domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Fátima: A História de um Milagre – Um filme bem realizado que funciona para o público alvo

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De muitos locais históricos religiosos visitados na Europa, a cidade de Fátima, em Portugal, ainda é um dos mais frequentados por católicos e fiéis do mundo todo, em suas peregrinações. Para quem não conhece essa história, foi lá que, em 1917, três crianças que pastoravam ovelhas, num campo aberto em Coimbra, tiveram uma visão celestial da Virgem Maria, interpretada pela atriz portuguesa Joana Ribeiro, mais conhecida por participar de O Homem que Matou Don Quixote, de Terry Gilliam. Segundo os meninos, a aparição trazia a santa toda vestida de branco e descalça. Anos depois esse encontro foi considerado um milagre pela Igreja Católica, sendo geralmente relembrado décadas depois.

Ainda nesse encontro, a criança mais velha, Lúcia (Stephanie Gil), foi a principal receptora dos conselhos da santa, tendo a função de trazer a paz para a população naquele momento de conflito do lugar que morava. Algo fundamental para uma época de grande turbulência, pois Portugal tinha, recentemente, se tornado uma república após a revolução e o país estava completamente envolvido no meio da Primeira Guerra Mundial, onde vários jovens morriam em batalhas. Seus nomes, inclusive, eram lidos pelo prefeito, em plena praça pública, para o conhecimento das famílias. E no intuito de anteceder por eles, Lúcia diz que a Virgem Maria iria aparecer uma vez por mês naquele lugar – justamente o fato que fez, no futuro muitos, se reunirem por lá.



No entanto, mesmo as famílias tentando manter aquilo em segredo, quando as pessoas ficaram sabendo a respeito das visões, houve na época a oposição da própria mãe de Lúcia (Lúcia Moniz) à igreja do Padre Ferreira (Joaquim de Almeida) ou mesmo ao prefeito Artur (Goran Visnjic). Ignorando todo conflito, Lúcia segue firme com sua missão advinda do acontecimento extraordinário, e, à medida que a notícia se espalha pela cidade, os fiéis começam a chegar para ver a garota que consegue falar com a Virgem e serem assim abençoados, embora só Lúcia possa ver a santa.

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A trama de Fátima: A História de um Milagre segue então os relatos históricos que temos hoje através de flashbacks que são intercalados por cenas que se passam em 1989, com o professor Nichols, que ganha vida por um Harvey Keitel que não dava as caras desde sua participação em O Irlandês (2019), que entrevista em um convento a agora freira idosa Lúcia (a verdadeira morreu em 2005 com 97 anos), que em sua versão adulta é vivida pela sempre espetacular Sonia Braga. A conversa não chega a ser tão interessante como aquela que vemos em Dois Papas (2019), mas traz um debate curioso pelos pontos de vista dos dois serem bastante díspares em relação a religião, ainda que mantenham um mútuo respeito.

Esteticamente o filme tenta distinguir as duas épocas através de tonalidades dessemelhantes. Enquanto o presente é mais vivido e tematicamente cético, o passado é contrastado por uma cor meio sépia com gradação rosada, imprimindo uma espécie de aura mágica. E é nesse recorte que a ação realmente acontece, pois os atores mais experientes mantêm o ritmo, e o elenco principal europeu tem a função de executar as ações para o caminhar da narrativa. Visualmente Fátima também é um primor. A cinematografia do diretor italiano Marco Pontecorvo é acertada ao criar planos que parecem quadros da renascença – e pra quem ainda não está ligando o nome à figura, Marco é filho de Gillo Pontecorvo, diretor do clássico ítalo-argelino A Batalha de Argel (1966), obra bastante influenciada pelo movimento do Neorrealismo.

