Como Nossas Mães
Uma das rainhas das comédias nacionais na atualidade (ou “a”), a humorista Ingrid Guimarães bate ponto todo ano, protagonizando filmes de grande visibilidade. E para nós, quanto mais melhor! Isso porque ao contrário da maioria no segmento, que tomam conta de nossas salas, os filmes da atriz se empenham em injetar uma trama convincente nas dezenas de piadas que recheiam a tela. E esse esforço a mais faz toda a diferença.
Aqui, Guimarães é servida pelo texto da autora sensação Thalita Rebouças (que também assina o roteiro em parceria com a própria protagonista), uma especialista em dialogar com o público adolescente. Além desta parceria, existe outra exponencialmente significativa em Fala Sério, Mãe!, sua coprotagonista mirim, a jovem – não menos sensação – Larissa Manoela. Esta, no entanto, é a história de Ângela (Guimarães), e suas desventuras pela maternidade – mesmo que muitas vezes narradas por sua primogênita Malu (Manoela).
Fala Sério, Mãe! segue de perto todos os percalços de uma mulher quando se torna mãe e precisa abrir mão de sua própria vida em nome da cria. É o passar do bastão e receber a velhice de braços abertos. Mãe preocupada e extremamente coruja, a protagonista se torna um inconveniente na vida de sua filha mais velha, que agora adentra a adolescência e precisa descobrir por conta própria todas as etapas desta mudança rumo a se tornar mulher.
O filme cria uma boa conexão com seu público e promete inclusive emocionar as mamães na plateia, principalmente as que tiverem filhos se encaminhando ou já predominando nesta fase. O interessante é que quando o longa produzido por André Carreira (O Candidato Honesto) e dirigido por Pedro Vasconcelos (O Concurso) desenvolve o embate entre a mãe sufocadora e a filha oprimida, ele já conquistou anteriormente o direito para criarmos empatia com a sofrida matriarca, já que o filme narra de forma cronológica os acontecimentos na vida da protagonista, desde sua primeira gravidez – num total de três – passando pela infância da primogênita (na qual é interpretada por Duda Batista) – e chegando a perdas mais significativas nesta estrutura familiar, como a separação do marido.
Assim, o filme escreve sua carta de amor às mães, estruturalmente semelhante a obras da década de 1970, onde o índice de divórcios crescia e dava origem a famílias encabeçadas por jovens mulheres solteiras, sem a figura masculina presente como respaldo, como ocorria no passado. Estas mulheres guerreiras já foram foco de diversas produções e merecem ser lembradas constantemente, em especial numa época onde a mulher é cada vez mais independente e dona de sua própria vida. Assim como o grandioso sucesso de nosso cinema – que pode ser considerado um blockbuster tupiniquim – Minha Mãe é uma Peça, temos a figura materna como fonte de intermináveis humilhações para seus filhos. Não por acaso, Paulo Gustavo, vulgo Dona Hermínia, faz uma participação especial aqui.
Mesmo sem trazer grandes novidades em seu discurso, e fazendo uso de um tempo de duração verdadeiramente curto – com 78 minutos de projeção –Fala Sério, Mãe! é honesto o suficiente para dar o recado a seu público-alvo e criar identificação. Ingrid Guimarães faz mais do que apenas desferir piadas, atua de verdade (o potencial da humorista é o de uma grande atriz) e alcança notas satisfatórias na parte dramática. Além disso, cria uma boa química com a menina Manoela, que segue pelo mesmo caminho, com certeza aprendendo bastante com a veterana. Fala Sério, Mãe! é o programa ideal para filhas e mães neste fim de ano.