quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Fargo 1ª Temporada – Os irmãos Coen alongam seu filme para 10 Horas

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Uma Comédia de Erros

Ao contrário do que muitos possam pensar, não foi a Marvel, a DC, ou qualquer outro blockbuster que inventou as referências no cinema. De fato, as referências cinematográficas existem desde os primórdios da sétima arte e podem vir nas mais variadas formas: seja interligando obras dentro da filmografia de um diretor autoral – até mesmo pelos temas utilizados recorrentemente (vide, Alfred Hitchcock, Roman Polanski e Woody Allen), ou cineastas homenageando o cinema de seus ídolos e colegas em seus filmes (vide Martin Scorsese, Steven Spielberg e Quentin Tarantino); só para citar alguns.

As referências, é claro, também existem em programas de TV – alguns dos maiores sucessos atuais inclusive são totalmente baseados nisso, vide Stranger Things. Tudo, para chegarmos a Fargo: A Série, produção da MGM e do canal FX, cujas três temporadas (2014, 2015 e 2017) a Netflix disponibilizou recentemente em sua plataforma, fazendo a alegria dos fãs deste que é um dos programas mais premiados da atualidade. E se você já tinha a impressão de ter escutado este título antes, mesmo sem saber exatamente o que é, você não está errado. Para esclarecer o enigma basta saber o nome dos produtores aqui, Joel e Ethan Coen, os irmãos Coen. Fargo, obviamente, é o título de um dos, senão o maior sucesso de suas carreiras.



Fargo: Uma Comédia de Erros (1996), baseado numa incrível história de crime real, ganhou o mundo, foi indicado para sete prêmios no Oscar, incluindo melhor filme (numa era em que apenas 5 filmes entravam), e venceu dois – melhor atriz para Frances McDormand e melhor roteiro para os Coen. Além disso, o filme consta em número 160 na lista dos favoritos de todos os tempos do grande público.

Os Coen então decidiram estrear na telinha produzindo a versão seriada deste enorme sucesso de crítica. E o que vemos no programa é um filhote derivado do longa, que segue uma premissa muito similar, homenageando e respeitando seu precursor, e banhando o texto de referências. O ponto chave de Fargo, tanto o filme quanto esta primeira temporada – lembrando que neste texto apenas a primeira temporada da série será analisada – é a inocência de uma pacata cidadezinha localizada na Dakota do Norte, nos EUA, seus moradores, e inclusive sua força policial, muitas vezes despreparada para lidar com ameaças exteriores, já que no local nada acontece. Além disso, temos o clima extremamente frio, muita neve, rios congelados, como alguns dos personagens principais, interferindo com a trama.

A série também é baseada em uma inacreditável história real, ocorrida em 2006. E apesar de serem tramas distintas, sentimos a proximidade entre as obras, vindas não somente da localidade e clima, mas de personagens e suas subtramas. Por exemplo, se no longa tínhamos a intrépida Marge Gunderson (McDormand), a policial grávida que ninguém leva a sério, mas é a pessoa mais inteligente do local, aqui temos Molly Solverson, vivida pela carismática Allison Tolman, que desempenha basicamente a mesma função – e no fim fica até mesmo grávida, rebuscando ainda mais as semelhanças.  Além disso, temos também o pacato cidadão acima de qualquer suspeita, metido no mais hediondo dos crimes – no longa o Jerry Lundegaard, de William H. Macy, e na série o Lester Nygaard, de Martin Freeman.

O elenco é de peso, todos ganham destaque e entregam boas atuações. Além dos citados Freeman (ótimo aqui) e Tolman (a alma da temporada), Colin Hanks, Bob Odenkirk, Keith Carradine, Kate Walsh, Joey King, entre outros, desfilam em tela. É claro que eu não podia deixar de citar a participação premiada de Billy Bob Thornton, cujo assassino de aluguel Lorne Malvo chega como grande diferencial narrativo entre filme e série. O personagem é a novidade aqui, que tira a estrutura esperada dos trilhos, traduzindo em inovação.

Ainda na parte do elenco, toda a subtrama envolvendo o personagem de Oliver Platt, um imigrante russo que tira a sorte grande ao achar uma mala recheada de dinheiro enterrada na neve, após ficar sem gasolina e quase matar sua família congelada, é outro toque especial na série. Os fãs do filme Fargo e dos irmãos Coen já devem ter pescado a referência aqui. Uma mala cheia de dinheiro, deixada enterrada no gelo, perto de uma cerca. Bem, quem conhece o filme sabe que este é o McGuffin no longa, o que transforma este seriado em uma espécie de continuação direta do Fargo original.

Para os fãs de Corra! e de seu criador, o humorista Jordan Peele, Fargo reserva ainda outra surpresa. O próprio Peele, ao lado de seu parceiro recorrente no humor, o comediante e ator Keegan-Michael Key, dão as caras trazendo gás aos últimos episódios, nas peles de dois atrapalhados agentes do FBI. E a palavra de ordem aqui, seguindo “a comédia de erros” do filme, é “criminosos e policiais confusos e desajeitados”.

Fargo é um pequeno deleite para os aficionados não apenas pelo filme original, mas pela filmografia dos Coen. Aqui temos de tudo, desde o preço de White Russians na parede de restaurantes (a bebida preferida de Jeff ‘The Dude’ Bridges em O Grande Lebowski), inúmeros diálogos ameaçadores entre atendentes e assassinos (Onde os Fracos Não Tem Vez) e professores de academia navegando águas mais turbulentas do que seus intelectos permitem (Queime Depois de Ler) – isso apenas para citar os principais. A primeira temporada de Fargo é uma obra nova e autoral, mas com fortíssimos laços que a prendem à mitologia “Coeniana”. É muito bom ver a migração satisfatória de artistas conceituados entre mídias. Melhor ainda é saber o que eles confeccionaram a partir da segunda temporada, com as amarras totalmente soltas. Em breve falaremos sobre ela, fiquem ligados.