Talvez a credibilidade de vários andamentos, principalmente os que possuem mais diálogos, caia por terra, isso pelo idioma escolhido ser inteiramente o inglês, onde percebemos alguns atores que fazem personagens da mesma região com sotaques diferentes, com uns puxando para o dialeto americano e outros para o europeu. Como falamos, do ponto de vista visual, Fátima é bem bonito, porém o momento mágico da visão é prejudicado por uma cena digital pobre, que poderia ser melhor pensada. Da mesma maneira, ainda que tente passar os relatos de forma mais “realista”, este é claramente um filme direcionado para um público específico e disposto a entender o contexto e importância daquela história. Uma coisa é certa, Fátima é uma obra competente naquilo que se propõe ser.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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De muitos locais históricos religiosos visitados na Europa, a cidade de Fátima, em Portugal, ainda é um dos mais frequentados por católicos e fiéis do mundo todo, em suas peregrinações. Para quem não conhece essa história, foi lá que, em 1917, três crianças que pastoravam ovelhas, num campo aberto em Coimbra, tiveram uma visão celestial da Virgem Maria, interpretada pela atriz portuguesa Joana Ribeiro, mais conhecida por participar de O Homem que Matou Don Quixote, de Terry Gilliam. Segundo os meninos, a aparição trazia a santa toda vestida de branco e descalça. Anos depois esse encontro foi considerado um milagre pela Igreja Católica, sendo geralmente relembrado décadas depois.

Ainda nesse encontro, a criança mais velha, Lúcia (Stephanie Gil), foi a principal receptora dos conselhos da santa, tendo a função de trazer a paz para a população naquele momento de conflito do lugar que morava. Algo fundamental para uma época de grande turbulência, pois Portugal tinha, recentemente, se tornado uma república após a revolução e o país estava completamente envolvido no meio da Primeira Guerra Mundial, onde vários jovens morriam em batalhas. Seus nomes, inclusive, eram lidos pelo prefeito, em plena praça pública, para o conhecimento das famílias. E no intuito de anteceder por eles, Lúcia diz que a Virgem Maria iria aparecer uma vez por mês naquele lugar – justamente o fato que fez, no futuro muitos, se reunirem por lá.

No entanto, mesmo as famílias tentando manter aquilo em segredo, quando as pessoas ficaram sabendo a respeito das visões, houve na época a oposição da própria mãe de Lúcia (Lúcia Moniz) à igreja do Padre Ferreira (Joaquim de Almeida) ou mesmo ao prefeito Artur (Goran Visnjic). Ignorando todo conflito, Lúcia segue firme com sua missão advinda do acontecimento extraordinário, e, à medida que a notícia se espalha pela cidade, os fiéis começam a chegar para ver a garota que consegue falar com a Virgem e serem assim abençoados, embora só Lúcia possa ver a santa.

A trama de Fátima: A História de um Milagre segue então os relatos históricos que temos hoje através de flashbacks que são intercalados por cenas que se passam em 1989, com o professor Nichols, que ganha vida por um Harvey Keitel que não dava as caras desde sua participação em O Irlandês (2019), que entrevista em um convento a agora freira idosa Lúcia (a verdadeira morreu em 2005 com 97 anos), que em sua versão adulta é vivida pela sempre espetacular Sonia Braga. A conversa não chega a ser tão interessante como aquela que vemos em Dois Papas (2019), mas traz um debate curioso pelos pontos de vista dos dois serem bastante díspares em relação a religião, ainda que mantenham um mútuo respeito.

Esteticamente o filme tenta distinguir as duas épocas através de tonalidades dessemelhantes. Enquanto o presente é mais vivido e tematicamente cético, o passado é contrastado por uma cor meio sépia com gradação rosada, imprimindo uma espécie de aura mágica. E é nesse recorte que a ação realmente acontece, pois os atores mais experientes mantêm o ritmo, e o elenco principal europeu tem a função de executar as ações para o caminhar da narrativa. Visualmente Fátima também é um primor. A cinematografia do diretor italiano Marco Pontecorvo é acertada ao criar planos que parecem quadros da renascença – e pra quem ainda não está ligando o nome à figura, Marco é filho de Gillo Pontecorvo, diretor do clássico ítalo-argelino A Batalha de Argel (1966), obra bastante influenciada pelo movimento do Neorrealismo.

Talvez a credibilidade de vários andamentos, principalmente os que possuem mais diálogos, caia por terra, isso pelo idioma escolhido ser inteiramente o inglês, onde percebemos alguns atores que fazem personagens da mesma região com sotaques diferentes, com uns puxando para o dialeto americano e outros para o europeu. Como falamos, do ponto de vista visual, Fátima é bem bonito, porém o momento mágico da visão é prejudicado por uma cena digital pobre, que poderia ser melhor pensada. Da mesma maneira, ainda que tente passar os relatos de forma mais “realista”, este é claramente um filme direcionado para um público específico e disposto a entender o contexto e importância daquela história. Uma coisa é certa, Fátima é uma obra competente naquilo que se propõe ser.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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