do roteiro, pega referências de diversos títulos semelhantes – e o resultado, por mais convencional que seja, é exatamente o que esperamos de uma produção como essa. Porchat emerge nas telonas como uma força incomparável que posa como exagerado no primeiro e no segundo atos do filme, e que abre espaço para uma versatilidade dramática de tirar o fôlego. O ator também nutre de uma química bastante visível com Sandy, que soa um tanto quanto “desengonçada” nos primeiros minutos apenas para se soltar à medida que se engolfa na confortabilidade de sua personagem. Através de uma hora e quarenta de duração, Antônio e sua equipe nos carregam em uma aventura pelos ônus e bônus do amor que tornam essa experiência individual em uma universalização sentimental para com o público.

São vários os elementos que se sobressaem no projeto e que nos surpreendem pelo modo como são tratados. De um lado, temos a fotografia certeira de Pedro Faestein e a montagem convincente de Zaga Marteletto, ambos unindo forças em prol de um propósito em comum: a ideia é não deixar se levar pela costumeira edição frenética de títulos do gênero, e sim focar na parte humana da história e de que forma navegamos pela dor da perda e pela frustração da solidão compulsória. Em comparação, a utilização de um filtro azulado e melancólico condiz com a jornada de Marco Antônio, que não é tratado como herói ou vítima, e sim como alguém com complexo de superioridade que não consegue perceber os erros que cometeu – e que precisa absorvê-los para descobrir o motivo de ter sido deixado por Laura. É claro que, aqui e ali, o coming-of-age do personagem é pincelada com tons vibrantes e coloridos (mas nada que fuja do esperado).

O diretor também preza por algo similar ao tentar se esquivar dos costumeiros jogos de campo-contracampo, optando por investidas mais conceituais – inclusive quando elas se destinam à viagem no tempo de Marco Antônio e à percepção de que ele está preso em um ciclo sem fim que só pode ser quebrado de uma maneira. Mais do que isso, ele promove uma singela carta de amor ao próprio cinema ao trazer às sequências inúmeras referências da cultura pop que fazem parte das quebras de expectativa e dos tocantes momentos de drama. E, nesse meio-tempo, temos a presença de Evelyn Castro em uma atuação simplesmente sensacional como Júlia, zeladora e dona do edifício em que o protagonista mora e que se torna engrenagem essencial da trama ao insurgir como escape cômico e confidente de Marco.

Não podemos deixar de comentar os clichês que pululam na estrutura técnica e criativa do longa-metragem, como diálogos previsíveis e uma conclusão bastante esperada, bem como de uma espécie de triângulo amoroso que não consegue fugir da superficialidade. Não obstante os equívocos, o projeto se leva com tanta fluidez e humildade que não temos mais nada a fazer além de varrê-los para debaixo do tapete e desfrutar dessa evasão artística que é firmada com tanto carinho.

Evidências do Amor tinha tudo para estar fadado ao fracasso e ser caracterizado como mais uma rom-com esquecível do escopo nacional da sétima arte. Mas as surpresas que carrega consigo o sagram como um título que cumpre com o prometido sem querer dar um passo maior que a perna – e que, no final das contas, faz até os mais céticos acreditarem na possibilidade de um amor eterno.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Um dos comediantes de maior sucesso do cenário do entretenimento é Fábio Porchat – que nos convida para a aguardada dramédia romântica Evidências do Amor. Co-assinando o roteiro e co-protagonizando o projeto ao lado de Sandy Leah, Porchat abre espaço para uma história que acompanha dois amantes que se conhecem em um karaokê cantando a clássica canção “Evidências”, eternizada pela dupla Chitãozinho e Xororó, desfrutando de um amor aparentemente eterno. Todavia, o que é bom dura pouco e, sem mais nem menos, o casal rompe – e Marco Antônio (Porchat) começa a ser atormentado pela música supracitada, mas não do jeito que esperamos: toda vez que ele a ouve, é transportado para uma memória ruim que compartilha com a ex, Laura, talvez como forma de punição, talvez para entender alguma coisa que não compreende.

É notável como a atmosfera arquitetada pelo diretor Pedro Antônio, que também empresta suas habilidades à construção do roteiro, pega referências de diversos títulos semelhantes – e o resultado, por mais convencional que seja, é exatamente o que esperamos de uma produção como essa. Porchat emerge nas telonas como uma força incomparável que posa como exagerado no primeiro e no segundo atos do filme, e que abre espaço para uma versatilidade dramática de tirar o fôlego. O ator também nutre de uma química bastante visível com Sandy, que soa um tanto quanto “desengonçada” nos primeiros minutos apenas para se soltar à medida que se engolfa na confortabilidade de sua personagem. Através de uma hora e quarenta de duração, Antônio e sua equipe nos carregam em uma aventura pelos ônus e bônus do amor que tornam essa experiência individual em uma universalização sentimental para com o público.

São vários os elementos que se sobressaem no projeto e que nos surpreendem pelo modo como são tratados. De um lado, temos a fotografia certeira de Pedro Faestein e a montagem convincente de Zaga Marteletto, ambos unindo forças em prol de um propósito em comum: a ideia é não deixar se levar pela costumeira edição frenética de títulos do gênero, e sim focar na parte humana da história e de que forma navegamos pela dor da perda e pela frustração da solidão compulsória. Em comparação, a utilização de um filtro azulado e melancólico condiz com a jornada de Marco Antônio, que não é tratado como herói ou vítima, e sim como alguém com complexo de superioridade que não consegue perceber os erros que cometeu – e que precisa absorvê-los para descobrir o motivo de ter sido deixado por Laura. É claro que, aqui e ali, o coming-of-age do personagem é pincelada com tons vibrantes e coloridos (mas nada que fuja do esperado).

O diretor também preza por algo similar ao tentar se esquivar dos costumeiros jogos de campo-contracampo, optando por investidas mais conceituais – inclusive quando elas se destinam à viagem no tempo de Marco Antônio e à percepção de que ele está preso em um ciclo sem fim que só pode ser quebrado de uma maneira. Mais do que isso, ele promove uma singela carta de amor ao próprio cinema ao trazer às sequências inúmeras referências da cultura pop que fazem parte das quebras de expectativa e dos tocantes momentos de drama. E, nesse meio-tempo, temos a presença de Evelyn Castro em uma atuação simplesmente sensacional como Júlia, zeladora e dona do edifício em que o protagonista mora e que se torna engrenagem essencial da trama ao insurgir como escape cômico e confidente de Marco.

Não podemos deixar de comentar os clichês que pululam na estrutura técnica e criativa do longa-metragem, como diálogos previsíveis e uma conclusão bastante esperada, bem como de uma espécie de triângulo amoroso que não consegue fugir da superficialidade. Não obstante os equívocos, o projeto se leva com tanta fluidez e humildade que não temos mais nada a fazer além de varrê-los para debaixo do tapete e desfrutar dessa evasão artística que é firmada com tanto carinho.

Evidências do Amor tinha tudo para estar fadado ao fracasso e ser caracterizado como mais uma rom-com esquecível do escopo nacional da sétima arte. Mas as surpresas que carrega consigo o sagram como um título que cumpre com o prometido sem querer dar um passo maior que a perna – e que, no final das contas, faz até os mais céticos acreditarem na possibilidade de um amor eterno.

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