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As referências, é claro, também existem em programas de TV – alguns dos maiores sucessos atuais inclusive são totalmente baseados nisso, vide Stranger Things. Tudo, para chegarmos a Fargo: A Série, produção da MGM e do canal FX, cujas três temporadas (2014, 2015 e 2017) a Netflix disponibilizou recentemente em sua plataforma, fazendo a alegria dos fãs deste que é um dos programas mais premiados da atualidade. E se você já tinha a impressão de ter escutado este título antes, mesmo sem saber exatamente o que é, você não está errado. Para esclarecer o enigma basta saber o nome dos produtores aqui, Joel e Ethan Coen, os irmãos Coen. Fargo, obviamente, é o título de um dos, senão o maior sucesso de suas carreiras.

Fargo: Uma Comédia de Erros (1996), baseado numa incrível história de crime real, ganhou o mundo, foi indicado para sete prêmios no Oscar, incluindo melhor filme (numa era em que apenas 5 filmes entravam), e venceu dois – melhor atriz para Frances McDormand e melhor roteiro para os Coen. Além disso, o filme consta em número 160 na lista dos favoritos de todos os tempos do grande público.

Os Coen então decidiram estrear na telinha produzindo a versão seriada deste enorme sucesso de crítica. E o que vemos no programa é um filhote derivado do longa, que segue uma premissa muito similar, homenageando e respeitando seu precursor, e banhando o texto de referências. O ponto chave de Fargo, tanto o filme quanto esta primeira temporada – lembrando que neste texto apenas a primeira temporada da série será analisada – é a inocência de uma pacata cidadezinha localizada na Dakota do Norte, nos EUA, seus moradores, e inclusive sua força policial, muitas vezes despreparada para lidar com ameaças exteriores, já que no local nada acontece. Além disso, temos o clima extremamente frio, muita neve, rios congelados, como alguns dos personagens principais, interferindo com a trama.

A série também é baseada em uma inacreditável história real, ocorrida em 2006. E apesar de serem tramas distintas, sentimos a proximidade entre as obras, vindas não somente da localidade e clima, mas de personagens e suas subtramas. Por exemplo, se no longa tínhamos a intrépida Marge Gunderson (McDormand), a policial grávida que ninguém leva a sério, mas é a pessoa mais inteligente do local, aqui temos Molly Solverson, vivida pela carismática Allison Tolman, que desempenha basicamente a mesma função – e no fim fica até mesmo grávida, rebuscando ainda mais as semelhanças.  Além disso, temos também o pacato cidadão acima de qualquer suspeita, metido no mais hediondo dos crimes – no longa o Jerry Lundegaard, de William H. Macy, e na série o Lester Nygaard, de Martin Freeman.

O elenco é de peso, todos ganham destaque e entregam boas atuações. Além dos citados Freeman (ótimo aqui) e Tolman (a alma da temporada), Colin Hanks, Bob Odenkirk, Keith Carradine, Kate Walsh, Joey King, entre outros, desfilam em tela. É claro que eu não podia deixar de citar a participação premiada de Billy Bob Thornton, cujo assassino de aluguel Lorne Malvo chega como grande diferencial narrativo entre filme e série. O personagem é a novidade aqui, que tira a estrutura esperada dos trilhos, traduzindo em inovação.

Ainda na parte do elenco, toda a subtrama envolvendo o personagem de Oliver Platt, um imigrante russo que tira a sorte grande ao achar uma mala recheada de dinheiro enterrada na neve, após ficar sem gasolina e quase matar sua família congelada, é outro toque especial na série. Os fãs do filme Fargo e dos irmãos Coen já devem ter pescado a referência aqui. Uma mala cheia de dinheiro, deixada enterrada no gelo, perto de uma cerca. Bem, quem conhece o filme sabe que este é o McGuffin no longa, o que transforma este seriado em uma espécie de continuação direta do Fargo original.

Para os fãs de Corra! e de seu criador, o humorista Jordan Peele, Fargo reserva ainda outra surpresa. O próprio Peele, ao lado de seu parceiro recorrente no humor, o comediante e ator Keegan-Michael Key, dão as caras trazendo gás aos últimos episódios, nas peles de dois atrapalhados agentes do FBI. E a palavra de ordem aqui, seguindo “a comédia de erros” do filme, é “criminosos e policiais confusos e desajeitados”.

Fargo é um pequeno deleite para os aficionados não apenas pelo filme original, mas pela filmografia dos Coen. Aqui temos de tudo, desde o preço de White Russians na parede de restaurantes (a bebida preferida de Jeff ‘The Dude’ Bridges em O Grande Lebowski), inúmeros diálogos ameaçadores entre atendentes e assassinos (Onde os Fracos Não Tem Vez) e professores de academia navegando águas mais turbulentas do que seus intelectos permitem (Queime Depois de Ler) – isso apenas para citar os principais. A primeira temporada de Fargo é uma obra nova e autoral, mas com fortíssimos laços que a prendem à mitologia “Coeniana”. É muito bom ver a migração satisfatória de artistas conceituados entre mídias. Melhor ainda é saber o que eles confeccionaram a partir da segunda temporada, com as amarras totalmente soltas. Em breve falaremos sobre ela, fiquem ligados.

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